13 de novembro de 2017

Polêmica presença dos EUA em exercício está superada, diz general

Resultado de imagem para Helicóptero Cougar, da aeronáutica brasileira, sobrevoa a região do Vale do Javari, próximo à cidade de Atalaia do Norte (AM), durante o AmazonLog
Helicóptero sobrevo região do Vale do Javari - Danilo Verpa (FolhaPress)

LUCAS VETTORAZZO
ENVIADO ESPECIAL A TABATINGA (AM)
Quando foi anunciada a presença de tropas americanas em exercício militar na Amazônia, políticos de esquerda reagiram, alegando "o risco à soberania nacional".
Após uma semana de exercícios de ajuda humanitária a partir de uma base montada em Tabatinga (AM), a conclusão do Exército brasileiro, que coordenou as atividades junto com Colômbia, Peru e Estados Unidos, é que a polêmica está superada.
O nome da ação– Exercício Logístico Internacional Multiagências– causou dúvida quanto às operações em curso, levando parlamentares a crer que segredos estratégicos operacionais da Amazônia seriam revelados aos estrangeiros.
"Eu sou um soldado que defendo meu país e a Constituição. Nunca nos venderia para os americanos, como nos acusaram. O Amazonlog não tinha qualquer objetivo relacionado à defesa. Para nós, está superado", disse o general Antônio Manoel de Barros, chefe do Estado-Maior Combinado do exercício e o número dois de toda a operação.
O ministro da Defesa, Raul Jungman, esteve na base e rechaçou também as acusações, ao lembrar que além dos americanos, participaram países como Venezuela, Rússia, China e Israel.
Os americanos, porém, tinham assento nos briefings diários do Estado-Maior Combinado, que reunia representantes da Colômbia, Peru, Brasil e EUA e definia as estratégias das operações.
Dos 1.940 militares envolvidos nas ações, 55 eram dos EUA, 145 da Colômbia e 89, do Peru. O Brasil empregou 1.651 homens. Os americanos auxiliaram com um avião de carga e transporte de passageiros, além de terem enviado observadores. Nenhuma tropa foi usada nas operações no campo.
Os exercícios foram baseados em simulações de desastres e resposta humanitária. Das dez ações com tropas e meios de transporte, cinco foram na área de cidade, como a explosão de uma balsa no porto de Tabatinga e o lançamento de cargas aéreas no aeroporto. Os estrangeiros não foram enviados, por exemplo, para duas ações de ajuda médica em indígenas isoladas na selva.
O único momento em que foram apresentadas técnicas de combate foi na visita ao batalhão de selva do Exército, considerado o de maior expertise em ações no terreno amazônico. A visita, de cerca de uma hora, consistiu nas apresentações de como montar acampamentos e na identificação de alimentos típicos encontrados na selva brasileira. O curso brasileiro foi no século passado no país após tropas aprenderem técnicas de combate no Panamá, com a supervisão de tropas americanas.
Representantes americanos não concederam entrevista à Folha. Informalmente, porém, militares contaram à reportagem que os trabalhos ficaram circunscritos às questões humanitárias. A maioria nunca tinha pisado em território amazônico e deixaram o local com apenas impressões visuais de como seria o combate no terreno. Um militar do Texas, que pediu para não ter a patente nem o nome revelado, garantiu que nenhuma estratégia de defesa da Amazônia foi discutida ou ensinada.
Oficiais do Exército brasileiro lembraram que o curso de operações na selva é também ministrado para outras nações ao longo do ano, mas com duração reduzida em relação curso ministrado aos brasileiros.
"Não tivemos qualquer instrução sobre combate na selva ou pontos estratégicos da geografia local. O que posso dizer é que um combate no meio nesse ambiente seria muito duro por não haver pontos de cobertura. Mas digo isso como impressão pessoal", disse o tenente coronel da Nigéria Ebowwe Odede.
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) acompanhou os trabalhos no Amazonlog por três dias e disse que é cedo para descartar preocupações com relação à presença americana na selva amazônica. Ele pediu que em outras oportunidades de exercícios de ajuda humanitária, que sejam protagonistas os países da América do Sul, circunscritos às alianças da Unasul e Mercosul.
"A presença das Forças Armadas Americanas, do governo americano, é uma preocupação a partir de uma reflexão histórica, que merece atenção, cuidado e preocupação", disse ele.
O jornalista LUCAS VETORAZZO viajou a convite do Exército
FOLHA/montedo.com

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