Com palavras fortes ao garantir que a segurança no Haiti está sob controle, porém emocionado ao lembrar que escapou por pouco de estar entre as vítimas do tremor, o comandante geral da Minustah, general Floriano Peixoto Vieira Neto, recebeu ontem quatro veículos de comunicação brasileiros, entre eles Zero Hora. Mineiro, ele comanda a força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país desde junho passado, depois que substituiu o gaúcho Santos Cruz. Na prática, é uma das maiores autoridades no Haiti, já que é desconhecido o local de onde o presidente René Préval está despachando – o Palácio Presidencial foi destruído. No dia do terremoto, Peixoto estava de férias em Miami. Regressou às pressas ao Haiti. Na entrevista, ele admitiu que o terremoto fez o Haiti retroceder às condições de instabilidade anteriores à chegada das tropas, em 2004.
Pergunta – O senhor afirma que o país irá retroceder seis anos. Está falando de segurança e economia?
Floriano Peixoto – Em termos de infraestrutura, de funcionamento das instituições. O Estado tem de recompor a sua capacidade operativa para iniciar um trabalho de reconstrução.
Pergunta – Uma das maiores vitórias do Brasil no Haiti era justamente na área da segurança. Volta-se a 2004?
Peixoto – Não posso, não quero afirmar isso e nem quero que ocorra. Estou trazendo forças de fora de Porto Príncipe, 200 militares, para aumentar a nossa capacidade. Estamos conscientes dessa possibilidade. Se necessário, vou acrescentar tropas da Argentina e do Uruguai, que estão em outras regiões.
Pergunta – Foram divulgadas declarações de Hillary Clinton, secretária de Estado americana, pedindo que a coordenação da segurança do Haiti seja repassada aos EUA. Isso deixaria os americanos em rota de colisão com a Minustah?
Floriano Peixoto – Desconheço estas afirmações, e estamos aqui para cumprir as determinações do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O que o Conselho julgar conveniente, em consulta com os países membros, vamos cumprir.
Pergunta – O Brasil planeja enviar mais militares para o Haiti em razão da tragédia, aumentando o efetivo?
Floriano Peixoto – A decisão do Brasil de trazer mais tropas para o Haiti caberá ao Ministério das Relações Exteriores. No momento, não vejo esta necessidade.
Pergunta – Por que os EUA estão controlando o aeroporto de Porto Príncipe e não permitiram o pouso de um avião da FAB? Também há informação de que os americanos estariam priorizando a retirada de seus cidadãos do país.
Floriano Peixoto – Não estou aqui para fazer defesa ou acusação. O controle americano do aeroporto resultou de um acordo solicitado pelo governo haitiano, que é soberano, junto ao governo dos EUA. O atraso nos voos deveu-se ao fluxo muito grande de (voos) de países que estavam tentando enviar ajuda humanitária ao Haiti.