A oportunidade de vestir uma farda, disputar os Jogos Mundiais Militares de 2011 no Rio de Janeiro e ainda ser remunerado por isso encheu os olhos de boa parte dos atletas brasileiros. Para os nadadores, no entanto, vai ser difícil conciliar as batidas de continência e as braçadas na piscina. A disputa promovida pelas Forças Armadas termina apenas três dias antes do Mundial de Esportes Aquáticos de Xangai, principal competição da modalidade no ano, marcada para o período entre 24 a 31 de julho. Os organizadores dos dois eventos ainda não chegaram a um acordo, e já houve até quem pedisse desligamento do serviço militar.
Maior competição da natação desde o Mundial de Roma, em 2009, a disputa em Xangai servirá ainda de teste para as Olimpíadas de Londres, em 2012. Além de exigir uma intensa preparação, o fato de ser na China torna ainda mais importante o período de aclimatação. Com o Mundial Militar grudado no calendário, os nadadores precisam se decidir.
- Pedi o desligamento justamente porque não haveria como me preparar para competir bem nos dois eventos. O Mundial de Xangai é logo depois do Militar, e não dá para viajar e competir sem um período de aclimatação e treinos na China. Foi difícil tomar essa decisão, mas preferi assim para ter mais chance de garantir medalha no Mundial e me preparar melhor com foco nos Jogos Olímpicos de 2012 - explica Kaio Márcio, que se formou terceiro-sargento do Exército no ano passado.
A grande maioria dos nadadores alistados, no entanto, ainda não decidiu o que fazer. Embora Xangai seja o principal objetivo de todos, muitos não querem ter de pedir desligamento do serviço militar, como fez Kaio Márcio, abrindo mão da competição no Rio e dos benefícios oferecidos pelas Forças Armadas. Um dos principais nomes da natação feminina no país, Fabíola Molina pretende cumprir os dois calendários.
- Nossa preocupação é sempre estar na nossa melhor forma possível para competir. Mas, dentro das situações que aparecem, temos que aprender a fazer o melhor e se adaptar. Às vezes, fazemos aclimatação e mesmo assim temos muita dificuldade com o fuso. Em outras, chegamos poucos dias antes e dá para nadar bem. Então, o melhor é se preparar mentalmente, sabendo da proximidade das competições, e fazer o melhor possível para se poupar na viagem e chegar o menos cansado possível na China - afirmou a experiente nadadora de 35 anos, formada como sargento do Exército.
Forças Armadas culpam Fina e os chineses pelo impasse
O vice-almirante Bernardo Gamboa, presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil, afirmou que houve um esforço por parte das Forças Armadas para tentar solucionar o problema e culpou a Federação Internacional de Natação (Fina) e os organizadores da competição chinesa pelo impasse.
- Nós já antecipamos o calendário. A China e a Fina é que foram inflexíveis conosco. A data desses jogos foi definida desde 2007. Na verdade, até antes disso. O Conselho Internacional de Esportes Militar fez um documento para todas as entidades avisando isso. E a Fina marcou em cima do nosso calendário. É bom que fique claro que nós não estamos sendo irredutíveis em nada. A China e a Fina é que foram irredutíveis, deram várias desculpas e deixaram um bando de saias justas - afirmou.
Gamboa explicou que as disputas da natação já foram puxadas para o início da competição. A cerimônia de abertura do Mundial Militar está marcada para o dia 16 de julho. De 17 a 21, acontecem as provas na piscina do Parque Aquático Maria Lenk.
- A natação veio pra o início dos Jogos e, agora, vamos ajustar também pelas provas. Se a prova de 100m livre for a primeira lá, será a primeira para nós também. Agora, certamente, não dará para viajar com toda a equipe completa.
Segundo o vice-almirante, as Forças Armadas ainda esperam um posicionamento da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para ajudar em uma possível alteração na data do Mundial de Xangai. Gamboa reivindica uma pressão política da entidade brasileira junto à Fina e à China. A assessoria de imprensa da CBDA informou que a entidade está atenta ao problema e que este será um dos temas discutidos durante o Conselho Técnico de Natação, de quarta a sexta-feira, no Rio.
GLOBO ESPORTE
Comento:
Resumo da ópera: seja a responsabilidade das FA, da CBDA ou da Fina, o Exército (leia-se a nação) pagou por meses os nadadores, como se sargentos fossem, para vê-los pedir baixa às vésperas da competição. E o dinheiro público, mais uma vez, vai pelo ralo.
Ao militar temporário comum, é exigido que cumpra, ao menos, a metade do tempo ao qual se obrigou a servir, para depois solicitar a baixa, que poderá ser concedida ou não. Pelo visto, a regra não vale para os atletas.