22 de abril de 2012

Ocupação de favelas do Rio custará R$ 360 milhões ao Exército

MARCO ANTÔNIO MARTINS
Daniel Marenco/Folhapress
Daniel Marenco/Folhapress 
De pé na porta de bares, jovens moradores do Complexo do Alemão apontam, riem e debocham de soldados do Exército que percorrem, durante a madrugada, as vielas das favelas em mais uma das rondas de policiamento.
Há duas semanas a Folha acompanhou, ao longo de cinco horas, uma dessas rondas. O clima é tenso quando os soldados passam. Os poucos moradores nas ruas olham ressabiados, de longe.
Em alguns becos, muitas vezes a pouca iluminação que existe é apagada quando os militares passam.
"É uma forma que eles encontraram de saber em qual ponto da comunidade nós estamos, e de nós entendermos que estamos perto de alguma boca de fumo", diz Neiva.
Segundo os militares, tem sido cada vez mais comum o surgimento de crianças no alto das lajes para jogar pedras e até bombinhas de fabricação caseira nos soldados.
"Há um distanciamento. Os diálogos só acontecem quando há uma discussão. Há intervenção sem integração", reclama Alan Brum, da ONG Raízes em Movimento.
Manter a Força de Pacificação do Exército nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, de novembro de 2010 a novembro de 2011 custou ao governo federal R$ 216 milhões.
Isso equivale a quase a metade dos R$ 493 milhões destinados ao Exército no ano passado para modernização.
Ou seja, o equivalente a cerca de 38% do orçamento destinado à Força.

QUEDA NAS MORTES
Até o final da operação, prevista para junho, o gasto total será de R$ 360 milhões para manter 1.800 homens, mais do que o previsto pelo governo do Estado para instalar e manter pessoal nas oito bases de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) programadas para os complexos do Alemão e da Penha.
Nelas, a Prefeitura do Rio e o governo estadual gastarão R$ 132 milhões por ano para manter um efetivo de 2.200 PMs.
A ocupação do Exército não extinguiu o tráfico, mas os militares estimam que ele se limite ao consumo interno de moradores viciados das favelas. Mesmo assim, o Exército descobriu que ainda há fuzis no interior das comunidades de Nova Brasília e da Fazendinha, que compõem o Complexo do Alemão. Em fevereiro houve troca de tiros. Ninguém se feriu.
"Foram vários disparos de 7,62 [calibre de fuzil] feitos contra a tropa. Essas armas estão por lá", afirma o tenente-coronel Vladimir Neiva.
As duas favelas ganharam UPPs nesta semana. Os militares permanecem em parte do Alemão e em toda a Penha.
Editoria de arte/Folhapress
Durante a presença dos militares, houve expressiva redução no total de homicídios na região. Nos 25 primeiros dias de novembro de 2010 houve 13 assassinatos na região --as tropas entraram nos dois complexos no dia 25 de novembro.
Um ano depois, em dezembro de 2011, o ISP (Instituto de Segurança Pública) registrou só um homicídio.
Durante os 16 meses de ocupação, seis diferentes unidades do Exército passaram pelos dois conjuntos de favelas que somam cerca de 220 mil pessoas, segundo o IBGE.
Para o comando do Exército, a atuação de soldados na área urbana serviu para reduzir a criminalidade e para treinar a tropa.
Quando o Exército deixar o local, o prédio que é a base da Força ficará como sede administrativa da UPP. "Foi feito um investimento grande aqui, mas mesmo assim é mais barato do que se viesse outra instituição", calcula o general Tomás Paiva, ex-comandante da Força de Pacificação.
Folha.com/montedo.com

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