24 de setembro de 2012

Nação em decomposição

Carlos Chagas

Com o PT puxando a fila, lambuzados também estão o PP, o PTB, o PR e o PMDB, em graus maiores ou menores, igualmente envolvidos no escândalo do mensalão. É o Supremo Tribunal Federal que acaba de concluir assim ao condenar até agora parlamentares e ex-parlamentares que exprimiram os referidos partidos, como João Paulo Cunha, Pedro Henry, Pedro Correia, Roberto Jefferson, Romeu Queirós, Waldemar da Cunha Neto, bispo Rodrigues e José Borba, entre outros.
Faltam muitos, pois só 12 dos 38 réus receberam sentenças. Logo virão condenações para antigos líderes de expressão como José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e Anderson Adauto. Surge até a acusação do operador Marcos Valério, também condenado, de que o ex-presidente Lula participava da trama. Mais de 350 milhões de reais foram desviados de cofres públicos e privados para a compra de votos e de apoio a um governo eleito em nome do povo menos favorecido.
Convenhamos, antes que o julgamento termine com mais surpresas, importa repetir a indagação: que país é este? Em que nação nos vamos transformando, a ponto de tudo continuar sem a reação de cada um e de todos diante de tamanha vigarice?
Porque não há indignação nas ruas, muito menos movimentos de rebeldia cívica ou coisa parecida. O povo brasileiro dá mostras de apatia completa diante dos malfeitos de seus governantes e de suas elites, quaisquer que sejam. Discute-se mais se Mano Meneses deve continuar ou ser mandado embora. Ou se a “Avenida Brasil” pode ser esticada por mais alguns capítulos.
O perigo é grave e iminente. Estamos nos dissolvendo e a responsabilidade não pertence apenas a quantos ladrões empalmaram o poder, certamente muito tempo antes da ascensão do PT. Passou a faltar ao povo brasileiro não apenas alma, mas espinha dorsal. Conteúdo, sangue nas veias, capacidade de reagir. A última vez em que essas demonstrações aconteceram foi na campanha das “Diretas Já”, clímax da derrocada da ditadura militar. Depois, começou a prevalecer a máxima do cada um por si. Com as exceções de sempre, estamos perdendo nossa identidade. Do menos favorecido ao grande potentado, importa-lhes saber que proveito poderão tirar do conjunto, em favor da individualidade.
É bom tomar cuidado. Pode estar em perigo aquilo que os portugueses garantiram por séculos, nossa unidade nacional e territorial. Um belo dia faltará a seiva que impediu a decretação da República do Piratini, da Confederação do Equador, do separatismo de São Paulo, da Amazônia ou do Contestado. Não havendo quem proteste nem quem fique indignado…

RETÓRICA EXAGERADA
Mesmo sem tomar qualquer atitude prática no sentido da limpeza de seus quadros, os partidos da base do governo exageraram nos termos da nota conjunta expedida quinta-feira, quando acusaram a oposição de prática golpista, desespero e golpe contra a democracia. Pura retórica sem conteúdo, quando cotejada com as sentenças que o Supremo Tribunal Federal vai produzindo.

A GRANDE DÚVIDA
Terça-feira a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprecia a indicação do jurista Teori Zavascki para novo ministro do Supremo Tribunal Federal. O senador José Sarney marcou para um dia depois a votação em plenário, tendo-se a certeza da aprovação, mesmo se alguns oposicionistas votarem contra. Dependendo da vontade do indicado, ele poderá tomar posse imediatamente, integrando-se então à mais alta corte nacional de justiça e, na teoria, passando a participar do julgamento do mensalão.
Não estando familiarizado com os autos, duas possibilidades se abrem: julgar-se impedido ou pedir vistas do processo. Neste caso, haveria a interrupção dos trabalhos, sem prazo para a retomada, coisa que frustraria quantos acreditam no fim da impunidade no país. Como a decisão dependerá apenas de Zavascki, convém aguardar.
TRIBUNA DA INTERNET/montedo.com

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