Marina Dias
O presidente Michel Temer escalou seu consultor
político pessoal Denis Rosenfield para estabelecer uma linha
direta entre ele e a cúpula militar, principalmente com o
comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, e o
ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna.
Temer quer garantir interlocução mais fácil com os chefes das
Forças Armadas para não perder o controle das tropas em um
momento de recrudescimento da crise política, que provocou
reação pública nos quartéis.
O movimento foi colocado em marcha há alguns dias, portanto
antes das declarações do comandante do Exército na véspera do
julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula pelo STF
(Supremo Tribunal Federal).
Na última quarta-feira (21), Rosenfield acompanhou Temer, a
primeira-dama, Marcela, e o filho do casal, Michelzinho, à
residência de Villas Bôas, em Brasília. Desde então, o filósofo
gaúcho tem aumentado sua frequência ao Palácio do Planalto e
feito viagens ao lado do presidente.
Segundo a Folha apurou, no encontro na casa de Villas Bôas,
debateu-se a intervenção na segurança pública do Rio e
possíveis medidas que devem ser implementadas para que a
ação mostre resultados positivos —o que ainda não aconteceu
desde que foi decretada, em fevereiro.
Ligado ao ministro do GSI (Gabinete de Segurança
Institucional), Sérgio Etchegoyen, Rosenfield é amigo de Villas
Bôas e de Silva e Luna, e tem dito que atua como uma espécie
de "ponte facilitadora" do diálogo entre eles, ou seja, auxilia na
interlocução menos formal e hierarquizada entre o governo e a
cúpula militar.
O filósofo foi, inclusive, cotado por alguns auxiliares de Temer
para assumir o Ministério da Defesa no lugar do interino Silva e
Luna, o que Rosenfield nega.
Ainda de acordo com assessores do presidente, o cargo de Villas
Bôas é cobiçado por Etchegoyen, hoje um dos homens mais
fortes do governo e primo do general. Ele, porém, está na
reserva e existe a tese de que somente um dos militares do alto
comando que estão na ativa poderiam assumir essa função.
Nesta terça (3), após a manifestação mais forte de Villas Bôas sobre seu repúdio à impunidade e o Exército estar
"atento às suas missões institucionais", sem detalhar o que
pretendeu dizer com essa expressão, a ordem no Planalto foi
silenciar sobre o tema.
Villas Bôas está bastante debilitado por uma doença
degenerativa, mas aliados de Temer evitam falar abertamente
sobre sua substituição.
As preocupações do Planalto vão além do julgamento do habeas
corpus de Lula, que pode ter reflexos na execução penal daqui
para frente. Temer é alvo de dois inquéritos no STF e deve
perder seu foro especial assim que terminar o seu mandato, em
janeiro de 2019.
FOLHA/montedo.com