Professores são, em sua maioria, ex-soldados do Exército de Israel, que colocam figuras árabes como principal alvo
Academia de tiro Calibre 3 ensina, há vários anos, técnicas antiterroristas e de defesa pessoal para crianças e grupos particulares (Suzana Mendoza) |
O campo de treinamento são as montanhas do deserto da Judeia. Os professores têm a cabeça raspada e os músculos salientes sob trajes militares (e, em sua maioria, são ex-soldados das forças especiais do Exército israelense). O cenário, que mais parece cena de filme, descreve, na verdade, uma escola. Situada perto do assentamento de Gush Etzion, na Cisjordânia, no norte de Jerusalém, a academia de tiro Calibre 3 ensina, há vários anos, técnicas antiterroristas e de defesa pessoal para crianças e grupos particulares, muitos deles colonos de assentamentos próximos.
No ano passado, a academia também inaugurou um curso para turistas que queiram experimentar o que eles definem como o “outro lado de Israel.” Os fundadores garantem, ao se apresentarem para um novo grupo de turistas, que a razão de ser da escola é o perigo constante em que vivem os judeus israelenses, por estarem rodeados de inimigos, sobretudo vindos da Cisjordânia.
“Decidi abrir esta academia há alguns anos porque vi que os israelenses podem se encontrar em situações difíceis e perigosas a qualquer momento, como atentados terroristas ou ataques diretos motivados pelo ódio”, diz Sharon Gat, um dos fundadores, ao grupo de cerca de 15 pessoas reunidas em uma cabana, “e quero ajudá-los a saber como sair destas situações, ou, ao menos, dar-lhes a oportunidade de poder sair.”
Sharo Gat, fundador da Academia (Suzana Mendoza) |
Desde que foi aberta, em 2007, a Calibre 3 não para de crescer, com mais de 10 mil clientes ao ano - e subindo. A preocupação com a segurança e o medo do terrorismo, sobretudo islâmico, comenta Gat, é uma das principais razões de seu êxito.
“Eu não falo de política, ofereço um serviço e, qualquer pessoa que queira pagar por ele o recebe, não fazemos perguntas”, diz Get, respondendo se a empresa é consciente sobre quem são seus clientes. “Vem muita gente do exterior para receber treinamento, funcionários de segurança de embaixadas, de empresas privadas, não apenas colonos.”
“Inimigo”
Uma olhada pelo campo de treinamento deixa claro quem é o inimigo na Calibre 3. Muitos dos alvos são apenas números, mas outros têm caras obviamente árabes, com lenços palestinos, que olham ameaçadores enquanto empunham uma pistola.
“Eu acredito que seja interessante. Não tem por que ser algo político, vim aqui porque tinha vontade de aprender a disparar e queria passar um dia diferente, não vim para pensar se as caras dos alvos são ou não de árabes”, diz Jenna, uma estadunidense de 25 anos que está visitando Israel, enquanto tenta acertar o alvo.
A maioria dos turistas que participam é dos Estados Unidos. Muitos deles, judeus ortodoxos. Há gente de vários outros países, como Han, que chegou da China para visitar Israel e decidiu provar como seria um dia na pele de um soldado israelense.
“Alguém me recomendou aqui porque eu gosto muito de tudo o que tem a ver com o exército e com segurança. Decidi vir e, até agora, estou gostando muito”, diz Han.
Muitos dos alvos são números, mas alguns têm rostos árabes (Suzana Mendoza) |
Crianças e adolescentes
A maioria dos clientes da Calibre 3 não é formada por turistas, mas por crianças e adolescentes. A academia tem também um acampamento intensivo de verão e cursos durante o ano para que os menores de idade enfrentem os rigores militares e aprendam a se defender. Como pequenos G.I. Joe, os que fazem o curso intensivo comem, dormem e vivem no acampamento por várias semanas, durante as quais aprendem a atirar e, também, a identificar o inimigo.
“Funciona como se fosse uma escola, fazem tudo aqui durante um tempo e impomos disciplina, ensinamos um estilo de vida”, comenta um dos instrutores. “Colocamos mais ênfase em técnicas de defesa como a luta pessoal, que aqui chamamos de Krav Magá, do que em disparar, além de que também os entretemos com outras atividades. E eles não treinam com balas de verdade, mas com balas de festim”, prossegue o instrutor, que também dá uma mostra para o público desse tipo de luta israelense.
A recente escalada da violência na Cisjordânia entre colonos e palestinos, com as mortes de três israelenses e o ataque a uma menina de um assentamento próximo a Ramallah, fez com que os colonos se encastelassem em suas posições e começassem a se militarizar.
A Calibre 3 também dá cursos de segurança, defesa e antiterrorismo para grupos privados, muitos deles, admite o fundador, colonos da região.
Opera Mundi/montedo.com