20 de outubro de 2014

Suspeito de atentado em prédio da Justiça Militar foi expulso do Exército após invadir casa de general.

Polícia Federal tem suspeito de atentado a prédio Justiça Militar
Jovem expulso do exército após invadir a casa de um general em 2012 teria tido a intenção de se vingar do juiz que aplicou a sentença
Polícia Federal tem suspeito de atentado a prédio Justiça Militar Humberto Trezzi/Agência RBS
Artefato foi jogado no gabinete do juiz e provocou chamas que se espalharam pelo andar, além do gabineteFoto: Humberto Trezzi / Agência RBS
Humberto Trezzi
Porto Alegre (RS) - Sem alarde, a Polícia Federal (PF) investigou e chegou a um suspeito da autoria do atentado contra o prédio da Justiça Militar da União, ocorrido em de maio, na Capital. Trata-se de um jovem que foi expulso do Exército após invadir a residência de um general. A motivação seria dupla: vingar-se e, também, mostrar que o dispositivo militar de segurança é falho.
Eram cerca de 23h20min de 21 de maio quando o prédio, situado na Rua Duque de Caxias, no Centro Histórico, foi incendiado. O fogo atingiu diretamente o gabinete do único magistrado que a Justiça Militar da União tem em Porto Alegre, Alcides Alcaraz Gomes, 56 anos. Filho do famoso e já falecido jornalista Flávio Alcaraz Gomes, o juiz atua desde 1987 na Justiça Militar, sempre julgando casos envolvendo integrantes das três Forças Armadas. Até por isso, as principais suspeitas se direcionaram à hipótese de vingança contra alguma sentença dada por ele.
A perícia feita pela PF concluiu que o autor do atentado teria agido sozinho. A suspeita é de que ele subiu pelas grades do prédio até a sacada onde fica o gabinete do juiz e colocou uma bomba caseira no local, feita com cilindros de metal e tubos de desodorante, recheados de combustível e enrolada em um cobertor. Ao ser acesa, uma mecha fez o combustível explodir, queimando a coberta e, de imediato, propagando o fogo por todo o andar. O gabinete ficou chamuscado e semidestruído pelas chamas.
Leia também:
Atentado provoca incêndio no prédio da Justiça Militar em Porto AlegreJuiz crê que atentado contra Auditoria Militar foi planejado
Câmeras de vigilância da Escola Técnica Estadual Senador Ernesto Dornelles, situadas nas proximidades, mostraram um homem atravessando a rua em direção ao prédio da Justiça Militar, instantes antes da explosão. Era o único na região, até porque chovia. Magro e com cerca de 1m80cm, vestia um moletom escuro. Foi possível ver que usava o cabelo comprido.
Com base nas imagens, a PF buscou identificar o suspeito. Funcionários da Justiça Militar lembraram de um soldado que foi julgado por invadir a casa de um general e tomar seus seguranças como reféns, em 2012. Preso horas depois de fugir, ainda com uma arma, ele declarou que tinha provocado o incidente "para mostrar como é falha a segurança da alta cúpula do Exército". Após cumprir alguns dias de prisão e ser monitorado pelo serviço reservado do Exército, ele foi considerado incapaz e expulso das fileiras militares.
Um atentado provocou um princípio de incêndio no prédio da Justiça Militar da União na Rua Duque de Caxias, centro de Porto Alegre (Foto: DIOGO ZANATTA/Agencia RBS)
Antes do ataque, ex-militar teria pedido perdão pelo que iria fazer
Com trajetória acompanhada por policiais, o ex-militar — que é evangélico pentecostal — postou em redes sociais vários slogans contra a Copa do Mundo e frases belicistas. Durante algum tempo, a imagem de fundo na timeline do seu Facebook era um post do filme Nascido para Matar, sobre um soldado que enlouquece na guerra do Vietnã. Em maio deste ano, antes do ataque, o jovem expulso do Exército apareceu em um quartel e falou a ex-colegas que desejava pedir perdão pelo que fez "e pelas coisas que ainda farei". Dias depois, aconteceu o atentado contra o prédio da Justiça Militar.
Munidos dessas informações e diante do fato de que o rapaz tem porte semelhante ao do suspeito identificado pelas câmeras de vigilância, os federais pediram busca e apreensão na residência do ex-militar. O pedido foi negado pelo Ministério Público Federal, que considerou os indícios frágeis. A PF encaminhou o caso a promotores da área militar, pedindo que concedessem a autorização. O jovem foi ouvido e negou ter cometido o atentado.
O juiz Alcaraz Gomes ainda não recebeu o resultado da investigação. Ele considera o episódio intrigante, mas não descarta a hipótese de vingança.
— Reconstruímos o gabinete e reforçamos toda a segurança do prédio — informou.
Zero Hora/montedo.com