Reinaldo Azevedo
Não conheço detalhes, confesso, do governo de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul. Sei, porque isso é fato comprovável, que ela recuperou as contas do Estado, que estavam devastadas. E parte do ódio que despertou vem daí. Mas só uma parte. Não conheço, reitero, detalhes do governo. Mas sei reconhecer uma tentativa de linchamento quando diante de uma. Já escrevi a respeito. Tenho amigos no Estado que a defendem com convicção, e há outros que vêem incompetência política gritante. Bem, de quase todos os governos, pode-se dizer o mesmo. O que é inédito, e isso só Yeda Crusius experimentou, foi a conjugação de forças políticas as mais heterogêneas para tentar derrubá-la: de uma suposta direita (que, de direita, não tem nada; o que falta é remédio) à extrema esquerda mais delirante.
A tentativa de derrubá-la não é inferência — como Lula fazia durante o mensalão: “Estão querendo me derrubar…”, o que era cascata. Os adversários de Yeda tentaram mesmo. E mais de uma vez. Com provas na mão das lambanças no governo Lula, a oposição nunca ousou ir tão longe. Sem provas, os inimigos de Yeda pediram a sua cabeça.
Não me lembro de ter assistido a coisa semelhante no Brasil. As únicas provas até agora apresentadas contra Yeda são aquelas que nascem da convicção dos acusadores. Algo semelhante, creio, só Eduardo Jorge Caldas Pereira — secretário-geral da Presidência na gestão FHC e agora secretário-geral do PSDB — experimentou. E ele provou, de maneira acachapante e um tanto humilhante para a imprensa, ser inocente. Ocorre que tinha caído na malha da difamação liderada por um procurador destrambelhado.
O Ministério Público pediu o afastamento de Yeda. Provas? Não havia nenhuma. Elas ainda seriam produzidas. Sindicatos entraram com um pedido de abertura de processo de impeachment, pressurosamente aberto por um petista. Provas? Ainda seriam produzidas. Acusa-se a governadora de ter comprado uma casa com dinheiro do caixa dois. Provas? Calma, gente! Eles ainda precisam ser produzidas. Nunca antes nestepaiz... Nunca antes no Rio Grande. A família Genro, dividida na política entre a extrema esquerda e a esquerda extrema, uniu-se episodicamente. E PT e PSOL entoaram a cantilena: “Fora Yeda”, engrossada por sindicatos ligados, por que não seriam?, à CUT.
As tais gravações bombásticas contra a governadora, que seriam “a” prova, não passam da voz do acusador gravando a si mesmo. Nunca antes no mundo! Querem derrubar Yeda? Acham que seu governo é ruim? Acusam-se de desvios éticos? Terão de apresentar algo mais do que a simples acusação. Não estou assegurando aqui que nada aconteceu porque não asseguro isso sobre nenhum governo. Estou dizendo, sim, com todas as letras, que não se apresentou uma maldita evidência até agora. NADA!!! Se aparecer, aí a gente conversa.
Mas é claro que a sua credibilidade foi para o brejo, assim como a situação de Eduardo Jorge ficou insustentável. Ele exercia cargo de confiança e saiu. Ela foi eleita pelo povo, e a deposição requer alguns rituais. O que sobra como lição não deixa de ser uma advertência importante a todos aqueles que fazem oposição aos petistas e às esquerdas: essa gente é capaz de tudo e pode destruir uma reputação por força de repetir todos os dias as mesmas acusações. E, como se sabe, com forte presença no que eles chamam “mídia”.
Eleição
Não sei se Yeda vai reunir condições de disputar mesmo a reeleição no ano que vem. Seus índices nas pesquisas são ruins. Ela diz que vai. Caso leve adiante o seu intento, acho que ela já tem uma excelente material de campanha em mãos. Se eu fosse seu marqueteiro, levaria ao ar as manifestações pedindo a sua saída e diria, ali, quem é quem. Exibiria aquela coletiva patética de procuradores se comportando como um pelotão de fuzilamento, condenando antes mesmo do julgamento; reproduziria até as tais fitas antes tidas como provas irrefutáveis — anunciadas, diga-se, previamente por Luciana Genro…
E depois indagaria o óbvio: “O que é que esta gente tem contra mim, até agora, que não seja ódio?” E não deixaria passar a cena em que a governadora é acuada na sua própria casa, impedida de levar o neto para a escola. É isto mesmo: se optaram por estraçalhar uma reputação em praça pública sem uma miserável prova nas mãos, que lhes sejam oferecidos agora os despojos, até onde eles próprios conseguiram apurar, de comprovada inocência.
É preciso exibir aos próprios gaúchos os requintes da pantomima surrealista que lá foi protagonizada. Ou, então, que aquela turba apresente algo mais do que acusações e disposição para tomar o poder na marra. É preciso indagar aos gaúchos se o poder, no Estado, agora vai ser tomado na base do grito e da passeata. Quanto a Tarso Genro, que agora dá plantão no Estado, cabe que se lhe faça uma indagação: tão pressuroso em provar, como ministro de estado, a inocência de Cesare Battisti, um homicida comprovado, talvez lhe tenha faltado cuidado no trato com uma adversária política que, até agora, é inocente comprovada.
Mas Tarso, vocês sabem, quer Battisti no Brasil e Yeda fora do governo. Quando se é Tarso, não deixa de haver coerência nisso.
Do blog de Reinaldo Azevedo