10 de fevereiro de 2015

Minustah, a Força de Paz que reergueu um país necessitado.

O General Jaborandy lidera seu comando em agosto de 2014 em uma operação na favela Cité Soleil, que já foi considerada uma das mais violentas da capital Porto Príncipe. (Foto: Exército Brasileiro)
Claudia Sánchez-Bustamante
A Organização das Nações Unidas (ONU) tinha uma participação ativa no Haiti desde 1990, mas a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) só foi estabelecida oficialmente em 30 de abril de 2004, por meio da Resolução 1542 adotada pelo Conselho de Segurança.
Embora o objetivo original da missão tenha sido ajudar o governo de transição do Haiti a restaurar e manter um clima de segurança e estabilidade, além de promover e proteger os direitos humanos, o papel da MINUSTAH mudou ao longo do tempo de acordo com a situação do país.
O general de divisão José Luiz Jaborandy Jr., atual Force Commander, disse recentemente a Diálogo que o papel do componente militar da missão era mais forte quando ela foi estabelecida. “Atualmente, o componente militar já não desempenha um papel de liderança. Adotou um papel secundário em apoio às ações das autoridades haitianas nas áreas de segurança, desenvolvimento de infraestrutura, medidas humanitárias e melhoria das condições de vida da população”, afirmou.
Além de prever 1.622 policiais, quase 1.550 integrantes civis locais e internacionais e 150 voluntários da ONU, o mandato original da MINUSTAH autorizou uma força militar de até 6.700 homens de países como Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Equador, Estados Unidos, El Salvador, França, Guatemala, Honduras, Indonésia, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, República da Coreia, Sri Lanka e Uruguai, de acordo com dados da ONU.
Mas esses números também variaram conforme as atualizações do mandato da missão de manutenção da paz.
Para ajudar nos esforços de imediata recuperação, reconstrução e estabilização do Haiti após o terremoto de 2010, por exemplo, o componente militar da missão aumentou até atingir o auge em sua história.
Para mencionar apenas um caso, o Brasil, que lidera o componente militar da MINUSTAH desde 2004, viu a necessidade de mobilizar um segundo batalhão – BRABAT II – para ampliar a força e atender às necessidades do país.
Após o terremoto – e apesar da perda de 18 militares –, os batalhões BRABAT I e II foram responsáveis por prestar assistência e segurança a 1,5 milhão de haitianos deslocados; remover escombros e pavimentar e reparar estradas; distribuir 375.000 toneladas de alimentos; realizar 19.000 cirurgias e 40.000 consultas médicas, de acordo com dados do Ministério da Defesa do Brasil. Dotado de uma base em Porto Príncipe, o BRABAT é formado por membros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica do Brasil, além de um pelotão do Exército Paraguaio.
Por sua vez, o Batalhão do Chile, formado por soldados do Exército e da Marinha do Chile em Cabo Haitiano, imediatamente enviou um pelotão a Porto Príncipe para ajudar a prover segurança a centros de distribuição de alimentos e aos veículos de transporte. “Esse tipo de trabalho humanitário toca profundamente os soldados, pois, além de realizar a missão de garantir segurança, organizar as pessoas em filas e evitar distúrbios e saques em meio à sua busca por alimentos, eles estão estendendo a mão num ato humanitário àqueles que mais precisam”, diz o Capitão de Mar e Guerra da Marinha Chilena Pedro Abrego, oficial de ligação no Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM).
O Batalhão do Chile permaneceu no local e continuou apoiando seus irmãos haitianos, embora o próprio Chile tenha sido atingido por um terremoto de magnitude 8,8 e por um tsunami poucas semanas depois, em 27 de fevereiro de 2010. “Apesar dessa nova catástrofe natural, os soldados chilenos seguiram com seu trabalho para levar alívio e segurança à população vulnerável do Haiti, cumprindo fielmente sua missão de manter um ambiente seguro e estável e contribuindo para os trabalhos de apoio e recuperação das pessoas do Haiti”, diz o Comandante Abrego.
O Batalhão do Canadá da MINUSTAH contribuiu para os esforços de recuperação do Haiti com uma força-tarefa humanitária cujo objetivo foi oferecer diversos serviços e recursos humanitários ao governo haitiano e à embaixada do Canadá em Porto Príncipe.
“Especificamente, a Força-Tarefa contribuiu com serviços médicos de emergência; especialistas em engenharia; mobilidade marítima, terrestre e aérea e apoio à segurança e à defesa do Haiti”, diz o Tenente Coronel do Exército Canadense Daniel Theriault, oficial de ligação do Canadá no SOUTHCOM e ex-membro do Batalhão do Canadá da MINUSTAH em 2005 e 2006. “No auge da missão, a Força-tarefa contou com 2.050 militares canadenses mobilizados em Porto Príncipe, Leogane e Jacmel”, afirma. “O Batalhão Canadá foi responsável por estabilizar Leogane, a região mais atingida, de acordo com a ONU, com perdas e prejuízos de 80% a 90% e entre 20.000 e 30.000 mortes.”
Considerando que o terremoto de magnitude 7 assolou o país e grande parte da própria MINUSTAH – 102 membros da missão da ONU morreram, entre as 220.000 vítimas fatais, segundo a ONU –, essas conquistas mostram a resiliência e a humanidade das pessoas que trabalharam em conjunto para devolver o Haiti à normalidade.
Segundo o General Jaborandy, “o incentivo, o entusiasmo e o compromisso daqueles que tiveram a honra de representar seu país trabalhando pelo Haiti por meio da ONU” são fatores importantes na superação dos desafios que marcam esse tipo de missão.
Em junho de 2011, as condições de segurança do Haiti haviam melhorado desde o terremoto. A eleição presidencial de 2010 e o segundo turno da disputa, em março de 2011, tiveram sucesso em reinstituir o processo democrático.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, recomendou a primeira das várias reduções nos componentes policiais e militares da missão.
“Tenho confiança de que uma retirada parcial dentro das capacidades militares e policiais da missão provavelmente não prejudicaria os avanços realizados até agora no campo da segurança e não afetaria a capacidade da MINUSTAH de cumprir as funções de seu mandato”, disse ele em um relatório ao Conselho de Segurança em agosto de 2011.
Durante a entrevista, o General Jaborandy afirmou que a atual força é de 5.021 homens, mas deve ser reduzida até chegar a 2.370 em março, assim que for aprovada a Resolução 2180 do Conselho de Segurança.
A resolução estipula uma presença menor e um novo papel operacional para atuar como Força de Resposta Rápida em apoio a UNPOL (a polícia da ONU), à Polícia Nacional do Haiti e às tropas militares.
Mas o número de participantes é apenas um dos fatores que tornaram a MINUSTAH a força poderosa por trás da recuperação do Haiti. Ao trabalhar em conjunto e de forma colaborativa com a comunidade internacional, a presença da MINUSTAH também significou que o mundo inteiro se uniu aos esforços de estender a mão a um irmão necessitado.
"Vivemos em uma sociedade de abundância. Por isso, devemos compartilhar nossos métodos e experiências bem-sucedidos para ajudar no desenvolvimento dos menos favorecidos", diz o Ten Cel Theriault.
“Independentemente das diferenças culturais e das distintas formas de emprego entre as Forças Armadas que estão representadas [na MINUSTAH], estamos todos unidos sob a fraternidade de uma única bandeira e comprometidos com um objetivo comum. Hasteamos muitas bandeiras, mas somos um só grupo. Somos uma família”, finalizou Jaborandy.
DEFESANET/montedo.com

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