Policial que matou cabo da FAB em meio à discussão na Central diz que tiro foi acidental e é solto
Bruno e Caroline: cabo já havia sido preso por agredir a namorada |
Rafael Soares
O soldado Helton de Souza Félix, do Centro Presente, responsável pelo tiro que matou o cabo da Aeronáutica Bruno Estrella de Souza Martins, de 25 anos, ao intervir numa briga da vítima com sua namorada, na Central do Brasil, foi liberado após prestar depoimento na Delegacia de Homicídios (DH). Em seu relato na especializada, Helton afirmou que o disparo foi “acidental”, pois acreditou que uma carteira que estava na mão direita de Bruno fosse uma arma.
Bruno Estrella foi morto com um tiro no peito Foto: Reprodução Facebook |
Bruno foi baleado dentro de um ônibus da linha 323 (Bananal-Castelo), que estava parado nas proximidades da Central do Brasil, na manhã desta segunda-feira. Na ocasião, ele estava discutindo com sua namorada quando foi abordado pelo policial. A vítima, que estava desarmada, ficou ferida e foi levada para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, Bruno já chegou morto à unidade. Ele era cabo da Aeronáutica, trabalhava no setor de farmácia do Hospital da Força Aérea do Galeão (HFAG) e deixa um filho de 9 anos de um relacionamento anterior. O agente responsável pelo disparo é lotado no 14º BPM (Bangu), atuava na UPP Batan e estava no Centro Presente voluntariamente.
De acordo com o depoimento do soldado, ele teria ordenado que Bruno descesse do ônibus, e a vítima se recusou. Segundo o policial, Bruno teria levantado os braços, segurando uma carteira na mão direita — objeto que foi confundido pelo agente com uma arma. Nesse momento, Helton teria tentado se afastar de Bruno e disparado.
Após o depoimento, o delegado André Timoni optou por não prender o policial em flagrante. Ele ainda será investigado, mas em liberdade.
Caroline Sperlli Chambarelli, de 21 anos, ia morar com o cabo Bruno Estrella no fim de dezembro Foto: Rafael Soares |
A namorada de Bruno, Caroline Chambarelli, de 21 anos, rebate o relato do policial. Segundo ela, o agente do Centro Presente entrou no ônibus com a arma apontada para Bruno.
— Eu falei para ele não ir e ficar porque a gente estava conversando. Mas, como ele estava chateado comigo, ele virou as costas e subiu no ônibus. Quando ele subiu, eu tentei segurar ele para ele voltar para gente terminar nossa conversa, porque ele ia sair brigado comigo. Quando eu subi no ônibus, eu tropecei na escada. Ele passou por cima de mim para poder conseguir se soltar. Ele estava na frente e eu estava atrás. Foi quando chegou o policial já apontando a arma para ele, mandando ele descer. A única coisa que ele fez foi exaltar a voz e dizer: 'Eu não tive culpa. A culpa não foi minha. A culpa foi minha?', falou assim para o policial. Aí o policial atirou — contou.
De acordo com agentes da DH, Bruno já havia sido preso este ano por uma agressão à Caroline. Em setembro, segundo registro de ocorrência feito na 64ª DP, ele teria agredido Caroline com socos e pontapés. De acordo com relatos de PMs que levaram Bruno à delegacia, na ocasião, ele estava com "o estado mental abalado". O cabo da Aeronáutica teve a liberdade provisória concedida pela Justiça dias depois do crime. Na decisão em que decidiu pela soltura de Bruno, a juíza Yedda Christina Ching San Filizzola Assunção também determinou que Bruno "se abstenha de manter contato com a vítima". Segundo a namorada, no momento em que Bruno foi morto, o casal só estava discutindo.
O Centro Presente informou que, após o caso, o soldado foi afastado do programa.
EXTRA/montedo.com