30 de agosto de 2009

CABO ANSELMO: O QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

"CABO" ANSELMO MORRE HOJE À NOITE NA TELEVISÃO

Jorge Serrão

O lendário "Cabo" Anselmo – um dos líderes da revolta dos marinheiros que serviu de estopim para o movimento militar de 1964 – será autopsiado e finalmente enterrado neste final de domingo, a partir das 23h 30min, no programa Canal Livre da Rede Bandeirantes.O Brasil vai conhecer um sujeito de 67 anos que sobrevive clandestino, sem documentos, com problemas de saúde e na falta de dinheiro comum a tantos brasileiros.

A inédita foto acima, tirada mês passado pelo nosso funcionário BlackBerry, antecipa uma face que será vista logo mais à noite com o retoque do pó rebatedor da maquiagem televisiva.

José Anselmo dos Santos promete falar o que lhe for perguntado sobre um homem que não existe: o "Cabo" Anselmo. José Anselmo dos Santos, que existe de verdade, deseja comprovar, logo mais, a grande farsa histórica que foi criada em torno do personagem “Cabo Anselmo” – taxado de “traidor” pela Marinha e por aqueles que optaram pela luta armada para implantar o comunismo no Brasil, na Era pós-64.

Anselmo contará alguns detalhes do livro que escreveu com a provocação deste repórter do Alerta Total – com quem se comunica diariamente. Anselmo se compromete a contar detalhes que vão comprovar a grande farsa que é o “Cabo Anselmo”. Sua entrevista de logo mais acabará com o falso mito do passado, construído em cima do nada esperto e pragmático “Cabo” Anselmo.

José deseja mostrar caminhos para o presente do futuro. Dele, pessoalmente, e do Brasil.José Anselmo dos Santos luta para que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça lhe restitua os direitos e o anistie de verdade – o que não ocorreu até agora. José quer apenas renascer como cidadão. Mas também se sente na obrigação moral de transmitir ao mundo, sobretudo aos mais jovens, as lições pro-positivas de uma vida (ironicamente) sem História Oficial. Tem muito a ensinar. Aprende quem quiser.

O “Cabo” Anselmo – que nunca foi cabo na vida, apenas um marinheiro de primeira classe – é um cadáver politicamente insepulto da mal contada história brasileira. Da autopsia de sua vida, só vale a pena relatar todos os erros que ele cometeu de verdade para que outros agentes inconscientes das ideologias não entrem, tão facilmente, de gaiatos no navio da História. Sobre ele já foram repetidas centenas de mentiras e fábulas macabras.

O “Cabo Anselmo” participou da guerrilha que sonhava implantar o comunismo no Brasil. No meio da batalha, fez sua própria autocrítica. Sentiu-se usado. Viu que não era aquilo que queria para sua vida e o Brasil. Mas era um prisioneiro das ideologias que se deixou assimilar. Achava-se um cara inteligente e esperto.

No fundo, hoje José Anselmo constata isto, foi um jovem otário – um inocente inútil como tantos outros o foram naquela época de radicalizações pré e pós-64. O "Cabo" - aliado de Leonel Brizola - viveu anos em Cuba aprendendo guerrilha. Quando voltou ao Brasil, no começo dos anos 70, acabou preso e a polícia lhe deu uma não-opção. Colaborava com o sistema de repressão ou “dariam cabo” dele, literalmente. Seu espírito pragmático de sobrevivência bem como a experiência e reflexão na clandestinidade em Cuba, falou mais alto: preferiu sobreviver.Anselmo insiste que não teve opção: colaborava, ou morria.

O “Cabo” ajudou a destruir a guerrilha por dentro, como infiltrado pelo Departamento da Ordem Política e Social. Jura, por Deus, que nunca matou nem torturou ninguém, nas operações das quais é acusado de ter feito parte nos tempos da repressão ao terrorismo ideológico no Brasil.

Mas por ter colaborado com a repressão, acabou assinando sua própria sentença de morte.Não morreu “justiçado” pelos companheiros que se sentiram traídos. Mas acabou justiçado pela própria história. Ainda mais quando acabou, mais tarde, abandonado pelos “órgãos de repressão” com os quais colaborou. Sem lenço e nem documento, virou um refém de si mesmo, da insegurança material e do medo de ser morto, caso a identidade do seu personagem “Cabo” fosse descoberta.

Na UTI da História tupiniquim, o morto-vivo “Cabo” Anselmo não tem salvação. Já está condenado. Por isso, José quer enterrar o “Cabo-cadáver-insepulto”. Só assim pode dar vida às lições (aprendidas nos erros e acertos) pelo ser humano que existe de verdade. José Anselmo dos Santos, tardiamente, resolveu mostrar sua cara agora e falar porque cansou de viver, amedrontado, escondido em um casulo quase secreto.

Pois é exatamente deste falso abrigo psicológico – mais parecido com uma torturante prisão - que José Anselmo dos Santos resolveu sair. Ele agora só quer colaborar, com sua vivência, para que se escreva, no Brasil, uma história verdadeira – que reflita a realidade dos simples mortais que se trabalham por um objetivo mais humano de vida e querem ser felizes. Só isso. Nada mais.

José Anselmo dos Santos se sente indignado porque foi obrigado a brigar na Justiça Federal, com a Marinha, para ter direito a uma simples carteira de identidade. Além de abraçar esta causa inédita, seu advogado Luciano Blandy também luta administrativamente para demonstrar o óbvio ululante: que José Anselmo dos Santos tem direito à anistia e a receber seus proventos da Marinha, sem necessidadede indenização milionária.

Quem conseguir assistir ao programa logo mais à noite terá a chance de constatar que José Anselmo dos Santos é um homem estudioso e comprometido com valores humanos e na defesa de um Brasil melhor. Se não houver censura ideológica ou “justiçamento” editorial – tão comuns em nossa imprensa tupiniquim -, a entrevista de logo mais com José Anselmo dos Santos vai surpreender até aqueles que aprenderam a odiar o difamado “Cabo” Anselmo.

Tenho a honra e felicidade de ter me tornado amigo de José Anselmo dos Santos. Do personagem inventado "Cabo" Anselmo, com certeza, não seria amigo. Vou comemorar a morte definitiva dele logo mais. E o livro que o José escreveu será o atestado de óbito definitivo do "Cabo". Sem choro e nem vela.

Que a televisão lhe seja leve, José Anselmo dos Santos. Se não for, o livro que você escreveu – assim que alguma editora séria tiver a coragem de publicá-lo – lhe fará Justiça Histórica, dando cabo, definitivamente, do “Cabo” mal inventado.
Alerta Total

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