27 de novembro de 2013

Emoção na despedida: militares embarcam para o Haiti para substituir soldados em missão de paz

Grupo de Campinas viajou para capital Porto Príncipe na manhã desta terça.
Durante a cerimônia, familiares se emocionaram na despedida dos soldados.
Militares se despedem de familiares em base do Exército no Aeroporto de Guarulhos (Foto: Lana Torres/G1)
Militares se despedem de familiares em base do Exército no Aeroporto de Guarulhos (Foto: Lana Torres/G1)
Lana Torres
Do G1 Campinas e Região
Um grupo de 258 militares brasileiros embarcou para o Haiti, na manhã desta terça-feira (26), quando o Exército iniciou a substituição do contingente da missão de paz da ONU no país caribenho. Até o final desta semana, o efetivo de 1,2 mil militares que atua no local será completamente renovado. As tropas saíram durante a madrugada de Campinas (SP), onde estavam concentradas para treinamento, e o embarque ocorreu na base militar no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Durante a cerimônia, familiares e amigos se emocionaram na despedida dos soldados, que permanecerão fora do país por até um ano.
Veja galeria de fotos da despedida
As tropas que seguiram para a capital Porto Príncipe nesta terça-feira compõem o 19º Contingente Brasileiro de Força de Paz (Brabat) enviado ao Haiti desde que a missão teve início, em 2004, para garantir estabilidade ao país que viveu sucessivas e turbulentas trocas de líderes de governo, inclusive com conflitos armados entre grupos rivais.
Nesta terça, embarcaram 85 servidores de Campinas, 27 de São Vicente, 44 militares da companhia de Engenharia, 30 da Força Aérea, 31 homens do Exército do Paraguai, além de integrantes da Marinha. O grupo foi recepcionado pelos 258 que voltaram do Haiti nesta manhã.
Durante o encontro dos recém-chegados com os substitutos, houve festa e gritos de incentivo de uma tropa para a outra. Além dos comandantes da brigada de Campinas - cidade que concentrou os treinamentos -, participaram da cerimônia o vereador Luiz Lauro, representando a Câmara de Vereadores, e o prefeito Jonas Donizette, que entregou a bandeira da cidade para que os militares levassem para a expedição.

Choro, beijos e despedida
Uma tropa de heróis sem fardas desmontou os militares nos momentos que antecederam a partida para o desconhecido e distante Haiti. Filhos jovens, velhos e recém-nascidos; mulheres grávidas, namoradas, esposas e mães; pais, irmãos e amigos. Ninguém conteve as lágrimas, que humanizaram a massa verde oliva no saguão da base aérea militar, em São Paulo.
Com dois anos de idade, o pequeno Vinícius, que até uniforme do Brabat vestia, recebeu dos pais uma explicação muito prática para a ausência do pai: "Ele é pequeno, não entende muito. Aí, para simplificar, a gente diz que o papai vai viajar para conseguir comprar a nossa casa", conta a mãe do garoto, esposa de sargento, Dalete Faria Cordeiro.
O discurso não é exclusivo da família de Vinícius. Muitos militares repetiam o argumento de que a viagem, mais do que um desafio pessoal, revela-se uma oportunidade para famílias que engordam o rendimento a partir do bônus pago pela participação na missão de paz. Alguns casais mais jovens contam que aproveitarão a localização para usufruir do benefício financeiro. "Vamos aproveitar e fazer segunda lua de mel em algum lugar do caribe", disse a assistente comercial Juliana Ribeiro, 25, casada há 1 ano e meio com sargento Leonardo Ribeiro, 29.
Militares se despedem de familiares em base do Exército no Aeroporto de Guarulhos (Foto: Lana Torres/G1)
Militares se despedem de familiares em base do Exército no Aeroporto de Guarulhos (Foto: Lana Torres/G1)
A viagem
Os demais militares que farão a gradativa troca de efetivo seguirão para o Haiti no decorrer desta semana. Eles serão distribuídos em seis voos diários, todos em aeronaves fretadas pela ONU. Pela programação do Exército, até 5 de dezembro, as novas tropas já estarão em Porto Príncipe prontas para atuar e haverá a transferência oficial do comando das operações para o coronel Anisio David Junior, que assumirá o posto máximo no grupo.
O efetivo, formado exclusivamente por voluntários, assim como vem ocorrendo desde o início da missão, deve ficar durante seis meses no Haiti. Este período pode ser prorrogado por, no máximo, mais seis meses. Em junho deste ano, a Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (Minustah) competa 10 anos e o Exército planeja comemoração na capital haitiana.

Preparativos
Na tarde de segunda-feira (25), os militares de Campinas se reuniram para um último encontro antes do embarque para definir os últimos detalhes da viagem e realizar uma pesagem inicial da bagagem, que não pode passar de 30 quilos por pessoa. A técnica e enfermagem Raquel da Assunção Andrade Costa encarou com bom humor o primeiro desafio antes da viagem.
Com sorriso aberto, ela conta que errou os cálculos e precisou abrir mão de parte do "carregamento" de cosméticos e roupas "civis" que colocou na mala. "Eu já tirei 13 quilos de bagagem. Desodorante, roupas civis, chinelos vão ter que ficar", contou ao risos pouco antes de conseguir um espaço na mala de um colega para parte do que não coube na bagagem própria. Raquel, que é a única mulher em uma das companhias do batalhão de Campinas, vai pela primeira vez ao Haiti, onde atuará na área de saúde.
Militares se despedem de familiares em base do Exército no Aeroporto de Guarulhos (Foto: Lana Torres/G1)
Raquel Andrade se despede do sobrinho antes de partir para Porto Principe (Foto: Lana Torres/G1)
Treinamento
Dois meses antes de partir os integrantes do grupo já passaram por treinamento intensivo na sede do Exército, que incluiu simulação de conflitos, treino de uso de armas não letais, realização de blitzes, além de aula de creole, dialeto falado pelos haitianos.
Em outubro, as tropas de outras cidades que participam da expedição se concentraram em Campinas para um treino conjunto, agora com atividades externas, pelas ruas de bairros com características semelhantes às do local onde eles atuarão. Eles simularam exercícios como a ocupação de áreas, escoltas de comboios, operações de segurança, patrulhamento a pé e motorizado.
G1/montedo.com