19 de agosto de 2010

HISTORIADOR DIZ QUE CRUZ DE FERRO DE HITLER SE DEVE "À ELASTICIDADE DA CERVIZ FACE ÀS PATENTES SUPERIORES"


O livro Hitler's First War (A Primeira Guerra de Hitler), agora publicado pela Oxford University Press, e resultante de uma investigação académica de Thomas Weber, doutor em História Europeia e professor da Universidade de Aberdeen, Escócia, desfaz a narrativa cultivada pelos prosélitos nazis em torno do presuntivo heroísmo de Adolf Hitler nas frentes de batalha da Primeira Guerra Mundial, sugerindo, outrossim, que o Führer não chegou sequer a vislumbrar as zonas de combate – a mítica cruz de ferro de primeira classe resultou de um expediente com recorte menos "wageriano": a elasticidade da cerviz face às patentes superiores.
O estudo de Weber sobre a participação de Adolf Hitler na Primeira Guerra Mundial mostra que o então soldado tinha importância secundária no campo de batalha e era ridicularizado por companheiros de batalhão: "O mito de Hitler como um soldado corajoso e a camaradagem das trincheiras na Primeira Guerra foi usado pelo partido nazi para aumentar o seu apoio popular". O professor garante, aliás, que Hitler actuou longe dos campos de batalha e era visto pelos pares como "um solitário", o vulgo "morcão".
A investigação de Thomas Weber concentrou-se em cartas inéditas de outros soldados do regimento de Hitler durante a Primeira Guerra Mundial. As missivas colocam em dúvida a versão da História sugerindo que o nacionalismo e anti-semitismo de Hitler foram causados pela sua experiência na guerra. As cartas analisadas por Weber também confrontam a informação de que Hitler terá sido um herói militar durante aquele conflito.
Para o investigador, as cartas e diários de guerra indicam que os outros soldados do Regimento List ridicularizavam Hitler e gozavam com incapacidade dele em abrir uma lata de ração com a baioneta. Os soldados referiam-se a Hitler como "o pintor" ou "o artista" em tom jocoso, e as cartas indiciam que não seria grande apreciador do entretém favorito dos soldados: escrever cartas e beber cerveja. Ainda de acordo com os relatos analisados por Thomas Weber, Hitler era visto pelos camaradas como um soldado submisso aos superiores.

Weber descobriu que os registros da participação de Hitler na Primeira Guerra tinham ficado intactos até agora por terem sido catalogados sob um regimento diferente e arquivados no Arquivo de Guerra da Baviera. O professor Ian Kershaw, consagrado biógrafo de Hitler – cujo estudo extraordinário, Hitler – Uma Biografia, foi publicado em Portugal, em 2009, pela Dom Quixote –, aplaudiu a investigação por aquela suscitar "questões interessantes", enquanto que o Professor Conan Fischer, outro eminente historiador ouvido pelo The Guardian, afirmou: "Weber desenterrou um tesouro de provas novas".