Para Thomas Shannon, embaixador em Brasília até setembro, inteligência brasileira está abaixo das ambições globais do País
Cláudia Trevisan / CORRESPONDENTE EM WASHINGTON

"Há muitas pessoas interessadas no que está ocorrendo dentro do Brasil, que é alvo de ataques cibernéticos diários", declarou Shannon em palestra sobre a relação bilateral no Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington.
Documentos revelados pelo ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden mostraram que os Estados Unidos monitoraram comunicações de cidadãos brasileiros e da presidente Dilma Rousseff, o que levou ao cancelamento da viagem que ela faria a Washington em outubro.
Entusiasta da relação bilateral e um dos maiores especialistas em Brasil na diplomacia americana, Shannon se disse frustrado com a interrupção do diálogo entre os dois países provocada pela divulgação dos documentos da NSA. A expectativa de seu governo é que ele seja retomado no início do próximo ano, depois de a Casa Branca concluir o trabalho de revisão das atividades de seu serviço de inteligência.
Os EUA anunciaram que estão prontos para discutir uma nova data para a visita de Dilma, mas Shannon acredita que o Brasil precisa de mais tempo para dar uma resposta. "O Brasil está esperando para ver o que podemos oferecer e como poderemos avançar."
Segundo ele, os EUA apreciaram a maneira pela qual o governo brasileiro lidou com a carta de Snowden endereçada à população do País, na qual ele oferece ajuda nas investigações sobre a NSA e sugere a necessidade de asilo político.
"Apesar de criar desafios, as revelações abriram a oportunidade para os dois países repensarem sua relação de inteligência", ressaltou. "Nossa esperança é que eles (os brasileiros) reconheçam que têm um parceiro útil em nós, e precisarão olhar além das preocupações imediatas provocadas por Snowden para construir essa parceria", afirmou Shannon, em relação à cooperação nessa área.
A aprovação de resolução da ONU que estende à internet a proteção da privacidade prevista na Declaração Internacional dos Direitos Humanos foi apontada por Shannon como um exemplo de diálogo possível entre os dois países.
Apresentada por Brasil e Alemanha, a proposta foi modificada para contemplar posições americanas, o que permitiu sua aprovação por unanimidade. "Nós reconhecemos a importância da privacidade e de uma internet que é vista como um bem público global, que precisa ser protegido."
Apesar de reconhecer a seriedade e o impacto das revelações de Snowden, Shannon ressaltou que elas não podem dominar a relação bilateral. Sem citar nomes, o diplomata avaliou que seu peso foi exagerado por razões políticas, "não pelos próprios brasileiros", mas por pessoas ligadas a Snowden.
Estadão/montedo.com