Eduardo Simões (Reuters)
O processo de escolha dos caças que substituirão a frota da Força Aérea Brasileira (FAB) se aproxima do fim, ao menos pelas declarações recentes do comando da Aeronáutica e do Ministério da Defesa.
Duas das empresas finalistas na disputa expõem suas cartadas finais, a norte-americana Boeing e a sueca Saab, enquanto a francesa Dassault, apontada como favorita, prefere aguardar a decisão brasileira com discrição.
O governo dos Estados Unidos elaborou uma agenda cheia de visitas de autoridades ao Brasil, como a da secretária de Estado, Hillary Clinton, que desembarca no país nesta terça-feira, dias depois da chegada ao Rio de Janeiro de um porta-aviões norte-americano trazendo a bordo alguns exemplares do F-18 Super Hornet da Boeing, candidato norte-americano na licitação.
A Boeing acena com a possibilidade de realizar uma parceria com a brasileira Embraer, noiva mais cortejada entre as três concorrentes, para o desenvolvimento da próxima geração do Super Hornet.
"Nós vamos financiar a Embraer para fazer parte das fases de definição de exigências e da definição de conceitos desse programa", garantiu à Reuters o executivo da Boeing responsável pela proposta da empresa ao Brasil, Mike Coggins.
Segundo ele, uma parceria entre a Boeing e empresas brasileiras pode garantir acesso ao mercado dos EUA, país que tem orçamento anual na área de defesa de 700 bilhões de dólares.
A Saab, que está na briga com o Gripen NG, já tinha como uma de suas principais bandeiras a parceria com a Embraer no desenvolvimento do caça, que ainda está em fase de projeto, e agora indica a possibilidade de comercialização conjunta do avião no mercado mundial.
A fabricante estima que os dois países --Brasil e Suécia-- podem dividir um bolo de 40 bilhões de dólares nos próximos 20 anos com o Gripen NG.
"O que nós propomos à Aeronáutica e ao governo brasileiro é o terceiro grande saldo tecnológico da indústria aeronáutica brasileira", afirmou o diretor-geral da Saab no Brasil, Bengt Jáner, que diz que 40 por cento do desenvolvimento do caça seria feito no Brasil, ao lado da Embraer.
A Dassault, fabricante do Rafale e vista como favorita após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, indicando a preferência pela França, se mantém mais discreta.
Por meio de nota, afirmou que sua proposta inclui a transferência gradual da linha de montagem do Rafale ao Brasil e garantias de que o país será a plataforma de exportação do caça para a América Latina.
Sob orientação da FAB, a Embraer tem se recusado a comentar o programa para a compra de novos caças, conhecido como F-X2.
Na semana passada, o comandante da FAB, brigadeiro Juniti Saito, disse que o governo deve anunciar até o final de março a escolha do caça que será comprado pelo Brasil, após a entrega de relatório técnico ao governo.
DECISÃO POLÍTICA E PREÇO
Nenhuma das três proponentes divulgou informações financeiras de suas propostas ao governo brasileiro, em um contrato estimado em bilhões de dólares.
O preço é apontado como grande obstáculo para que o país ainda não tenha anunciado a vitória do Rafale na disputa. O avião francês seria o mais caro, de acordo com especialistas.
Lula já garantiu que a decisão final do governo brasileiro levará em conta critérios políticos, e a França tem com o Brasil uma aliança estratégica que já resultou na compra de helicópteros militares e submarinos por Brasília.
Além disso, Paris apoia as pretensões brasileiras de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Jáner, da Saab, destacou que a fabricante sueca optou por seguir um "caminho independente" na disputa pelo contrato, afirmando que "não fazemos parte de um conselho da ONU".