21 de agosto de 2017

Comandante do CMA alerta que orçamento só cobre gastos até setembro

General alertou ainda que o corte no orçamento das Forças Armadas em 45% afetará a vigilância da região de fronteira e diminuirá a capacidade de operações na região amazônica
Show 546
O comandante Militar da Amazônia, general Geraldo Miotto (Foto: Márcio Silva)
Janaína Andrade
Manaus (AM) - O comandante Militar da Amazônia, general Geraldo Miotto, alertou que o corte no orçamento das Forças Armadas em 45% anunciado nesta semana pelo governo federal afetará a vigilância da região de fronteira e diminuirá a capacidade de operações na região amazônica. Segundo ele, o Comando Militar da Amazônia (CMA) possui uma reserva de recursos que só serão suficientes para cobrir os gastos até o mês de setembro.
“A partir de setembro se nós não tivermos os recursos necessários, nós vamos ter que diminuir as operações. Agora em quanto, depende da equação, depende dos recursos que nós vamos receber. Já iniciamos um novo planejamento. Vamos nos adequar. É equação matemática. Gente (tropa) é igual a recursos, que resulta em produção. Se tiver menos recursos, eu tenho pessoal, mas vão ficar estáticos. E o produto (apreensão) vai diminuir, não tenha dúvida”, revelou Geraldo Miotto.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em entrevistas, já demonstrou preocupação com a situação crítica que as Forças Armadas podem chegar com o contingenciamento de recursos e lembrou que “de uma maneira geral, muitos dos causadores dos problemas de segurança pública nas grandes cidades passam pelas fronteiras”.
O general Geraldo Miotto salientou que o Exército sempre precisa estar apto a atuar de imediato e que para isso existia uma reserva de recurso que “já está sendo consumida”. “Que é a reserva de prontidão. E nós não podemos ficar sem prontidão. Forças-Armadas sem prontidão fica muito difícil ela poder cumprir com a sua missão”, apontou o comandante Militar da Amazônia.
Apesar do contingenciamento no orçamento, o general declarou que não há previsão de dispensa de recrutas ou redução de expediente. Ressaltou, contudo, que a precarização do trabalho do Exército tem reflexos na segurança pública do Estado. “A defesa e a segurança trabalham juntas, se a gente diminui as operações na fronteira vai ter um maior trabalho na segurança pública”, enfatizou.
De acordo com o militar, a prioridade na aplicação de recursos que ainda restam continuará sendo a fronteira, como já é feito. “Material bélico, combustível, munição a prioridade é a fronteira. Atendimento de saúde para os militares, familiares e para a população, a prioridade também é a fronteira. O que impacta esse corte no orçamento é que nós temos que ter mobilidade. Mobilidade é a força aérea, combustível de embarcações, de viaturas e helicópteros, é isso aí que impacta”, avaliou.
De 2012 para até hoje os recursos discricionários das Forças Armadas caíram de R$ 17,5 bilhões para R$ 9,7 bilhões.

Frente a Frente

Candidato ao governo, Amazonino Mendes
Amazonino Mendes (PDT), candidato mais votado no 1° turno da eleição suplementar, com 577,3 mil votos, que equivalem a 38,7% do total, contra 377,6 mil (25,3%) de seu adversário, afirmou que a segurança das fronteiras do País é de atribuição exclusiva das Forças Armadas, mas ressaltou que a falta de defesa deságua no Estado.
“O Estado tem de participar, nem que seja secundariamente, se integrando e conversando com as Forças Armadas. O Estado está pronto para colaborar, pronto para participar e intervir”, disse Amazonino. Segundo ele, devido suas dimensões, a tríplice fronteira na Amazônia requer “um efetivo grande e muita tecnologia”.
“Tudo isso é preciso ser implementado por quem é de direito. O Estado pode reclamar, pedir e colaborar”, disse. Para Amazonino Mendes, a redução do orçamento das Forças Armadas pode resultar em maiores problemas sociais e aumento do tráfico. “Esse prejuízo é tão grande que é impossível a gente mensurar. Nós sabemos que é realmente a grande causa do desequilíbrio social brasileiro”, disse o candidato.
Em seu plano de governo, o ex-governador afirma que utilizará serviços de inteligência para combater o crime organizado e reduzir a criminalidade. “Vamos atuar fortemente na prevenção e repressão qualificadas em parceria com as Forças Armadas, Polícia Federal e trocando informações estratégicas com os outros estados. O combate às drogas será intensificado para trazer tranquilidade às famílias e garantir futuro aos jovens”, prometeu.

Candidato ao governo Eduardo Braga
Candidato pelo PMDB, Eduardo Braga defende que é necessário montar uma estrutura permanente de vigilância das fronteiras e que isso requer uma ação integrada entre as polícias Militar, Federal e Forças Armadas. Para ele, o problema hoje de defesa das fronteiras é a “falta de estrutura para o patrulhamento de grandes extensões com países que hoje são os maiores produtores de drogas do mundo”.
“Sem um patrulhamento efetivo, o Amazonas passa a representar uma porteira aberta para o narcotráfico internacional. Não conseguiremos vencer esse desafio sem inteligência. Portanto, é necessário que seja instalada uma rede de comunicação eficiente entre as bases de fiscalização. Um sistema interligado capaz de dar agilidade ao trabalho de monitoramento das forças policiais. Desta forma, estaremos sempre um passo à frente do crime organizado”, sustentou Braga.
Para Eduardo Braga, o diálogo com o governo federal é essencial e necessário em razão da Polícia Federal e Forças Armadas serem instituições federais subordinadas à Presidência da República. “É preocupante o corte de verbas da ordem de 40% revelado pelo general Villas Boas, um profundo conhecedor da realidade amazônica. Vamos trabalhar duro junto ao Governo Federal para reverter esse quadro de falta de recursos”, disse.
Os prejuízos para o Estado, segundo Braga, são incalculáveis, “já que, além da proteção das fronteiras, as Forças Armadas desenvolvem importantes projetos sociais nas comunidades mais longínquas do nosso Estado”.

Sérgio Fontes, Secretário de Segurança Pública do Estado do AM
“Não poderia haver pior momento para estes cortes ocorrerem. O Brasil enfrenta talvez a pior crise de segurança pública de sua história e o enfraquecimento da nossa proteção de fronteiras vai na contramão daquilo que mais precisamos no momento: o aumento substancial nos nossos controles de fronteira. E o prejuízo para o Estado do Amazonas é enorme, pois somos vizinhos dos dois países que mais produzem cocaína no mundo. Mas todo o País será afetado, pois a droga que entra abastece quase todas as regiões do Brasil. Debilitar as Forças Armadas não só e perigoso como também não é inteligente. Temos acordo formalizado com a PF para apoiar as operações “Baze Anzol” e “Sentinela”, assim como disposição para ampliar este apoio caso seja necessário. (Precisamos de) bases de controle em todas as entradas de rios para fiscalizar o tráfego de embarcações, patrulhas aéreas, fluviais e terrestres, equipamentos de monitoramento de trânsito, lanchas blindadas, etc. A logística na Amazônia é muito cara. A SSP não tem condições, recursos e muito menos atribuição legal para (fazer a defesa da fronteira)”.

Quase 400 operações este ano
Hoje, o Comando Militar da Amazônia emprega 9.500 homens na região de fronteira. De janeiro a 15 de agosto, o CMA realizou 392 operações, sendo 345 na faixa de fronteira e 19 em presídios da região.
Para garantir o transporte dos militares, estão disponíveis 900 veículos, 100 embarcações e dez helicópteros. Estes dois últimos, nos sete primeiros meses deste ano, representaram uma despesa de R$ 7,7 milhões.
O general Geraldo Miotto destaca entre as apreensões realizadas este ano em operações na fronteira: madeira – prejuízo de R$ 48 milhões; drogas – prejuízo de R$ 5,5 milhões e garimpos ilegais de extração de ouro e balsas para transporte do produto, no total de R$ 52 milhões.
“O CMA vai cumprir com as suas missões. Nós temos a convicção e a certeza que nós vamos poder continuar cumprindo com a missão em prol da população da Amazônia. O Exército se move pela vontade e nós temos vontade de continuar. Nós somos 21 mil homens, e na fronteira somos 9.500 e temos vontade de continuar e vamos cumprir com a nossa missão. Aqui é pressão total, não vamos afrouxar”, disse o comandante.

a crítica/montedo.com