4 de agosto de 2017

Sergio Etchegoyen pede apoio da sociedade em defesa dos policiais

Ministro-chefe do Gabinete de Segurança da Presidência diz que a morte de tantos PMs é uma tragédia
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Sérgio Etchegoyen - André Coelho / Agência O Globo
ELENILCE BOTTARI E JEFERSON RIBEIRO
RIO - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Sergio Etchegoyen, que participa do Fórum “Como resolver o enigma da insegurança que oprime o Brasil”, nesta terça-feira, disse que o crime organizado é a maior ameaça que a sociedade brasileira enfrenta. “É isso que precisamos entender”, afirmou ele.
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Augusto NardesMinistro do TCU diz que contrabando gera perdas de R$ 100 bilhões ao ano
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Ao falar sobre o plano nacional de segurança, o ministro lembrou os crimes ocorridos nas eleições, como a tentativa de impedir a votação no Maranhão e o assassinato de 13 candidatos a vereadores do Estado Rio. Ele afirmou que o Brasil vive uma situação extraordinária que necessita de soluções extraordinárias. Defendeu o endurecimento de leis e criticou a passividade com que a sociedade vê a morte de policiais:
— O Rio perdeu 92 policiais, os Estados Unidos perderam no Afeganistão cinco. E fazemos o quê? É muito sério. Uma sociedade é incapaz de lutar pelos seus interesses. Os nossos policiais morrem, não temos outros para substituir, mas deixamos que eles morram, porque se atirarem terão que responder por isso. Porque não tem recursos, porque não tem treinamento. Como mostrar a sociedade o tamanho da tragédia que estamos vivendo? Não adianta reclamar dos nossos policiais, por que não temos outros e são eles que vão entrar na favela para combater os criminosos. É preciso que nós cidadãos busquemos a valorização dos nossos policiais. Quem de nós gostaria de ver um filho nos dias de hoje com farda, subindo o morro para enfrentar marginais?
O fórum também conta com a presença do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Augusto Nardes, relator do acórdão que determinou a criação de um comitê nacional de integração; do presidente da Embratur, Vinicius Lummertz; e do general Marco Aurélio Vieira, diretor de Operações do Comitê Rio 2016, que falaram no painel “A urgência de um pacto na construção de uma nova cultura social”, mediado pelo secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitacão, Índio da Costa.
Durante o evento, José Augusto Nardes afirmou que políticas esporádicas de segurança, como a ocorrida durante os Jogos Olímpicos de 2016 não resolvem o problema da violência nem no Rio nem no país. O ministro disse ainda que as perdas para a economia nacional com o contrabando chegam a R$ 100 bilhões.
— Estamos trabalhando há dois anos, propus ao governo que fosse criado este comitê e já fiz uma primeira reunião em Brasília há poucos dias com a presença de cinco generais, ministérios das Relações Exteriores, da Integração. Nós temos 17 mil quilômetros de fronteiras e não há uma política integrada. Estamos criando grupos para trabalhar em conjunto. São treze instituições que trabalham na fronteira e não compartilham informações. Combater o crime organizado no Rio e em São Paulo não é suficiente, temos que combater na fronteira e em especial nos 150 quilômetros que entram muitas drogas e muitas armas — afirmou José Augusto Nardes.
O ministro informou que cobra das autoridades do Rio sobre a matriz de responsabilidade, sobre o legado para a segurança, mas, segundo ele, não ficou legado de segurança, turismo nem do meio ambiente.
— A auditoria levantou que, em 25 secretarias de estado, 68% não compartilham informações. Ou seja, o Rio e o Espírito Santo não compartilham informações. Se nós não fizermos uma política nacional, não teremos como combater a criminalidade.
O ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, disse que não é sustentável a ação policial, se ela não for acompanhada ações sociais.
— Como médico, vi a epidemia das drogas crescer e não vi nenhuma política pública para pensar isso. O Rio de Janeiro teve um período histórico recente de redução de homicídios, com a implantação das UPPs, mas que depois voltaram a subir. Mas a lição que ficou disso foi que não é sustentável a ação policial se não houver ações sociais junto. O crime organizado no Rio tem uma base social, algum respaldo em algumas comunidades. Por isso, temos que disputar com o crime organizado esses jovens. Os meninos de uma favela tem medo de sair da favela para ir à praia porque podem ser mortos pela facção rival da favela onde vivem. A gente tem que salvar esses meninos, mostrar que eles podem ter outro tipo de vida, apesar desta crise que estamos vivendo. De onde muitos jovens vieram do crime organizado, virão outros, se não fizermos alguma coisa por eles — afirmou Osmar Terra.
O ministro defendeu a capacitação e criação de vagas para jovens no setor de turismo:
— Já que a crise ficou tão grave, vamos aproveitar para mudar muita coisa. Fazer pacote de mudanças legais para ter leis mais eficazes no combate às drogas. Elas produzem epidemias, e nós temos nossas fronteiras com os maiores produtores de drogas do mundo.
Índio da Costa defendeu que a integração seja o marco da presença das forças federais do Rio:
— Precisamos de um legado que só virá com integração. Vamos integrar os dados municipais, com os do estado e da União. A proposta efetiva é que a gente trabalhe o legado da integração, inclusive dos bancos de dados da saúde, da educação, do Detran, das policiais e do Ministério Público.
Já Vinicius Lummertz falou sobre mudanças na Constituição para garantir investimentos, com as reformas tributária com uma tomada de consciência que o país precisa e que foi acelerada pela crise. Ele defendeu as reformas Trabalhista e Tributária como forma de garantir o desenvolvimento sustentável.
— Sem a sustentabilidade do econômico, quando as operações de segurança cessarem, nós estaremos de volta ao ponto de partida. Temos um mundo cansado de conhecer destinos conhecidos, nós temos o maior parque do mundo, no entanto, os Estados Unidos recebem 300 milhões de visitantes em seus parque e nós apenas sete milhões.
O general Marco Aurélio Vieira, que foi o diretor de Operações do Comitê Rio-2016, disse que estamos vivendo uma situação excepcional.
— Estamos numa guerra. O crime não é consequência, mas é de todos os males. É a causa do desemprego, o crime é a causa de todos os problemas do Rio, e temos que atacar as causas com medidas excepcionais. É urgente desarmar o indivíduo de fuzil. Ele não é um meliante comum. Ele é um terrorista e tem que ser tratado como tal — afirmou o general.
Segundo Marco Aurélio Vieira, outro ponto prioritário é o combate aos roubos de carga:
— A gente perde 30 caminhões por dia no Rio. Por isso, nossa proposta é a desconstitucionalização das polícias. Elas têm que ser do estado. Nós temos 56 polícias, que não falam uma com outra. Então precisamos integrar amanhã os sistemas tecnológicos. Outra medida excepcional é que temos que trabalhar com uma secretaria de gestão integrada. Hoje temos vários representantes e ninguém com condições de tomar decisões. A secretaria tem que integrar ações e não as ideias. Outro ponto é o Centro de Comando e Controle. Hoje um indivíduo com um celular 5g na mão tem capacidade melhor de coordenar seus comandados do que o nosso centro de controle. Hoje, a gente tem disponível informações de uns 40 institutos e nenhum está integrado com o Centro de Comando e Controle do Rio — criticou o militar.
Segundo ele, a integração tem que ser também da sociedade:
— Para que a integração aconteça realmente é importante um pacto social da segurança. Quando um o juiz tomar uma decisão, tem que pensar antes na sociedade e não no indivíduo.
O Globo/montedo.com