5 de fevereiro de 2018

Médico ou sargento? No Exército, não há como ser os dois

Publicação original: 4/2 (12h9)

Creio que todos concordamos: ingressar numa faculdade de medicina é algo difícil. Dificílimo, eu diria. Requer muita disciplina, esforço, dedicação e – claro! – uma capacidade intelectual acima da média. Não por acaso, os primeiros colocados dos vestibulares para medicina tornam-se celebridades instantâneas.
Vocês conseguem imaginar a dificuldade que seria, para um militar da ativa, ingressar num curso de Medicina e concluí-lo? Tarefa para poucos, não é mesmo?
Pois o Dr. Carlos André conseguiu. Primeiro sargento de Engenharia, formou-se médico à duríssimas penas, trocando de serviço, estudando na hora de almoço, trocando a farda pelo jaleco dentro do carro, dormindo pouco, enfim, abrindo mão de muita coisa para alcançar seu objetivo.

Curso ‘secreto’. E um susto benéfico
Como era de se esperar - eis que a mediocridade é o mal maior que assola a carreira - Carlos André sofreu como poucos a ação dos ‘caranguejos militares’, aqueles do ‘cesto sem tampa’, alegoria que todos conhecemos. Para não chamar a atenção, dizia estar cursando biologia. Levou um grande susto quando, como aluno do quarto ano, deparou-se com seu Comandante durante o plantão em um hospital. Passado o espanto, o coronel disse-lhe que o Brasil precisava de médicos e que ele não tinha por que se esconder. A partir daí, passou a ajudá-lo e transferiu-o para o posto médico da guarnição.

Enfim, médico! E agora?
Uma vez formado, Carlos André deparou-se com uma decisão importante. Afinal, nas Forças Armadas a condição de médico não é compatível com a de praça. Para o Exército, ele continuou sendo o sargento de Engenharia que sempre foi. Por esse pensamento arcaico, incrustrado na legislação castrense tal qual cláusula pétrea, a Instituição, ao invés de aproveitar, acaba de perder um profissional com mais de vinte anos de serviço, obrigado a pedir baixa para poder fazer residência em endocrinologia e cursar mestrado.

Quem perde? Quem ganha?
O Exército perde um profissional militar vocacionado. A medicina ganha um profissional com virtudes diferenciadas, que só a formação militar proporciona. Ou seja, os fardados seguem andando na contramão do bom senso. Vai entender...
Imagens: Doutor Carlos André, médico e ex-sargento do Exército