29 de janeiro de 2010

BULLIYNG NO COLÉGIO NAVAL: MPM QUER ABERTURA DE IPM

O Ministério Público Militar (MPM) enviou nesta quinta-feira (28) um ofício ao 1º Distrito Naval pedindo informações sobre o caso de um estudante de 15 anos que teria sido vítima de humilhações e maus tratos no Colégio Naval de Angra, no Sul Fluminense. O MPM também questionou se já foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM), e pede que, caso isso não tenha sido feito, que seja instaurado imediatamente.
Nesse mesmo ofício, o Ministério Público Militar cobra esclarecimentos sobre a internação e o estado de saúde do estudante. De acordo com o órgão, as primeiras medidas já foram tomadas e o caso já está sendo investigado.
O rapaz está internado na Unidade de Saúde Mental da Marinha, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, por suspeita de ter sofrido bullying – termo usado quando um grupo intimida e agride uma pessoa causando humilhação e violência. De acordo com a mãe da vítima, a ação teria partido de colegas e oficiais durante os treinamentos.
Em nota, o assessor de comunicação do 1º Distrito Naval da Marinha, comandante Paulo Fernando Amorim de Campos, negou as acusações. Ele disse que, devido a limitações legais, por ser um caso de saúde envolvendo um menor de idade, a Marinha não vai dar entrevista sobre o assunto. Mas divulgou que “o referido candidato participou de todas as atividades com os demais candidatos, sem reportar qualquer queixa, tendo requerido sua desistência do Colégio Naval por vontade própria".
Além disso, a Marinha disse ainda que o estudante foi encaminhado para o atendimento especializado por orientação médica .
A Justiça Militar quer, ainda, que o estudante seja ouvido. Até o início da noite desta quinta, segundo o órgão, o MPM não tinha sido procurado por nenhum parente do estudante. A Defensoria Púbica também está investigando o caso.
O caso
A mãe do estudante contou que ele sempre sonhou em entrar para o Colégio Naval em Angra dos Reis. Segundo ela, no dia 17 de janeiro o filho foi para o colégio para passar duas semanas de adaptação. Nos dias 19 e 20, ele teria ligado para pedir pertences e estaria muito agitado, dizendo para a mãe não ligar para o colégio.
No dia 21, ainda de acordo com a mãe do estudante, o capitão do Colégio Naval ligou e disse que o menino estaria nervoso, querendo desistir da escola. Ela falou com o filho, que teria chorado muito ao telefone.
Na última sexta-feira (22), a mãe recebeu outra ligação do colégio. O aluno estaria descontrolado e eles tiveram que sedá-lo. A família, então, foi chamada à escola. No dia seguinte, sábado (23), a mãe disse que encontrou com o filho e levou um susto.
“Ele estava com muito medo, muito assustado, dizendo que os militares estavam perseguindo a gente, que iam matar a gente”, contou ela.
No domingo (24), a mãe exigiu que o menino fosse transferido para um hospital militar e o jovem foi levado para o Hospital da Marinha, em Jacarepaguá. O estudante está medicado e, segundo a mãe, não há previsão de alta. Já no hospital, o menino contou à família que teria sido humilhado e ridicularizado no colégio por alunos veteranos e também por oficiais. 
Bullying
A mãe disse que ele ouvia dos acusados: “você é covarde. Você não agüenta? Pede para sair. Filhinho da mamãe, mariquinha”. Ela diz estar preocupada porque o filho está internado numa ala com doentes mentais crônicos.
Ela procurou a Defensoria Pública da União, que já pediu à Marinha "esclarecimentos sobre o estado de saúde do aluno" e, por ser menor de idade, "requisitou a transferência dele para uma unidade de tratamento regular".
De acordo com o pediatra Aramis Lopes Neto, o espaço de tempo foi curto para o jovem apresentar esse quadro e, por isso, o estudante poderia ter uma predisposição para sofrer o surto: “Isso pode ter desencadeado realmente um quadro de pânico e de desespero e esse surto psicótico, segundo o diagnóstico dado, pode ter sido precipitado pela situação de bullying. Mas é possível que esse rapaz já tivesse alguns sinais anteriores a essa agressão que ele sofreu dentro da escola”.
Entretanto, o médico ressaltou que se a violência foi explícita, pode ter gerado esse tipo de reação em pouco de tempo. 
Comento: 
Podemos analisar o caso sob dois prismas. 
Primeiro, a notória incapacidade da maioria dos civis em entender que estrelas e divisas não são coladas na farda com cuspe, elas são conquistadas arduamente, mercê de muitos sacrifícios. A pressão psicológica é inerente a qualquer curso de formação militar que se preze, notadamente quando se destina a formar profissionais, os oficiais e sargentos de carreira. A pressão é comum, nas primeiras semanas, para que o candidato mostre se realmente tem pendor para a carreira militar. Muitos não aguentam e são comuns as desistências logo no início, o que, convenhamos, é melhor para todos, candidatos e instituições.
O outro lado da questão é a falta de profissionalismo de alguns intrutores, cujo despreparo, muitas vezes,  coloca a perder um potencialmente bom profissional, pelos exageros cometidos e, principalmente, pela incapacidade em demonstrar ao instruendo o objetivo de ações desse tipo. O bom instrutor não executa ações desnecessárias e descabidas, nem tampouco demonstra descontrole perante os instruendos. Ao contrário, ele o respeita como pessoa e jamais fere sua dignidade. Instrutor competente é aquele que faz com que o aluno tenha sempre presente que determinada situação, por mais penosa que seja, faz parte de um planejamento criterioso e visa a sua formação profissional. Infelizmente, alguns militares mal preparados deixam o profissionalismo de lado e descambam para o exagero, que pode acabar em desvairio, responsável por  excessos de consequencias, por vezes, muito graves. Tais atitudes enxovalham a imagem das Forças Armadas e devem ser punidas com rigor.