1 de novembro de 2017

Jungmann diz que população do RJ está 'encurralada' e 'exposta' ao crime organizado


Raul Jungmann (Dida Sampaio - Estadão)
Gustavo Maia
Horas após a publicação de entrevista do ministro da Justiça, Torquato Jardim, ao UOL, na qual ele critica a condução da segurança pública por parte do governo do Rio de Janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta terça-feira (31) que a sociedade fluminense está "encurralada" e "exposta" ao crime organizado.
As declarações foram feitas durante a cerimônia de assinatura do protocolo de intenções entre a PGR (Procuradoria-Geral da República) e o governo federal, para atuação conjunta no enfrentamento de crimes federais no Estado do Rio.
O ministro participou da solenidade ao lado de Jardim, da procuradora-geral, Raquel Dodge, e do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen. Nenhum representante do governo do Rio participou da cerimônia. 
Jungmann disse ainda que o acordo é a "realização de um grande sonho" e que este é um dos dias mais felizes ao longo de sua gestão a frente da pasta. "Nós estamos aqui integrando esforços. Essa força-tarefa é de fato uma ação essencial e decisiva para o resgate do Rio de Janeiro", declarou.
"Hoje o crime organizado, que se nacionalizou e se transnacionalizou, representa um risco à sociedade, às instituições e à democracia. Esse esforço é uma resposta adequada, necessária, importante, decisiva para fazer frente a todas as ameaças que hoje rondam a cidadania e o nosso país", acrescentou.
Durante a solenidade, Torquato Jardim fez um breve discurso elogiando a iniciativa e classificou a parceira como "histórica". Questionado por jornalistas sobre as suas declarações ao blog do jornalista Josias de Souza, do UOL, ele afirmou que elas já foram feitas. "Já falei tudo que podia falar hoje", comentou.
Em sua fala, Etchegoyen citou as dificuldades no enfrentamento do crime organizado. "Como todos sabemos, [eles] não têm os limites aos quais os agentes do Estado estão submetidos em uma democracia saudável. Consequentemente, eles dispõem de uma agilidade e de uma flexibilidade a partir das próprias regras, leis que eles mesmos criam", afirmou.
"Lamentavelmente nós tivemos que enfrentar situações extremas de insegurança para que até mesmo a população sentisse o que era preciso fazer, que se estabelecesse uma prioridade. Hoje a segurança pública é eleita como uma das duas mais importantes questões da nossa sociedade", comentou o ministro do GSI.
O acordo, segundo ele, abre "uma via muito importante para conduzir a solução das questões". "Hoje é um dia de respirar fundo, de comemorar, porque certamente nós temos muito trabalho pela frente."
Para Dodge, o protocolo assinado nesta terça permite ao grupo de trabalho --que tem procuradores lotados no Rio de Janeiro-- reunir "informações estratégicas" compartilhadas entre os órgãos que o compõem.
"Tenho certeza que [...] facilitará muito o compartilhamento de informações para que possamos empreender melhor este trabalho. Espero que os resultados sejam profícuos e que possamos senti-los no curto prazo", declarou. 

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Crise de segurança
O Rio de Janeiro passa por uma escalada de violência. Na última quinta-feira (26), o comandante do 3º BPM foi assassinado a tiros no Méier. Mais cedo, no mesmo dia, uma adolescente de 12 anos foi vítima de bala perdida quando deixava uma festa evangélica na Rocinha, favela na zona sul.
No começo da semana passada, uma turista espanhola morreu depois que um policial militar atirou contra o carro em que ela estava junto com outros turistas, segundo a polícia. Os agentes envolvidos na ocorrência disseram que o veículo furou um bloqueio feito pela corporação. O motorista do carro nega. 
Desde setembro, traficantes se enfrentam pelo controle da venda de drogas na região da Rocinha. Por uma semana, quase mil homens das Forças Armadas e polícias fizeram um cerco à favela --parte do contingente de cerca de 8.500 militares que reforçam a segurança no Estado desde o fim de julho.
Em agosto, o governo do Rio decidiu reduzir em 30% o efetivo das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) como forma de aumentar o número de policiais nas ruas, movimento que foi considerado um recuo no programa implantado em 2008 para tentar retomar áreas dominadas pelo tráfico de drogas.
Pesquisa Datafolha mostra que, se pudessem, 72% dos moradores dizem que iriam embora do Rio por causa da violência. O desejo de deixar a cidade é majoritário em todas as regiões e faixas socioeconômicas --foram ouvidas 812 pessoas, e a margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.
Nas últimas semanas, segundo o Datafolha, um terço dos moradores mudou sua rotina e presenciou algum disparo de arma de fogo. O levantamento revela que 67% das pessoas ouviram algum tiro recentemente.
UOL/montedo.com

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