Os principais alvos dos bandidos são os militares temporários que podem chegar até o primeiro posto de oficial e ficam no máximo oito anos de serviço
Renato Souza
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Enquanto o governo reduz em 43% o orçamento das Forças Armadas e baixa a guarda diante da violência, organizações criminosas investem até mesmo no serviço de inteligência e cooptam militares das forças de segurança para as fileiras da criminalidade. Altamente treinados, oficiais têm acesso profundo aos esquemas de segurança, informações sobre operações e entendem sobre as estratégias usadas para reprimir facções e gangues que atuam pelo país.
Por realizarem operações em terra de combate ao narcotráfico e terem como dever o monitoramento das fronteiras, os militares do Exército são os principais alvos dos aliciadores das organizações criminosas. Além das regiões de divisa com nações sul-americanas, outros pontos estratégicos para o crime no agenciamento de militares são as periferias do Rio de Janeiro. Nas comunidades cariocas essa tarefa é ainda mais fácil, pois os integrantes das Forças Armadas e policiais moram nos locais onde trabalham. Atualmente o Exército tem um contingente de 220 mil homens, sendo que 70% desse efetivo é formado por militares temporários. A maior parte são de patente mais baixa, como soldados, taifeiros e cabos, que somam 140 mil pessoas.
No entanto, nesses postos, é permitido ao militar chegar até a patente de 1º tenente, atuando em áreas específicas, operações, e tendo acesso a informações consideradas sensíveis pelo governo brasileiro. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirma que o problema dos militares que ingressam no crime está sendo discutido nas reuniões do governo. “Os principais alvos desse aliciamento são os militares temporários que têm que deixar o serviço após os oito anos. Estamos trabalhando para convencer o Congresso e as Forças Armadas para a necessidade de uma Força Nacional permanente, que absorva esses oficiais que são obrigados a deixar as forças de segurança após esse período”, afirmou o ministro. O crime chega a pagar um salário entre três e quatro vezes maior que o do serviço público, o que levanta o interesse de profissionais que acabam corrompidos.
Milícias
Outro grande problema, de acordo com o ministro, é a formação de milícias (grupo de policiais que se aliam ao crime), que já saíram do Rio de Janeiro e avançam pelos estados do Nordeste. “Há denúncias escritas, que já foram enviadas à Polícia Federal, do surgimento de milícias de pequeno e médio portes no Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Pernambuco. É preciso conhecer cada uma dessas áreas para saber como será feita a repressão”, completa Torquato.
Há menos de duas semanas, um caso que elenca essa situação veio à tona no Rio de Janeiro. O recruta do Exército, Matheus Ferreira Lopes, de 19 anos, foi preso por policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) em uma megaoperação contra o tráfico de drogas. Ele é acusado de repassar informações sobre os dias e locais das operações para os criminosos. Mesmo ocupando um posto menor na hierarquia, Matheus causou um impacto considerável nas ações de segurança.
Além deste caso, outras mensagens que circularam nas redes sociais antes da operação apontam a participação de uma oficial e de um paraquedista do Exército a serviço do crime. O coronel Roberto Itamar, do Comando Militar do Leste, ressaltou que apesar de não ter o registro de oficiais que vazam informações, essa é uma preocupação do comando. “Não temos informações sobre oficiais envolvidos com o crime. Mas é claro que isso é uma preocupação nossa. Se isso ocorresse, o prejuízo seria bem maior, por conta das informações que são repassadas aos oficiais. Qualquer risco deve ser considerado”, afirmou. Em uma das operações, os integrantes do Exército perceberam que a operação havia vazado por conta de um time de futebol amador, que se reunia todo fim de semana para jogar em uma comunidade do Rio. No dia da operação, nenhum jogador compareceu à quadra.
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com