2 de janeiro de 2014

Dez atos extraordinários de compaixão em tempos de guerra

Bruno Calzavara

Os apaixonados por contos de guerra já devem estar familiarizados com a história de Henry Tandey, um soldado britânico da Primeira Guerra Mundial que honrosamente decidiu não disparar sobre um soldado inimigo ferido – somente para aquele jovem caído no chão de vir a ser um Adolf Hitler anos antes de assumir o poder da Alemanha. Porém, a distorção deste fato não deve ser motivo para obscurecer o quão nobre foi a atitude de Tandey.
A compaixão é uma qualidade normalmente difícil de ser encontrada em tempos de guerra. É ainda mais difícil ela aparecer do lado inimigo das linhas de batalha. Afinal, como você pode ser gentil com alguém que poderia tentar matá-lo?
10. O ás da Luftwaffe que guiou um avião bombardeiro norte-americano até a segurança
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Photo credit: Kogo
Em dezembro de 1943, o piloto alemão Hanz Stigler, membro da Luftwaffe, como é conhecida a força aérea alemã, tinha todos os motivos para abater o bombardeiro norte-americano B-17 na frente dele. As forças inimigas já haviam matado seu irmão no início da guerra e agora estavam bombardeando cidades alemãs. Não só isso – se Stigler abatesse este bombardeiro em particular, ele iria completar sua pontuação de mortes para levar para casa a equivalente alemã de uma Medalha de Honra.
À medida que Stigler se preparava para apertar o gatilho, ele achou estranho que o homem-bomba não estava atirando de volta nele. Observando mais atentamente, ele viu os que os artilheiros estavam mortos e que a maior parte da tripulação era de feridos. O avião em si estava crivado de balas e lutando para permanecer no ar. Em seu coração, Stigler sabia que estaria matando homens a sangue frio. Em vez disso, optou por fazer a coisa honrosa: sinalizou ao piloto americano chocado e voou com o bombardeiro para evitar que ele fosse alvo de fogo antiaéreo.
Stigler escoltou o avião até alcançarem o Mar do Norte, onde ele parou e cumprimentou seus adversários uma última vez. Apenas cinco décadas depois, o piloto norte-americano Charles Brown conseguiu rastrear com sucesso o homem que o salvou. Os dois veteranos de guerra se tornaram melhores amigos e, como uma demonstração de agradecimento, Brown fez de Stigler o convidado de honra em uma reunião que ele tinha planejado com seus tripulantes. Eles mostraram a Stigler um vídeo de seus filhos e netos, pessoas que não teriam vivido se não fosse por seu ato de compaixão.

9. Um fã de futebol salvou a vida de um soldado
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Mario Tonelli foi apenas um dos 72 mil homens que participaram da infame Bataan Death March, em 1942, na qual o exército japonês obrigou as forças derrotadas filipino-americanas a caminharem de seu antigo bastião em Bataan para campos de concentração próximos. Durante a marcha, que durou dias e dias, milhares de prisioneiros caíram pelo caminho devido a doenças ou ferimentos. Eles também tiveram que suportar o tratamento brutal de captores que os agrediam usando suas baionetas e atiravam naqueles fracos demais para marchar adiante.
Como seus companheiros, Tonelli estava exausto e à beira de desistir, quando encontrou uma fonte improvável de inspiração. Tudo começou quando um soldado japonês levou o anel de classe de Tonelli. Tonelli tinha sido uma estrela do futebol americano universitário em Notre Dame e usava esse anel mesmo nas Filipinas. Pouco tempo depois, um oficial japonês veio até um Tonelli atônito e devolveu seu anel. Ele explicou que tinha sido um estudante da Universidade do Sul da Califórnia e tinha visto o time de Notre Dame de Tonelli decisivamente derrotar sua equipe em 1937. Ele sabia o quanto aquele anel significava e ele tinha que devolvê-lo. Esse pequeno incidente deu a Tonelli a esperança de que precisava para sobreviver pelo resto da guerra.

8. O major alemão que desafiou a SS
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Karl Plagge sabia que estava lidando com a morte a cada passo ao proteger judeus da SS, mas ele não poderia se importar menos. Um engenheiro de profissão, Plagge ingressou no Partido Nazista, contudo deixou o grupo depois ter se revoltado com a ideologia racista de seus membros. Após a guerra ter estourado, ele foi designado a dirigir uma unidade de reparação de veículos do exército em Vilnius, capital da Lituânia. Em um período marcado por campanhas de extermínio conduzidas pela SS, Plagge articulou-se rapidamente para salvar o maior número de judeus possível.
Plagge recrutou o maior número de homens judeus que pôde e com uma cara séria disse à SS que eram todos mecânicos qualificados (eles não eram). Milagrosamente, ele também conseguiu convencer a SS a trazer suas esposas e filhos para o acampamento, pois a sua presença poderia aumentar a produção no trabalho. Dentro do acampamento, ele tratava seus trabalhadores bem e muitas vezes encontrou formas de debilitar a sempre vigilante SS.
Um dos seus movimentos mais ousados ​​veio em 1944, quando os alemães viram-se rechaçados pelos soviéticos. Plagge sabia que a SS iria tentar matar todo mundo no campo antes da evacuação, assim ele disse aos seus trabalhadores: “Vocês serão escoltados durante esta evacuação pela SS, que, como vocês sabem, é uma organização dedicada à proteção dos refugiados. Assim, não há nada com que se preocupar…”.
Eles pegaram a dica e a maioria conseguiu escapar antes da chegada da SS no dia seguinte. Por suas ações, em 2004 Plagge foi devidamente colocado nos Justos Entre as Nações – título dado aos que ajudaram os judeus a escapar do Holocausto.
10 corajosos diplomatas da Segunda Guerra Mundial que salvaram a vida de milhares de judeus

7. O Kaiser que permitiu a um prisioneiro de guerra britânico visitar a mãe
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Kaiser Wilhelm II era um homem mais conhecido por um temperamento imprevisível do que uma atitude gentil. No entanto, ele mostrou um senso de compaixão anormalmente alto durante a Primeira Guerra Mundial, quando permitiu que um soldado britânico preso visitasse a sua mãe doente em casa. O capitão Robert Campbell tinha sido capturado no início da guerra e definhava em um campo de prisioneiros na Alemanha, quando recebeu a notícia de que sua mãe, doente de câncer, estava morrendo. Campbell escreveu e pediu ao Kaiser para deixá-lo ver sua mãe pela última vez.
Incrivelmente, o Kaiser aprovou o seu pedido e deu a Campbell permissão para partir – com a condição de que ele voltar para a prisão uma vez que a visita tivesse acabado. Campbell ficou com a mãe por uma semana e, como um verdadeiro oficial, manteve a sua parte no trato e obedientemente voltou para a prisão onde ficou detido até o final da guerra.

6. General alemão tomou chá com British Commandos
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Para todos os efeitos, o general alemão Erwin Rommel era um soldado profissional do mais alto calibre, que, infelizmente, passou a trabalhar para o lado errado. Admirado por ambos os seus próprios homens e o inimigo, Rommel recusou-se a seguir as ordens que considerava erradas, como a execução de comandos inimigos capturados atrás das linhas alemãs.
O profissionalismo de Rommel foi ilustrado quando ele poupou a vida de dois membros do British Commandos – um grupo de elite formado durante a Segunda Guerra Mundial para executar ações atrás das linhas inimigas – que foram capturados na costa da França, em 1944. Os dois homens, Roy Wooldridge e George Lane, estavam fazendo um levantamento das minas ao redor da área quando foram capturados e detidos por uma patrulha alemã. Embora Rommel tenha tido todos os motivos para executá-los (especialmente já que comandos britânicos haviam anteriormente tentado assassiná-lo duas vezes), ele mais uma vez desafiou o protocolo e até convidou Lane para se juntar a ele para um chá e sanduíches. Depois, ele transferiu a dupla para a prisão de oficiais, em vez de entregá-los à Gestapo ou SS (com as quais sentença de morte seria uma certeza). Lane mais tarde sustentou que ele não estaria vivo hoje se não fosse por essa xícara de chá oportuna com Rommel.

5. O anjo de Marye Heights
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A batalha de Fredericksburg foi um encontro unilateral na guerra civil norte-americana que deixou milhares de tropas da União mortas ou feridas após uma tentativa fracassada de invadir um exército confederado firmemente enraizado. Onda após onda de soldados da União foram cortadas enquanto eles tentavam, em vão, derrubar uma parede de pedra que protegia os confederados. Logo o terreno se encheu de feridos, cujo gritos de socorro preenchiam o ar durante pausas nos combates. Esses gritos chegaram aos ouvidos do soldado confederado adolescente Richard Kirkland, que implorou uma permissão ao seu general para dar água e ajuda aos feridos.
Depois que o general concordou relutantemente, Kirkland reuniu vários cantis de água e os passou por cima do muro. Em plena vista tanto da União quanto das tropas confederadas, Kirkland deu conforto para os soldados feridos. Os tiros de ambos os lados pararam e foram logo substituídos por aplausos. As hostilidades recomeçavam sempre que Kirkland voltava para trás do muro para obter mais suprimentos e paravam quando ele voltava. O estranho espetáculo continuou até a noite, com Kirkland conseguindo ajudar a maioria dos feridos. Por seu ato incomum de compaixão, ambos os lados apelidaram Kirkland de “Anjo de Marye Heights”.

4. Um submarino alemão que afundou um navio Aliado e depois resgatou seus passageiros
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Um dos mais estranhos e mais comoventes contos de compaixão humana veio do infame incidente Laconia, em setembro de 1942. Na ocasião, primeiro um submarino alemão afundou um navio de transporte britânico, em seguida, resgatou os sobreviventes.
O comandante do U-boat 156, Werner Hartenstein, avistou o navio no Atlântico Sul e deu ordens para afundá-lo. Ele foi bem sucedido, o Laconia foi destruído e mais de metade dos 2.732 passageiros morreram junto com o navio. Os sobreviventes ou saltaram para botes salva-vidas ou para as águas infestadas de tubarões.
Foi só então que Hartenstein percebeu que além dos poloneses e britânicos, havia também prisioneiros de guerra italianos, assim como mulheres e crianças entre os sobreviventes. Ele repassou a situação para o seu comandante, o almirante Karl Dönitz, que imediatamente ordenou que dois submarinos alemães próximos ajudassem a resgatar os sobreviventes. Ele também permitiu a Hartenstein se comunicar com outros navios Aliados em busca de assistência. O momento comovente foi cortado abruptamente quando foram atingidos por tiros de um avião norte-americano que passava, que falsamente achou que os submarinos só foram resgatar seus próprios homens. Ainda assim, 1.100 vidas foram salvas graças ao senso de honra dos dois homens.

3. Hitler ajudou seu ex-comandante judeu
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É difícil imaginar Hitler salvando um membro da raça que ele passou a odiar tanto. No entanto, o Fuhrer fez o que pensávamos impossível e interveio pessoalmente para poupar uma vida judaica. De acordo com uma carta escrita pelo chefe da SS, Heinrich Himmler, em 1940, Hitler tinha ordenado que ele e as autoridades poupassem Ernst Hess de ser perseguido ou deportado. Hess tinha sido comandante de Hitler durante a Primeira Guerra Mundial e mais tarde trabalhou como juiz antes de ser forçado a abandonar seu posto à luz da ascensão dos nazistas ao poder. A ordem (que acabou por ser revogada em 1942) e o fato de que ele era casado com uma mulher não judia salvou Hess de ir para os campos de extermínio. Ele sobreviveu à guerra e morreu com a idade de 83 anos. Sua filha mais velha, Ursula, disse que seu pai costumava descrever Hitler como um introvertido que não fazia amigos na sua unidade. Nós nos perguntamos por quê.

2. Um piloto japonês protegeu um paraquedista inimigo
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Provavelmente uma das últimas coisas que você poderia esperar de um soldado japonês durante a Segunda Guerra Mundial seria misericórdia. No entanto, nos últimos dias da guerra, um piloto japonês quebrou esse estereótipo e mostrou seu senso de honra, poupando um inimigo indefeso. O cabo Hideichi Kaiho e seus companheiros pilotos tinham se envolvido em um combate entre aviões a curta distância com Boeings B-29 Superfortress norte-americanos sobre Tóquio, em 1945. Os japoneses conseguiram derrubar um bombardeiro e forçar sua tripulação a se render. Um dos homens, o navegador Raymond “Hap” Halloran, estava caindo de paraquedas a 3500 pés, quando foi descoberto por Kaiho e outros dois aviões japoneses. Halloran sabia muito bem que os japoneses não tomavam prisioneiros, então imaginou que poderia acenar para os três aviões.
Milagrosamente, dois dos aviões foram embora, enquanto o pilotado por Kaiho continuou a voar ao redor e a protegê-lo. Mais de cinco décadas depois, Halloran iria conhecer e agradecer ao homem que o salvou naquele dia. Kaiho revelou mais tarde que seu comandante encorajou-o a observar o Código Real de Bushido, que desposava benevolência em relação ao inimigo.

1. O Oscar Schindler iraniano
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Photo credit: Martin St-Amant
Dadas as relações não tão cordiais entre Israel e Irã hoje em dia, é estranho lembrar que um diplomata iraniano arriscou o pescoço para salvar milhares de judeus dos nazistas. Abdol-Hosein Sardari Qajar foi o enviado iraniano durante a guerra para Paris, onde trabalhou incansavelmente para salvar judeus franceses com ascendência iraniana da perseguição. Ele habilmente confundiu os nazistas com a teoria de que esses judeus não eram mais semitas devido a terem assimilao totalmente a cultura ariano-iraniana. Debates sobre a teoria deram a Sardari o tempo que ele precisava para emitir diversos passaportes.
Foi só quando os judeus não iranianos se aproximaram dele buscando ajuda que Sardari percebeu a extensão do programa de extermínio nazista. No entanto, ele continuou a forjar centenas de passaporte e os entregou a todos os judeus, independentemente da ascendência. Quando a guerra acabou, Sardari foi acusado de distribuir passaportes falsos, mas acabou sendo perdoado pelo Xá do Irã. Mais tarde, ele afirmou que era sua obrigação como um diplomata ajudar os seus cidadãos e como um ser humano, ajudar os judeus. [Listverse]
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