Cláudio Lessa
Seria cômica – se não fosse verdadeiramente trágica – essa obssessão nanica do atual desgoverno em se tornar um “player” de destaque e merecedor de respeito nos assuntos internacionais. Primeiro foi com Honduras, quando a “política externa” de Top-Top Garcia, Amorim e Lulla (no cabresto “político” do bestalhão Hugo Chavez – aquele que está sentado num barril de petróleo, mas que ainda assim comanda um país com 200% de inflação) ficou do lado errado. Preferiu sancionar a ilegalidade, em vez de apoiar a lei e a ordem.
Os diplomatas do Departamento de Estado norte-americano, em geral mais bem treinados e mais objetivos, estudaram o assunto, observaram a letra da lei hondurenha e recolheram os flaps de mansinho. Deixaram o Brasil – o eterno candidato a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – queimar seu filme mais uma vez. Um dia, quem sabe, ele aprende.
Agora vem o terremoto haitiano – para o “mito” vivo, genuíno filho do barril, com 80% de aprovação popular, uma “intempérie”; para outros, um cataclisma que, segundo alguns, reforça a noção de que Deus não gosta mesmo nem de preto, nem de pobre. Pois bem: o Brasil, que atualmente faz estágio no Haiti com sua modesta mas aplicada força militar, destinada basicamente a prover um poder de polícia no local (ainda que com todos os “shortcomings” derivados da própria ineficácia brasileira no setor), fez biquinho porque os Estados Unidos, quando notaram a magnitude da catástrofe, resolveram mais do que depressa assumir o comando das operações e botar ordem na casa.
E o fizeram por bons motivos: o Haiti está perto do território norte-americano; o êxodo de haitianos desvalidos em massa seria um peso adicional na cambaleante economia dos EUA e o Brasil, reconhecidamente, não dispõe de pessoal nem de material em quantidade suficiente para dar um jeito no caos que se instalou – sem falar nas noções já cristalizadas para outras nações mais adiantadas de que, com raríssimas exceções, (1) o Brasil insiste em pensar pequeno e (2) o Brasil (inclusive seus diplomatas – com honrosas exceções, claro) come feijão mas arrota caviar.
O patético da mentalidade “estagiária”/assembleísta petralha brasileira ficou por conta das deliberações sem fim a respeito de se dobrar o efetivo militar presente no Haiti – algo até agora não resolvido. De mil e poucos soldados, passariam a dois mil e qualquer coisa. Enquanto isso, no Haiti, o pau estava comendo nas ruas, com gente desesperada por comida e tudo o que é de mais básico para sobrevivência, mesmo indigna.
Em dois tempos, os Estados Unidos desembarcaram 11 mil soldados e já devem enviar mais 4 ou 5 mil a qualquer hora, sem falar na montanha de equipamentos e material específico para ajuda humanitária. Na tevê, enquanto isso, foi possível ver que os soldados brasileiros nem organizar os desesperados numa fila para distribuir água e ração conseguiam. Primeiro, porque já conhecemos o estilo de controle policial brasileiro – é só entrar numa fila em qualquer porta de estádio “dessepaíz” para comprar ingressos para jogos de futebol ou shows musicais de envergadura; segundo, porque não há soldados brasileiros suficientes para conter uma turba ensandecida e esfomeada como aquela, ponto final.
Os norte-americanos chegaram e começaram a colocar ordem no trânsito, no aeroporto, na coordenação da distribuição de alimentos etc. É uma ajuda mais que bem-vinda de alguém com muito mais recursos do que os outros que estão lá, ralando. É, sobretudo, uma boa oportunidade de observar, aprender e praticar a ajuda em conjunto. Mas… para os petralhas desocupados, arrogantes (e, ainda bem, cada vez mais reconhecidos como mentirosos de carteirinha) isso não é ajuda, isso é invasão de território estrangeiro – ou, na melhor das hipóteses, um adestramento “in loco” para a soldadesca norte-americana rumo ao Afeganistão, ou ao Iraque.
Paralelamente, no pobre mas insidioso esquema “porque me ufano”, muita fanfarra e publicidade nas comemorações dos 25 anos do aeroporto de Guarulhos, “o maior do Brasil e da América Latina!”. São duas pistas para atender 15 milhões de passageiros por ano. Em contraste, só um aeroporto nos EUA, o de Atlanta, nos cafundós da Georgia, possui cinco pistas e mais de 150 terminais para servir 90 milhões de passageiros por ano.
É difícil entender o desnível? No mundo de hoje, dá para continuar pensando pequeno, olhando para o próprio umbigo e se achando? Se você ainda acha, leia o texto novamente – quantas vezes forem necessárias, até a ficha cair. No fim das contas, ela cairá. Acredite. And call me in the morning.