15 de fevereiro de 2011

BRASIL ASSUME FORÇA-TAREFA NO LÍBANO COM FOCO NO COMBATE AO CONTRABANDO DE ARMAS

Brasil assume comando da Força da ONU no Líbano; foco é no combate ao contrabando de armas


Fabíola Ortiz
O Brasil assume esta semana o comando da Força-Tarefa Marítima da UNIFIL, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (United Nations Interim Force in Lebanon, na sigla em inglês). Formada por uma equipe de nove oficiais, a missão tem como principal intuito inspecionar a entrada de armamentos ilegais no país, através da Síria ou da Faixa de Gaza. 
“O MTF [Força-Tarefa Marítima] tem duas tarefas principais designadas pela ONU: impedir o contrabando de armas e materiais sem autorização do governo libanês e também treinar a Marinha libanesa para que ela seja capaz de fazer sozinha o patrulhamento de suas águas territoriais”, explicou ao Opera Mundi o contra-almirante Luiz Henrique Caroli, que desembarca nesta quarta-feira (14/02) em Beirute. 
Desde a sua criação, em 2006, quando Israel invadiu o Líbano, a Força-Tarefa Marítima sempre foi comandada por países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Contudo, após a retirada da Itália do comando naval, esta é a primeira vez quem um país não europeu é convidado pela ONU. 
“As Nações Unidas convidaram o Brasil em agosto de 2010 pelo fato de o Brasil ter tradição em missões de paz. Nosso país consultou Israel, que respondeu positivamente. A missão de manutenção da paz, como a UNIFIL, é principalmente estabelecida a partir do consenso dos beligerantes. E o Brasil foi bem aceito”, afirmou o contra-almirante Caroli. 
Junto com o almirante, irão integrar a comitiva do comando da MTF mais oito militares brasileiros. Há 38 anos na Marinha do Brasil, esta é a primeira vez que Caroli integra uma missão de paz internacional que tem mandato estabelecido de seis meses, podendo ser renovado. Em 2004, o militar comandou o porta-aviões São Paulo e, quando foi indicado a recente missão, liderava a 2ª Divisão da Esquadra no Rio de Janeiro. 
“Quando estivermos em Beirute, iremos passar por um programa da adaptação, pois esta é uma missão nova, longe e numa área mais sensível. Nossa expectativa é positiva, mas o perigo é grande e sempre existe risco”, disse o comandante. 

Tarefa Marítima 
Caroli irá comandar uma frota composta por oito navios de guerra de cinco nacionalidades distintas (Alemanha, Turquia, Grécia, Indonésia e Bangladesh), que irão abrigar quase 900 militares. O Brasil ficará responsável pelo patrulhamento da costa libanesa, uma dimensão pequena para os padrões brasileiro – a área refere-se ao tamanho da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. 
“Como toda missão de paz, a ideia é que a MTF acabe um dia assim que a Marinha libanesa tiver capacidade de patrulhar por si só. Em 2006, quando começou, eram 18 navios”, ressaltou. 
O comandante brasileiro da Força-Tarefa disse ainda que a ONU consultou o Brasil se poderia enviar um navio para a localidade. “A Marinha poderia mandar uma fragata de três mil toneladas, um navio preparado para fazer escolta. O Ministério da Defesa está analisando a possibilidade e, se julgar conveniente e o Congresso Nacional autorizar, a ideia seria enviar em breve um navio para lá, nos meses de abril ou maio”. 

Escolha brasileira 
Na avaliação do especialista em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Jorge Ramalho, o Brasil tem uma “reconhecida competência de capacitação tanto de militares quanto de diplomatas nas missões de paz”. 
Para ele, o reconhecimento da ONU tem exortado o Brasil a assumir mais responsabilidades no cenário internacional. “Ir para o Líbano é uma boa opção, é um grande aprendizado e um novo desafio também do ponto de vista militar. Tem havido muitos convites e demandas para que o Brasil integre outras missões como no Congo e no Sudão, situações mais complicadas”, afirmou Ramalho. 
Para o analista, a decisão brasileira foi uma “resposta correta e cautelosa”, pois atende aos interesses da ONU e envolve menos riscos. “A nossa atuação no Haiti continua sendo necessária. Não temos recursos suficientes para ir a numerosas missões. Não iremos dizer não sempre, mas podemos escolher quando e aonde ir. Não é só para fazer um favor, é também marcar uma posição do Brasil”, disse Ramalho. 
A UNIFIL foi criada em 1978 como forma de garantir a saída pacífica das tropas de Israel do sul do Líbano, além de evitar confrontos entre o movimento islâmico Hezbollah e Israel e apoiar o governo do Líbano a restaurar sua autoridade sobre a área. 
Atualmente, a UNIFIL é a maior missão de paz, com cerca de 13 mil componentes de mais de 30 países tendo o respaldo de 50 observadores militares. Em 2006, após a segunda guerra do Líbano, o Conselho de Segurança da ONU expandiu o papel da UNIFIL para atividades de ajuda humanitária e apoio ao Líbano na defesa de suas fronteiras prevenindo a entrada de armamentos ilegais no país. 
Segundo informações do Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas (DPKO), a missão já registrou um número elevado de baixas, 290, sendo que a maioria de soldados.
OPERA MUNDI