“A Instituição será maculada, violentada e conspurcada diante da leniência de todos aqueles que não pensam, não questionam, não se importam, não se manifestam”
Marco Antonio Felicio da Silva*
Tendo em vista os eventos da Copa do Mundo a serem desenvolvidos em 12 capitais brasileiras e a possibilidade de ocorrências de distúrbios de ruas, com variados graus de violência presente, acreditamos que estes possam se materializar segundo 3 ( três) cenários alternativos:
Um com pouca probabilidade de ocorrer, com manifestações destituídas de violência, não numerosas, com baixa densidade popular e, facilmente, contidas pelas forças policiais.
Um segundo cenário, de média probabilidade, com manifestações numerosas, algumas com alta densidade popular e com alguma violência, embora, ainda, passíveis de serem contidas pelas forças policiais.
Um terceiro cenário, de alta probabilidade de ocorrência, com numerosas manifestações, com grande participação popular e atos de violência de grupos irregulares, que, para serem contidas, demandarão largo emprego das forças policiais e de tropas das Forças Armadas (FFAA).
A tendência de ocorrência de manifestações em todos os cenários é uma quase certeza, pois, já estão sendo convocadas na Web, estando o presente contaminado por ocorrências recentes e similares, que se repetem, com atuações cada vez mais violentas (que indicam a presença de características de guerra assimétrica de quarta geração) por parte de grupos irregulares.
A agravar, diversos fatores como o momento propício (disputa da copa) para a obtenção de grande repercussão interna e externa das manifestações, principalmente, se prenhe de atos violentos e de, também, forte repressão; a grande e generalizada insatisfação popular pela baixa qualidade dos serviços essenciais, principalmente nas áreas de saúde e transportes, e de infraestrutura vigentes, contrastando com o alto volume de recursos empregados na construção dos estádios “padrão FIFA”, e a insatisfação com a corrupção que permeia os poderes da República. Há que enfatizar, ainda, que os preços dos ingressos são proibitivos para uma grande massa de torcedores, apaixonados por futebol, os quais, impossibilitados de assistir os jogos, poderão reagir, juntando-se às manifestações de rua.
Cabe, ainda, ressaltar que o próprio governo cria caldo de cultura propenso à violência, de forma contínua, apoiando o terrorismo como arma política, inclusive usada pelos ditos “movimentos sociais”, e difundindo sua ideologia de ódio ao pregar a luta de classes e a revolução entre a juventude.
O terceiro cenário é tão provável de ocorrer que o planejamento do governo prevê o emprego de tropas das Forças Armadas, garantindo, a qualquer custo, a segurança para a realização dos eventos previstos.
Aí está o enigma para as Forças Armadas!
Há que se lembrar que o soldado das FFAA, em geral, não está preparado para atuar como polícia. Mais jovem, não tem a maturidade, a tarimba, a malícia e a experiência do soldado de polícia para enfrentar, como polícia, a turba enfurecida. Colocá-lo apenas armado de cassetete, escudo e armas não letais, frente a grupos mais numerosos e violentos, é entregá-lo a sanha assassina dos grupos de irregulares. Suas armas são outras e, caso empregada, a tropa não poderá ser desmoralizada. Durante o conflito não há negociação. Se houver, poderá ser confundida como fraqueza pelos grupos irregulares e, em consequência, os comandantes e a tropa arriscam-se a ser envolvidos e desmoralizados, como aconteceu em recente episódio com coronel da PMSP. Mortes poderão ocorrer. Protocolos de engajamento, formulados por “policiólogos”, podem ser previstos, porém, utilizá-los após o conflito já ter se tornado disseminado e com grande abrangência geográfica é pura ilusão de amadores ou propositada má fé. Trata-se de “conduta do combate” e cada caso é um caso, dependendo a ação de decisões rápidas do comando ou comandante engajado.
Supondo que as FFAA garantam a realização dos eventos e o exercício da autoridade do governo: Estarão as FFAA dispostas a pagar as consequências da repressão, possivelmente causando a morte de populares? Ganharão a repulsa ou fortalecerão a respectiva imagem perante uma grande parcela da população que se manifesta com plena razão, apenas envolvida pela violência, esta impossível de ser isolada? E qual será a conduta dos governantes?
Permitirão que as FFAA, em face de sua ação, saiam ainda mais prestigiadas pela população ou farão tudo para que saiam desprestigiadas?
Logicamente, não querem tais autoridades, como demonstram no dia a dia, com suas contínuas campanhas de difamação e com a sórdida Comissão da Verdade, acolitadas por imprensa venal, FFAA fortalecidas junto à opinião pública. Certamente, divulgarão vídeos e fotos comprometedoras, depoimentos acusadores de manifestantes e reportagens mentirosas, denunciarão excessos e violências ditos desnecessários, abrirão inquéritos e indiciarão oficiais e graduados.
A postura governamental, demagógica e nada ética, já é conhecida. Assumirá as reivindicações das ruas, afirmará que as manifestações são próprias da democracia e garantidas pelo governo, receberá alguns líderes das manifestaçõse, negociará uma agenda de atendimento das reivindicações e a transformará em promessas e projetos. Por fim, hipocritamente, condenará os excessos das forças de repressão, punindo, exemplarmente “os responsáveis”, isto é, os militares que cumpriram o dever.
Resumindo, as FFAA estão como Édipo, segundo a Mitologia Grega, Rei de Sófocles, o qual diante da Esfinge, demônio de destruição e de má sorte, para não morrer, teve que desvendar o seguinte enigma: Decifra-me ou devoro-te!
ELES QUE VENHAM. POR AQUI NÃO PASSARÃO!
*General da reserva, candidato à presidência do clube Militar