17 de janeiro de 2014

Governo faz general negociar com indígenas acusados até de sequestro

GOVERNO ‘PEDE’ QUE ÍNDIOS NÃO RETOMEM EXTORSÃO PRATICADA HÁ DEZ ANOS
O general Ubiratan Poty negociou com os índios, que, além da cobrança ilegal de “pedágio”, ainda são acusados de sequestro
A cobrança de pedágios na BR-230 (Transamazônica) que corta a reserva dos índios Tenharim, no sul do Amazonas, não será mais retomada no próximo dia 1º de fevereiro. Durante encontro com representantes do governo federal, ontem, os indígenas aceitaram “sugestão” do general Ubiratan Poty, da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, para não estipularem uma data para o retorno da cobrança.
“Eu apresentei essa proposta para eles, com o objetivo de ter uma solução pacífica, para que não condicionassem a manifestação [cobrança de pedágio] a uma data, e sim à resposta do governo”, disse o general. Segundo Poty, o bloqueio das estradas ficou dependente da resposta a ser dada pelo Ministério da Justiça a uma carta enviada pelos índios com as suas reivindicações.
O pedágio é cobrado ilegalmente e impunemente há mais de dez anos pelos índios como forma de “compensação ambiental” pela construção da Transamazônica em 1972. O Ministério Público Federal do Amazonas entrou com uma ação na Justiça Federal para responsabilizar a União por “violações de direitos humanos” e supostos “danos permanentes” causados aos índios. O MPF, contudo, não tomou qualquer iniciativa em relação ao sequestro de três homens, que os próprios índios afirmam ser represália à morte de um cacique, Ivan Tenharim, que na verdade faleceu em um acidente de moto, conforme atestou a polícia. O MPF também não ajuizou qualquer ação contra o então coordenador da regional da Funai, Ivã Bocchini, que de forma considerada leviana, levantou a suspeita de que o cacique teria sido assassinado. Isso deu pretexto para que os três homens fossem sequestrados. Eles permanecem desaparecidos desde então. Na sexta-feira (10), Bocchini foi exonerado do cargo.
Há quase um mês, os índios da etnia Tenharim estão isolados nas aldeias. Impedidos de cobrar o pedágio e impossibilitados de se deslocar até a cidade, estão dependentes da assistência do governo federal. Como eles não trabalham nem produzem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem distribuído cestas básicas e medicamentos.
De acordo com o general Poty, a carta ao Ministério da Justiça pede que o governo encontre uma nova forma de compensação para os impactos da obra. Assim, os índios não retomariam os bloqueios. “Não existe mais data para retorno de qualquer manifestação na estrada, existe sim a pendência de resposta do governo. A carta ao Ministério da Justiça pede alguma coisa em substituição ao pedágio”, revelou o general.
O encontro de ontem ocorreu na Terra Indígena Tenharim Marmelos e além do general Poty, que é responsável pelo suporte logístico e de estrutura à força-tarefa montada para a investigação do desaparecimento, estiveram presentes representantes dos ministérios do Meio Ambiente, da Justiça, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social.
DIÁRIO do PODER/montedo.com