Questão de custo
Gripen (Imagem: Peter Liander/Saab) |
Merval Pereira
Com a decisão oficial a favor dos caças suecos Gripen, chega ao fim a novela que já durava 17 longos anos, passando por quatro governos e três presidentes, desde os tempos do segundo governo de Fernando Henrique, os dois de Lula e agora o de Dilma.
Venceu afinal o parecer técnico da Aeronáutica dado em 2010, que colocou o caça francês Rafale, da empresa Dassault, em último lugar, contra a preferência política do Planalto na época de Lula, favorecendo o Gripen NG, da sueca Saab.
O F-18 Super Hornet, da americana Boeing, saíra perdendo pontos na avaliação técnica da Aeronáutica, pela dificuldade histórica de os americanos transferirem tecnologia, e também na política, pois Lula chegou a anunciar em conjunto com o então presidente francês, Nicolas Sarkozy, a decisão pelos Rafale franceses.
Agora então, com a questão da espionagem da NSA ainda não resolvida, os americanos não tinham chance alguma de vencer a concorrência.
Foi uma decisão, portanto, em que os custos econômicos e políticos foram decisivos. O relatório da Força Aérea Brasileira (FAB), com mais de 30 mil páginas, destacava o fator financeiro como decisivo para a classificação: o Gripen NG, por ser monomotor e ainda estar em fase de projeto, é o mais barato dos três concorrentes finais. Pesou também certamente o compromisso de transferência de tecnologia.
Domício Proença Júnior, do Grupo de Estudos Estratégicos, Programa de Engenharia de Produção da Coppe — UFRJ, recebe com cautela, e certa ironia, a decisão, que ele classifica de “o primeiro episódio da série ‘O caça — A compra’”. Como faz questão de lembrar, “o respaldo armado da soberania no controle do espaço aéreo brasileiro seguirá sendo feito por expedientes”. Isso porque começa agora o segundo episódio, que ele chama de “O caça II — A promessa”.
Ele se refere à promessa de transferência de tecnologia: “Tomada a decisão, tem-se motivos que a justificariam, em diversos matizes e momentos: o desejo, esperança e ambição de ganhar controle de tecnologia, a soberania diante dos códigos-fonte, uma decisão multicritério dos atributos de desempenho e custos de aquisição e operação, entre outros”.
Minimiza-se assim o fato, ressalta Proença Júnior, de que “se comprou uma aeronave que ainda não existe, cuja tecnologia, códigos-fonte e atributos só serão realmente sabidos algum tempo depois que ela vier a existir. Sorria a fortuna que o que se tenha então possa atender às necessidades de defesa do Brasil”.
O professor Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, considera que “não foi uma decisão ruim”, lembrando que o problema maior sempre são os custos de manutenção.
Expedito Bastos acredita que, por se tratar de um país pequeno como a Suécia, haverá uma transferência de tecnologia que poderá em muito ajudar a indústria aeronáutica brasileira, não só a Embraer, mas também diversas outras empresas pequenas que produzem componentes aeronáuticos no país.
Por outro lado, destaca que, por se tratar de um projeto novo, pode no futuro mostrar-se um outro AMX, produção conjunta com a Itália que se acreditava que seria exportada para vários países, o que acabou não ocorrendo. Hoje apenas Brasil e Itália os utilizam, e muito em breve apenas nós iremos continuar com eles, até porque estamos fazendo uma modernização local.
Expedito Bastos ressalta que existe também a possibilidade de vir a ter uma versão naval que poderá interessar à Marinha do Brasil para operar em seu porta-aviões, o São Paulo, pois, na última edição da LAAD Security 2012 — Feira Internacional de Segurança Pública e Corporativa (Rio de Janeiro), foram apresentadas maquetes mostrando mais essa opção caso o Gripen fosse o escolhido.
O Globo/montedo.com