6 de dezembro de 2015

Prefeitos de Pernambuco não querem arcar com custos do Exército no combate ao zikavírus

Exército sem dinheiro para ajudar no combate ao ‘Aedes’
Governo do estado e municípios de Pernambuco ainda negociam como arcar com custos de deslocamento e alimentação dos militares
RENATA MARIZ
BRASÍLIA - Decidida há dez dias pelo governo federal, a ida do Exército ao Nordeste para ajudar no combate ao Aedes aegypti está travada por uma questão financeira. O estado de Pernambuco, onde já foram registrados 646 casos de microcefalia, malformação provavelmente causada pelo vírus da febre zika, transmitido pelo mosquito, ainda está negociando os custos de deslocamento e alimentação dos militares. Prefeitos da região se recusam a dividir a conta e vão cobrar da presidente Dilma Rousseff, que fará visita ao Recife neste sábado, um auxílio mais efetivo.
- Alguns prefeitos já receberam a sinalização de que terão de arcar com os gastos de combustível e alimentação dos militares. Se for assim, é preferível criarmos uma bolsa ou gratificação para mobilizar pessoas da própria comunidade. Os municípios não têm recursos -- afirma José Patriota (PSB), prefeito de Afogados da Ingazeira (PE) e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe).
Os prefeitos também cobrarão de Dilma a revogação de uma portaria, editada pelo Ministério da Saúde no meio deste ano, que estabeleceu o número máximo por município de agentes de combate a endemias pagos com recursos federais. Segundo Patriota, a medida acarretou, na prática, na demissão de cerca de 40% dos profissionais nos municípios. Segundo ele, os que tinham caixa ainda mantiveram os agentes. Outros já dispensaram parte do efetivo.
O Exército, via assessoria de imprensa, confirmou que os custos da mobilização ficarão por conta da Secretaria de Saúde de Pernambuco, mas não detalhou os valores. Segundo o órgão, cerca de 200 militares lotados em quatro cidades do estado -- Recife, Petrolina, São Bento do Una e Garanhuns -- começaram uma qualificação sobre como combater o Aedes aegypti nesta sexta-feira. Mas, ainda de acordo com o Exército, não houve, por enquanto, ações de campo.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco respondeu por meio de nota. “Os cronogramas de ações estão sendo fechados e devem ser divulgados já na próxima semana. Os custos também estão sendo negociados”, diz o comunicado. Pernambuco é o centro da epidemia de microcefalia no país, com 646 casos. No Brasil, foram registrados 1.248 ocorrências este ano, contra 147 em 2014.

O Ministério da Saúde confirmou, no último fim de semana, que o surto tem relação com o vírus da febre zika, transmitido pelo Aedes aegpyti. A microcefalia é uma malformação em que os bebês nascem com a cabeça menor que o normal e que, em 90% dos casos, leva ao retardo mental. Em determinadas situações, pode levar à morte. Antes da epidemia de microcefalia, a febre zika era considerada de menor gravidade. Dengue e zika, mais a febre chicungunha, são transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti.
O GLOBO/montedo.com