Wilson Tosta
Mesmo antes de iniciar o pagamento da maior parte de suas compras militares, que incluem submarinos, helicópteros e um lote de 36 caças, o governo federal elevou os gastos com defesa em 44,54% reais, de 2004 a 2009.
Levantamento do Estado no Portal da Transparência mostra que o Ministério da Defesa desembolsou, em 2009, R$ 47,13 bilhões, contra R$ 32,6 bilhões (já corrigidos) em 2004. A variação é maior do que o aumento real dos gastos do Ministério da Saúde (31,2%), mas menor do que os do Ministério da Educação: 70%.
"O orçamento da Defesa tende a ser ainda maior. Tem os aviões, tem a nova base de submarinos", afirma o professor Márcio Scalércio, do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ). Nos dois anos comparados, o Ministério da Defesa ficou em terceiro lugar em gastos, só atrás de Fazenda e Previdência Social.
"É preciso lembrar que a Defesa juntou os Ministérios da Marinha, Exército e Aeronáutica", diz o professor, que também destaca que nos anos 80 e 90 do século passado houve muita contenção de despesas na área, com sucateamento das Forças Armadas. O Ministério da Defesa argumenta que o aumento de gastos de 2004 a 2009 foi, na verdade, uma recuperação de recursos cortados em anos anteriores.
Scalércio explica que a maior parte do dinheiro das Forças Armadas, que têm 309.996 militares na ativa, além de funcionários civis e recrutas, vai para pessoal. "Boa parte do dinheiro vai para pagar salários e pensões. O oficial, em geral, vai até coronel, depois vem o funil, porque poucos viram generais. O sujeito então vai para a reserva na casa dos 40 anos, vai fazer mestrado, doutorado, trabalhar na iniciativa privada", diz o professor, destacando que isso é direito dos militares.
O professor Thomas Heye, coordenador da Graduação em Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), também acredita que haverá mais gastos. "O Brasil tem de ter meios de defesa. Tem de reaparelhar, não se trata de corrida armamentista."
Heye diz que, nos governos militares de 1964 a 1985, pouco se investia em equipamentos, porque as tropas eram voltadas para combater o "inimigo interno". Por esse termo, a esquerda era definida nas políticas da Doutrina de Segurança Nacional, adotada por ditaduras militares na América Latina nos anos 60, 70 e início dos 80. "O trabalho de contrainsurgência é relativamente barato", diz. "Agora, a coisa mudou. Nossas Forças Armadas estão voltadas para fora. O problema é a segurança regional."