As  pessoas perseguidas e os parentes de vítimas da ditadura militar   (1964-1985) esperam que o futuro presidente da República abra os   arquivos das Forças Armadas e revelem os documentos com as informações   sobre o paradeiro dos corpos de cerca de 400 desaparecidos políticos.   Além disso, pleiteiam acesso às informações sobre as operações militares   de combate à luta armada para saber como se deu a captura e a morte  dos  parentes.
“A  expectativa é de que quem for eleito  democraticamente resolva essa  história. As coisas não podem ficar  ocultas”, disse Diva Santana, da  comissão interministerial que acompanha  as operações de resgate de  restos mortais de pessoas envolvidas na  Guerrilha do Araguaia.
A  mesma esperança os parentes de  vítimas e perseguidos da ditadura  tiveram nas eleições de Fernando  Henrique Cardoso (1994) e de Luiz  Inácio Lula da Silva (2002). Diva  Santana é irmã de Dinaelza Santana  Cerqueira e afirma que passados mais  de 35 anos dos combates no  Araguaia ainda não tem informações sobre a  irmã. “Nós sabemos dela  durante a infância e a adolescência. Sobre a  vida adulta de minha irmã  quem sabe são os militares”, disse.
As   Forças Armadas, no entanto, alegam não ser possível resgatar a memória   dos combates e das prisões porque os arquivos foram destruídos. Para   Narciso Pires, do Grupo Tortura Nunca Mais (do Paraná), o “argumento é   falso”. Em sua avaliação os militares não eliminariam os arquivos:   “informação é poder. Não se joga fora”. Para ele, a não abertura dos   arquivos estimula a tortura até hoje por causa da impunidade. Ele avalia   que o país vive atualmente a “plenitude da vida democrática, no  entanto  sem consolidá-la”, porque não esgotou a apuração do que ocorreu  na  ditadura.
Quem  vier a ocupar o Palácio do Planalto  deverá acompanhar a tramitação do  projeto de lei (PL 7376/10) que cria a  Comissão da Memória e da Verdade  e poderá herdar a condenação do Estado  brasileiro na Corte  Interamericana de Direitos Humanos, ligada à  Organização dos Estados  Americanos (OEA), por causa das perseguições,  mortes e desaparecimentos  forçados de cerca de 70 pessoas durante a  Guerrilha do Araguaia (1972 -  1975).
O  julgamento na  OEA deverá ser concluído em novembro. As audiências  ocorreram em maio  passado, em San José, na Costa Rica, quando o governo  brasileiro  defendeu a tese de que não há necessidade de julgamento na  corte  interamericana, uma vez que o país concede reparações a  anistiados e  atua em favor do direito da memória e da verdade.
A   delegação brasileira também ponderou que a corte interamericana não   teria como reformular decisões tomadas em processo judicial, como   ocorreu em abril no julgamento sobre a abrangência da Lei da Anistia no   Supremo Tribunal Federal (STF). Naquele julgamento, para a frustração  de  parentes de vítimas e perseguidos da ditadura, a corte desconsiderou  a  possibilidade de processar quem tenha cometido crimes como de  tortura  durante o regime.
“O  Estado democrático de hoje não  pode ser conivente com aquele regime  que usurpou direitos”, criticou  Iara Xavier Pereira, que teve a mãe  presa, o pai exilado e ainda perdeu o  marido e dois irmãos (ligados à  Aliança Libertadora Nacional), mortos  durante o regime.
Para  Ivan Seixas, do Conselho  Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa  Humana (SP), a mudança de  atuação do Estado, a abertura de arquivos e a  tramitação de projetos de  lei no Congresso Nacional “dependem da  vontade popular. “Não basta a  vontade do presidente”. Vitória Grabois,  presidente da seção fluminense do Grupo Tortura Nunca Mais , lembra  que é a pressão da opinião  pública, inclusive estrangeira, que faz as  coisas andarem.
Segundo   ela, foi a pressão internacional que levou o ex-presidente Fernando   Henrique Cardoso a sancionar a Lei 9.140/1995, que reconheceu como   mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de   participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de   1961 a 15 de agosto de 1979.
A  Agência Brasil entrou em  contato por telefone na última terça-feira  (7)e por e-mail com a  assessoria de comunicação do Ministério da Defesa  para saber a posição  do ministério e das Forças Armadas sobre a  abertura de arquivos  militares a época da repressão sobre movimentos de  luta armada durante o  regime militar (1964-1985), mas não teve  retorno.
Agência BrasilComento:
Ótima idéia. Tão boa que, como há consenso sobre o assunto, não apenas o Presidente Lulla, mas os membros de outras instituições da República poderiam fazê-lo desde já. Que tal começar pelo processo da Dilma trancado à sete chaves num cofre do STM?