28 de dezembro de 2014

A menos de dois anos dos Jogos de 2016, Forças Armadas atraem cada vez mais atletas

Benefícios, como salário e plano de saúde, e estrutura de alto nível para treinamento são os principais atrativos
Martine Grael (à esquerda) e Kahena Kunze, da Marinha, com os troféus de melhores atletas de 2014, durante cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico. Foto: Cezar Loureiro
POR CLAUDIO NOGUEIRA E SANNY BERTOLDO
RIO — O Prêmio Brasil Olímpico, que, há 12 dias, elegeu as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze e o ginasta Arthur Zanetti os melhores atletas de 2014, também revelou um movimento que, desde 2008, vem atraindo atletas brasileiros das mais variadas modalidades. Fardados, em contraste com os longos ou curtos impecáveis dos demais convidados, oito atletas subiram ao palco do Theatro Municipal para receber o troféu de destaques em suas modalidades com o uniforme da Aeronáutica, Exército ou Marinha, além de outros tantos que circularam pelo local durante o evento. Os atletas foram orientados a usarem a farda na cerimônia.
As três Forças Armadas reunidas tiveram mais premiados do que qualquer clube brasileiro, oito no total: Yane Marques (pentatlo moderno), Pâmela Oliveira (triatlo) e Renzo Agresta (esgrima), do Exército; Aline Silva (luta olímpica), Mayra Aguiar (judô) e Martine Grael e Kahena Kunze (vela), da Marinha; e Bruno da Silveira Mendonça (hóquei sobre grama), da Aeronáutica. Se comparado com os cariocas, então, nem se fala. Apenas Fabiana Beltrame e Giovana Stephan, ambas do Flamengo, foram escolhidas as melhores, respectivamente, no remo e no nado sincronizado.
Pelo menos no Rio, o panorama não deve mudar muito no futuro próximo já que, em crise financeira, Botafogo, Fluminense e Vasco não têm o esporte olímpico entre suas prioridades. O Flamengo, que no início de 2013 acaboucom as equipes de judô, natação e ginástica, também por falta de dinheiro, está voltando a investir e, no último dia 16, assinou um convênio de liberação de recursos com a Confederação Brasileira de Clubes (CBC) para receber R$ 5,4 milhões da Nova Lei Pelé. Do Rio, apenas o Tijuca Tênis Clube também será beneficiado, com R$ 958 mil. Outros 14 clubes receberão o investimento: quatro de São Paulo, três do Rio Grande do Sul, um de Goiás, dois de Minas Gerais e quatro do Paraná. Entre eles, os tradicionais Minas Tênis Clube, onde treina o campeão olímpico e Mundial Cesar Cielo (que não teve seu contrato com o Flamengo renovado), o Grêmio Náutico União e a Sogipa.
A judoca Mayra Aguiar é da Marinha - VASILY MAXIMOV / AFP
Atualmente, 563 atletas de alto rendimento — 191 no Exército, 149 na Aeronáutica e 223 na Marinha — são militares. Inicialmente contratados visando aos Jogos Mundiais Militares de 2011, prática comum em países como China, Rússia, Itália e Alemanha, os atletas acabaram encontrando fora dos clubes a estabilidade necessária à preparação para suas competições mais importantes. Para quem não tem patrocínio e estrutura (e são muitos), os benefícios oferecidos, como salário, 13º, plano de saúde, férias, local adequado para treinamento e apoio financeiro para viagens, são um atrativo e tanto.
— Hoje o programa das Forças Armadas é uma realidade para o desporto nacional. Mais de 50% dos nossos atletas têm como remuneração principal o soldo do Exército — explica o Major Romão, gerente do Programa de Atletas de Alto Rendimento do Exército.
Os atletas incorporados às Forças Armadas são considerados de “serviço técnico temporário” e, dependendo de onde estejam, podem fazer parte do projeto esportivo por até nove anos. Os salários também variam de acordo com a patente, chegando a cerca de R$ 2700. Na Marinha, fazem parte do Programa Olímpico 20 modalidades; no Exército, 18; e na Aeronáutica, 9.
— Estou desde 2010 na Marinha Faz um tempo que as Forças Armadas estão incentivando o esporte, e é algo muito legal tanto para nós atletas quanto para elas. A vida militar tem valores muito próximos aos do esporte — diz a velejadora Martine Grael, também escolhida a melhor velejadora de 2014 pela Federação Internacional, ao lado de Kahena. — O apoio das Forças Armadas é muito importante. No Cefan, temos um centro incrível de treinamento com fisioterapia, piscina, e tudo mais que a gente precisa.

CINCO MEDALHISTAS OLÍMPICOS
Também atleta da Marinha, o velejador e medalhista olímpico Bruno Prada completa:
— Entramos, em novembro, eu, Jorginho (Zarif) e Kahena. Primeiramente, é uma honra poder integrar a Marinha, e além disso, há a estrutura oferecida, valores como hierarquia e disciplina, que têm a ver com o esporte. É algo muito bacana e espero dar retorno ao que a Marinha nos têm dado. Em alguns casos, ela ajuda a disputar campeonatos, e é mais um grande parceiro, além dos patrocinadores, da CBVela e do COB. É mais uma peça deste quebra-cabeças.
Felipe Kitadai é outro atleta das Forças Armadas - Ary Cunha
O investimento no esporte de alto rendimento rendeu frutos já em seu primeiro objetivo. Com participação bem modesta nas outras quatro edições dos Jogos Mundiais Militares, que começaram a ser disputados em 1995, em Roma, na Itália, o Brasil terminou o megaevento de 2011, em casa, na liderança do quadro de medalhas, desbancando potências como China e Itália. Nas Olimpíadas de Londres-2012, 51 dos 259 atletas da delegação eram militares. Das 17 medalhas, cinco individuais foram de integrantes das Forças Armadas: o ouro da judoca Sarah Menezes, da Marinha; e os bronzes da pentatleta Yane Marques e dos judocas Felipe Kitadai e Rafael Silva , do Exército; e da judoca Mayra Aguiar, da Marinha.
Em 2015, o desafio será repetir o desempenho nos Jogos Mundiais Militares, dessa vez em Mungyeong, na Coreia do Sul, de 29 de maio a 5 de junho. Em 2016, será a vez das Olimpíadas, em casa. (R. A.)
O Globo, via Resenha do Exército/montedo.com