28 de janeiro de 2010

HAITI: GENERAL ENTRA NA ONDA DO "MEGALONANICO" AMORIM

Exageros no Haiti

Autoridades brasileiras deveriam ser comedidas na ânsia de propagandear e adular o chefe

(Editorial de O Globo)

Os adversários são os primeiros a reconhecer a especial aptidão do PT para a propaganda e o marketing. Fatos positivos de seus governos são "vendidos" como se mais valiosos fossem, e fracassos costumam ser encobertos por uma cortina espessa de declarações e desmentidos veementes.

Tucanos chegam a lamentar, em contraposição, a falta de traquejo do PSDB para falar da própria folha de serviço. A ponto de algumas pesquisas creditarem o controle da inflação e a estabilidade econômica a Lula, quando ele e o PT foram contra o Plano Real. É tão forte este traço nos petistas que até a política externa brasileira, de longa tradição, com ritos e costumes consolidados, terminou contaminada por essa cultura. É o que ficou evidente na reação do general brasileiro Floriano Peixoto, comandante-geral da missão da ONU no Haiti, quando as tropas americanas começaram a distribuir alimentos em Porto Príncipe. Incomodado, o general mobilizou suas tropas, ornamentou veículos com bandeiras do Brasil, e tratou de pessoalmente comandar também uma distribuição de alimentos, enquanto pedia a fotógrafos para registrar a operação.

Embora também possa haver na reação do general um traço do conhecido complexo de inferioridade brasileiro diante de ricos em geral e americanos em particular, a intenção propagandística da mobilização de soldados foi clara. O aguçado senso de marketing seria confirmado logo depois pelo chanceler Celso Amorim ao propor, em Porto Príncipe, um "Plano Lula" para reconstruir o Haiti, numa reedição do Plano Marshall, que reergueu a Europa depois da Segunda Guerra.
Autoridades brasileiras deveriam ser comedidas na ânsia de propagandear e adular o chefe.