Greve? Que greve?
Os policiais militares do RN anunciaram na última terça-feira (9) o final da "greve", iniciada em 20 de dezembro. Por que as aspas, Montedo? Simples: tropa armada não faz greve, faz motim! E motim, convém lembrar, é crime militar.
Como criminosos a FAB tratou os sargentos controladores de voo que se amotinaram em 2007, durante o "caos aéreo" no País, quando a categoria promoveu uma operação-padrão que resultou em atrasos, cancelamentos de voos e imensas filas nos aeroportos. E, por mais que entenda as razões que levaram os militares a agir daquela forma, à época, tenho que dizer: a FAB agiu corretamente. Afinal, a lei existe para ser cumprida. Vale lembrar que, em abril de 2017 o STF pacificou a questão, proibindo qualquer forma de paralisação de servidores públicos de órgãos de segurança. Entretanto, no caso das policiais militares estaduais, não é bem assim.
A história se repete
O blog existe desde 2009. Nesses anos todos, perdi a conta das vezes em que as Forças Armadas foram chamadas para garantir a segurança nos estados, enquanto PMs fardados e muitas vezes armados se recusavam a cumprir seu dever. De memória, lembro dos casos do Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte.
Nessas situações, há uma espécie de roteiro-padrão: enquanto a população fica à mercê da bandidagem, os amotinados dedicam-se a criar situações limítrofes de confronto com as forças federais e as instituições, contando com a cobertura da mídia para adubar projetos políticos de seus líderes: assim foi com o Cabo Daciolo no RJ, Marco Prisco e Pastor Isidoro na Bahia, entre outros.
Milicos no fio da navalha
Via de regra, as Forças Armadas tem se saído bem, conseguindo escapar das armadilhas preparadas pelo sindicalismo militar/militante, travestido sob a forma de associações. A postura profissional tem sido decisiva para que os militares federais saiam com a credibilidade ilesa da maioria dos episódios de paralisação.
O bolo que custou uma estrela
General Gonçalves Dias é abraço por PM amotinado na Bahia (Imagem: Roberto Viana) |
A exceção mais pitoresca - e, por isso mesmo, notória - acabou custando a quarta estrela ao general Gonçalves Dias, amigão de Lula.
Durante a greve da PM baiana, no início de 2012, ele estava no comando da tropa de segurança que cercava a Assembleia Legislativa, tomada pelos policiais militares amotinados. Num evento que lhe valeu a alcunha de 'general do bolo', Gonçalves Dias foi homenageado pelos manifestantes. Em imagem que ficou famosa, ele recebeu um bolo em seu aniversário. Ato contínuo, foi afastado do comando da operação e encostado na diretoria de inativos e pensionistas, onde permaneceu como general de divisão até ir para a reserva.
Salários x salários
O grande paradoxo está na disparidade salarial entre as forças envolvidas. De um lado, os militares federais, que veêm seus vencimentos minguarem a cada governo. De outro, com salários maiores, os grevistas, que acabam obtendo mais vantagens ao final de cada episódio.
Anistias à granel
Ato contínuo ao fim de cada movimento, inicia-se um movimento político no sentido de atenuar a responsabilidade dos militares envolvidos. Diferentemente do caso dos controladores da FAB, onde a lei foi cumprida, nunca falta um deputado para apresentar um projeto de anistia aos amotinados, proposta invariavelmente aceita por seus pares.
Resumo da ópera
Ao fim e ao cabo, o que temos? Militares federais com baixos salários, em condições precárias de alimentação e acomodação e recebendo diárias irrisórias, respeitando a lei e cumprindo à duras penas seu dever, fazendo o que os militares estaduais se recusam a fazer, seguros da impunidade.
"É a política, estúpido!"
Sem representatividade política, os militares das Forças Armadas continuarão à mercê dos humores governamentais, enquanto exercem o papel de 'Severinos' da Nação.
Falando nisso...
Você já atualizou seu domicílio elietoral para votar nas eleições de outubro?