Cláudio Ribeiro
A mesma 2ª Região Militar, em São Paulo, investigada agora por suspeita de fraudes em seu Setor de Fiscalização de Produtos Controlados, tem outro escândalo recente no histórico. Em março do ano passado, o sargento Ivan Carlos dos Santos, 40, e o soldado Geraldo Júnior Rangel dos Santos, 23, lotados no 28º Batalhão de Infantaria Leve, de Campinas (SP), foram acusados por desvio de munição.
Muita munição, sustentou o Ministério Público Militar (MPM), na denúncia formalizada à Justiça Militar. Os dois foram acusados de vender balas de fuzis 7.62mm, arma de uso restrito a militares, para traficantes ligados à facção Primeiro Comando da Capital (PCC). As balas, nos estoques do Exército, eram dadas como “consumidas”. Pior: era munição que deveria ter sido usada em treinamentos militares pra operações de pacificação em comunidades do Rio de Janeiro.
A Polícia do Exército e o MPM identificaram que o sargento Ivan e o soldado Geraldo Júnior desviaram munição da Operação Arcanjo VI. O exercício, realizado em 2011, preparou homens para a ocupação do Morro do Alemão, no Rio.
No seu Batalhão, Ivan atuava como furriel, cargo do controlador de munição nos quartéis. As balas sobravam, ele não dava baixa disso nos relatórios internos e nem tudo voltava aos estoques como deveria. Um tenente-coronel admitiu, em depoimento ao MPM, que sobraram cerca de 21 mil tiros de 7,62mm da operação, dadas como “consumidas”.
Com o paiol “particular” no próprio apartamento, o sargento, vendeu parte delas ao traficante Luciano Santana Barbosa, o “Malaca”, que fugiu em 2010 do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA).
Cada projétil foi vendido a R$ 10, confessou o sargento à Justiça Militar. No dia de sua prisão, Ivan foi flagrado com cerca de 300 cartuchos de calibres 7,62mm e 9mm e um carregador de pistola. Mas admitiu ter desviado pelo menos 700 cartuchos. O soldado Geraldo Júnior, sem coação, ajudava o sargento na busca de potenciais compradores e no transporte das “encomendas”, pelo que foi apurado.
A investigação do MPM aponta que deva ter sido bem mais munição subtraída. O promotor militar Cláudio Martins, responsável pelo inquérito, cobrou formalmente ao Exército mais explicações sobre o desaparecimento de pelo menos 28 mil cartuchos que deveriam ter sido usados na operação no Rio. Aguarda respostas.
Monitorado em interceptações telefônicas, o sargento teria negociado também munição de fuzis AK-47. Ivan e Geraldo Júnior estão presos no Interior paulista. Aguardam julgamento da Corte Militar pelo crime de peculato-furto (“apropriar-se de dinheiro, valor ou outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio”). Além das expulsões, dadas como certas, devem receber pena de três a 15 anos de reclusão.
O POVO/montedo.com