22 de outubro de 2017

Polícia investiga se sargento que era armeiro do tráfico desviou peças do Exército

Carlos Alberto de Almeida, de 46 anos, foi preso nesta sexta-feira, na Favela da Coreia
Sargento trabalhava na reserva de material bélico do Exército - Márcio Alves / O Globo
RAFAEL SOARES
RIO — Agentes da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) e militares do setor de inteligência do Exército fazem uma perícia nos armamentos apreendidos com o sargento do Exército Carlos Alberto de Almeida, de 46 anos, em uma oficina clandestina de armas. O militar — apontado como o maior armeiro do tráfico no Rio — foi preso nesta sexta-feira na Favela da Coreia, em Senador Camará, Zona Oeste. A polícia suspeita que o sargento, que foi lotado por 25 anos na reserva de armamento da unidade militar da Escola de Sargentos de Logística (ESSLOG), desviava peças do Exército para o tráfico. Há dois meses, com as investigações em andamento, ele foi retirado da função.
Agentes da especializada não acreditam que o sargento tenha retirado armas das reservas dos militares, por conta do controle rígido, mas não descartam que ele tenha desviado pequenas peças, como molas. Nas oficinas que mantinha em favelas, Almeida — conhecido também como Soldado, Mauricinho ou Professor — fazia uma série de modificações em armas a pedido de bandidos e lidava com uma série de peças difíceis de serem adquiridas.
Uma das mudanças mais pedidas pelos traficantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP), para quem ele estava trabalhando no momento em que foi preso, é a retirada da coronha de fuzil, que torna o armamento mais fácil de ser escondido e transportado. Almeida também pintava as armas nas camuflagens pedidas pelos traficantes.
As investigações dão conta de que ele trabalhava como armeiro há pelo menos dez anos. Almeida usava equipamentos de ponta retificar fuzis e pistolas, fabricar peças de armas e realizar a manutenção das armas do tráfico. Na ação de ontem, foram apreendidas duas máquinas fresadoras, duas máquinas torno mecânico, uma delas computadorizada, ferramentas de usinagem para torno e fresadora, serra de fita e prensa hidráulica.
Na operação, além do sargento Carlos Alberto de Almeida, também foram presoas Alexsandro Rodrigues Figueira, Felipe Rodrigues Fugueira e Murilo Barbosa Ludigerio. As informações foram divulgadas pela Polícia Civil.
Na tarde deste sábado, agentes da Polícia Civil e do Exército voltaram a Senador Camará e fizeram nova operação para retirar as máquinas usadas na oficina clandestina. Como muitos dos esquipamentos são pesados os policiais precisaram de caminhões e empilhadeiras do Exército. A polícia informou que pedirá à justiça o direito de usar tudo os equipamentos.

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Contratado por Rogério 157
Na véspera do início da Guerra na Rocinha, Almeida e seus comparsas montaram uma oficina de armas no interior da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, com o objetivo de preparar as armas de Rogério 157 que se preparava para a guerra. O sargento contratado diretamente por Rogério 157 e atuaria pela primeira vez em uma comunidade dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA), em virtude da aliança entre o TCP e a ADA denominada TCA.
— Recentemente, ele teve uma aproximação com a facção Amigos dos Amigos, na Rocinha. Às vésperas dos confrontos recentes, chegou a instalar uma oficina no interior da comunidade a mando de Rogério 157. Porém, logo a guerra se iniciou, e ele não chegou a atuar no local. Levou bancada, ferramentas, mas não operou — detalhou o delegado Fabricio Oliveira, titular da Desarme.
Segundo Oliveira, o sargento relatou ainda que o envolvimento dele com o tráfico teve início em um momento que passava por dificuldades financeiras:
— Ele relatou que, após dificuldades financeiras, diz que teria sido vítima de uma saidinha de banco, acabou realizando trabalhos para o tráfico na Vila Aliança há alguns anos. E isso foi se estreitando — contou.
O Globo/montedo.com

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