General da reserva diz que Exército não se desculpará
"Com base em 50 anos de vivência na instituição, creio que esse pedido de desculpas, por parte do Exército, não virá. E, se vier, aquele que o fizer será considerado leviano, e será, inexoravelmente, marcado como um traidor, à semelhança de Calabar"
Tânia Monteiro
O ex-chefe do Estado Maior da Defesa, general Rômulo Bini Pereira, atualmente na reserva, reagiu às recentes declarações de que as Forças Armadas devem um pedido formal de desculpas ao País por causa dos erros cometidos durante o regime militar. Essa cobrança foi feita tanto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como por Franklin Martins, que foi ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo Lula. Para o general Bini, "esse pedido de desculpas, por parte do Exército, não virá".
Ao falar sobre o caso, o general faz referência somente às afirmações de FHC. Embora lembre que o ex-ministro de Lula também falou do assunto, não se refere a Franklin na sua resposta. "Com o devido respeito ao ilustre ex-presidente, discordo. Com base em 50 anos de vivência na instituição, creio que esse pedido de desculpas, por parte do Exército, não virá. E, se vier, aquele que o fizer será considerado leviano, e será, inexoravelmente, marcado como um traidor, à semelhança de Calabar", disse o general à Agência Estado.
Rômulo Bini disse estar "indignado com a série de matérias que têm como única finalidade denegrir a revolução". O general acrescentou ainda que os militares "reconhecem que houve erros de parte a parte", mas ressalva que "infelizmente somente uma das partes é tratada como vilã".
Segundo informações obtidas pela Agência Estado, militares da reserva e até mesmo da ativa estão bastante "incomodados" com os ataques feitos ao movimento de 64, que completou 50 anos em 31 de março. A pressão do governo sobre os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica pela abertura de sindicâncias para apurar casos de violação de direitos humanos em instalações militares durante a ditadura foi muito criticada pela ativa e pela reserva.
Militares ficaram inconformados com o fato de seus comandantes terem sido obrigados a ceder às pressões da Comissão Nacional da Verdade, que encaminhou queixas ao Planalto dizendo que as Forças Armadas não estavam colaborando com os pedidos dos conselheiros.
O fato é que os militares da ativa são proibidos pelo regulamento interno de falar e os da reserva têm recebido apelos para que não joguem álcool na fogueira. Nesse episódio, o único ponto considerado positivo foi a declaração da presidente Dilma Rousseff, em discurso no dia do aniversário do movimento, de que não apoia as iniciativas da esquerda de revisar a Lei de Anistia. Ela destacou que essa lei foi construída a partir de acordo entre as partes.
Há dois meses, o general Bini havia publicado artigo no jornal O Estado de S. Paulo no qual defendeu o movimento, criticando a Comissão da Verdade e atacando Dilma. Citou que a presidente "demonstra ser incapaz de governar com seriedade, equilíbrio e competência" e que, "diante de qualquer obstáculo, convoca especialistas em propaganda e marqueteiros para que façam diminuir ou mascarar os pontos negativos que poderão surgir, pois só o que ela e seu partido querem é conseguir a reeleição".
O Comando do Exército tem adotado a postura de ignorar as críticas de Bini e, inclusive, tem omitido as declarações do general em sua resenha de notícias, que é distribuída para todas as unidades militares do País. Apesar da disseminação da internet, em muitas unidades militares, principalmente no norte do País, apenas a resenha do Exército chega como meio de informação ao pessoal, pelas dificuldades de comunicação que ainda existem.
Estadão Conteúdo/montedo.com