Militares brasileiros entregam mantimentos para o recém inaugurado orfanato de Blessing Handno
Foto: Francisco de Assis/Especial para Terra
"Graças aos brasileiros essas crianças vão ter a oportunidade de serem educadas. É o que eles podem levar daqui"[ ]. Foram eles que nos deram essa condição de vida. Essas crianças são o futuro do Haiti."
Francisco de Assis
Enviado especial a Porto Príncipe
Pelas estradas mal conservadas do subúrbio de Porto Príncipe, no Haiti, até mesmo os veículos mais possantes acabam em situações desconfortáveis. Chegar ao distrito de Croix Boquets, um entre tantos municípios haitianos tomados pela pobreza, chega a ser uma aventura. Neste cenário, a reportagem do Terra encontra o orfanato de Blessing Hand, a primeira obra inaugurada no país após o terremoto do último dia 12 de janeiro, uma iniciativa dos militares brasileiros que fazem parte da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Somos abençoados por Deus. É impossível acreditar que algo tão bom tenha acontecido com a gente no meio desta catástrofe", diz Sanon Suze, a diretora do internato. "Vivíamos em um lugar escuro, que cheirava mal e não havia lugares para que as crianças brincassem. Todos os dias tínhamos problemas porque ninguém gostava de lá, mas não tínhamos outra opção", afirma a voluntária haitiana que é tida como a mãe de 32 órfãos.
"Ela me trata muito bem. Cuida de nós e nos ensina muitas coisas", afirma Milta Noel, 12 anos. "Gosto daqui. As camas são novas e tem espaço para correr pelo pátio." O local está construído em uma área pobre, onde muitas famílias vivem em condições precárias. As paredes brancas, com o desenho dos personagens da Turma da Mônica, dão alegria ao ambiente cercado por construções de barro.
Por lá um simples tijolo ainda é muito raro, fato que faz com que a Blessing Hand seja o orgulho da comunidade. "Gosto muito de estudar. Tenho vontade de aprender muitas coisas", diz Noel. "Os professores me tratam bem e eu não quero parar de ir à escola."
Parte das crianças que estão no orfanato foi abandonada pelos pais no Haiti. "Quero ser engenheiro", diz Paul Carlins, 10 anos. "Vou construir muitas casas quando for grande." Uma influência deixada pelos brasileiros que, sensibilizados pela falta de estrutura do antigo local, tiraram o dinheiro do próprio bolso para criar um lar para as crianças.
"Ao longo do nosso trabalho, descobrimos estas crianças jogadas em um lugar mal conservado. Como estamos longe de casa, longe das nossas mulheres, com saudade dos nossos filhos, ficamos sensibilizados com essas crianças", afirma o tenente Sérgio Luiz Marques. "Foi daí que surgiu a ideia de fazer uma casa nova para elas. Sem dinheiro, a solução que encontramos foi arrecadar fundos com doações dentro do próprio quartel."
Ao todo, foram necessários 30 dias para a construção. A obra custou cerca de US$ 30 mil. "Isso aqui tudo era uma plantação de mamona antes. É uma obra que já tinha sido iniciada antes do terremoto e que agora está pronta", afirma o militar. "Tínhamos que ser rápidos porque queríamos ver o orfanato pronto antes de voltarmos ao Brasil. Parte do pelotão regressa no início do mês."
"Gosto muito deles (soldados brasileiros) porque eles brincam com a gente e estão aqui todos os dias", afirma Laciin Osmeli, vestida com uma camisa do Brasil. "Eles pagam a nossa escola, nos dão comida e compram o nosso material escolar. Tratam a gente com amor", diz Eli François.
Um gesto que longe dos holofotes retrata o motivo pelo qual os brasileiros são tão queridos entre o povo haitiano. "Graças aos brasileiros essas crianças vão ter a oportunidade de serem educadas. É o que eles podem levar daqui", afirma Sanon Suze. "Foram eles que nos deram essa condição de vida. Essas crianças são o futuro do Haiti."
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Comento: Essa é a argamassa de que são feitos os Soldados do Brasil! Poderiam ater-se ao cumprimento de sua missão e já estaria muito bom. Mas foram muito além, fazendo o que a maioria dos difamadores, que insistem em chamar a MINUSTAH de Força de Ocupação, não faz.
Anônimos, solidários e eficientes, um pequeno grupo de militares atuou na contramão da tal "autodeterminação dos povos", defendida pela corja de ongueiros e ativistas que voeja como urubus sobre carniça em torno da desgraça haitiana. Esses soldados fizeram a parte deles. Quando esses hipócritas deixarão a retórica de lado e farão a sua?