 
     É Nelson Jobim, ministro da defesa do Brasil, quem  apresenta com uma mensagem em vídeo o trailer do longa "Segurança  nacional" a um grupo de jornalistas reunidos na Base Aérea de Guarulhos,  em São Paulo. A mensagem elogiosa de Jobim, celebrando o filme do  diretor Roberto Carminatti como "um cinema que olha para a frente", ecoa  nos discursos dos comandantes e oficiais das Forças Armadas, também  presentes ao evento que apresentou elenco e equipe de produção do filme  dentro de um hangar, tendo como pano de fundo diversas aeronaves da  Força Aérea Brasileira.
Cenário e personagens inusitados para o lançamento de um filme,  não fosse "Segurança nacional" uma obra realizada com a participação  direta e indireta das Forças Armadas, que prestaram consultoria e  forneceram aeronaves, veículos e condições para que muitas das cenas  fossem realizadas durante missões militares de treinamento.
O filme, que retrata militares brasileiros como heróis capazes de  impedir com inteligência e tecnologia os mais ardilosos inimigos,  apresenta as Forças Armadas de forma positiva, sem aludir ao passado  recente do país, entre 1964 e 1985, tempo que durou a ditadura militar  brasileira.   
- Sou de uma geração que não viveu a ditadura. Prefiro olhar para  a frente. Os militares para mim tem a ver com os desfiles que via  quando criança, o patriotismo, a visita que faziam uma vez por semana a  minha escola. Devemos aprender com o passado e olhar para o futuro. A  possibilidade de [uma ditadura ou golpe militar] acontecer novamente é  muito pequena. É a sociedade civil quem vai dizer como quer que as  Forças Armadas atuem - diz Carminatti, que tem 33 anos, nasceu nos  Estados Unidos e se formou em cinema em Boston, mas viveu a maior parte  de sua vida em Criciúma, Santa Catarina - Se não fosse cineasta,  provavelmente estaria fardado - completa o diretor, justificando seu  interesse por temas militares.   
O protagonista do longa, o ator Thiago Lacerda, conta que  aceitou viver o agente secreto da Agência Brasileira de Inteligência  (ABIN) Marcos Rocha porque queria trabalhar em um filme de ação. Thiago  torce para que o cinema brasileiro seja capaz de se dedicar a uma ampla  gama de gêneros, incluindo thrillers e filmes policiais.   
- A grande carência do cinema brasileiro está nos roteiros,  diferente do que acontece atualmente com o cinema argentino, por  exemplo. Para mim, o que falta em "Segurança nacional" é exatamente  isso. Mas abracei o projeto, por acreditar que há lugar para tudo,  inclusive para essa história. [A ditadura militar] é uma ferida não  cicatrizada, mas é importante ter a medida das coisas, saber que o  Brasil tem o melhor exército de floresta do mundo, conhecer a seriedade e  a dedicação dos soldados. O cinema é um instrumento de ufanismo no bom  sentido, de orgulho nacional. Temos que contar essa história para nós  mesmos - diz Thiago, que acredita que se o diretor americano James  Cameron ("Avatar", "Titanic") visse como "Segurança nacional" foi feito e  o resultado final, "ele não acreditaria e se espantaria com a  capacidade do brasileiro de tirar leite de pedra".   
Milton Gonçalves interpreta o presidente da República que lida com a  ameça de invasão e atentados de narcotraficantes. O ator lembra que o  convite foi feito anos antes de Barack Obama, hoje o primeiro presidente  negro dos EUA, ser uma possibilidade. O roteiro de "Segurança nacional"  foi escrito há cinco anos e o filme, com orçamento de R$ 5 milhões,  levou três anos para ficar pronto, principalmente por ter de acompanhar o  cronograma das missões de treinamento das Forças Armadas para poupar  recursos, captados via lei de incentivo fiscal.   - Foi um susto ser convidado para interpretar o presidente. Mas  percebi que o personagem me ajudaria a vencer alguns fantasmas. O  racismo tem que ser combatido de forma inteligente - disse Gonçalves,  orgulhoso em "ser um presidente negro em um filme em que o bem e o bom  senso vencem".  
O filme estreia no Brasil com 150 cópias e o produtor executivo,  Diogo Boni, acredita que o público de "Segurança nacional" deve superar a  marca de 2 milhões de espectadores.   
 

 
 
