O mito da carga de cavalaria polonesa contra panzers
Para irritar um polonês de uma certa idade, pode-se fazer algo simples: fale sobre a suposta carga da cavalaria polonesa contra as divisões panzer alemãs na Segunda Guerra Mundial.
Essa história alimenta um estereótipo dos homens poloneses como desesperadamente românticos, idiotas que galopariam seus cavalos contra tanques de aço.
A provável origem da lenda é uma escaramuça na vila pomerana de Krojanty, no primeiro dia da invasão alemã, 1 de setembro de 1939. Cavaleiros poloneses, cujas unidades ainda não haviam sido motorizadas, realmente atacaram um batalhão de infantaria da Wehrmacht, mas foram forçados a recuar por pesado fogo de metralhadora. Quando os correspondentes de guerra alemães e italianos chegaram ao local, alguns tanques já estavam lá, e os fatos isolados foram juntados numa única história.
A história foi usada pela propaganda alemã e depois pela soviética para retratar os oficiais poloneses (que foram assassinados em massa por Stalin no ano seguinte) como despreocupados com as vidas de suas tropas.
O que mais irrita os poloneses é que esta fábula em particular diminui a importância da contribuição da Polônia para o esforço de guerra Aliado, reduzindo-o a um único momento de insensatez.
Sobre isso, o historiador Ben MacIntyre escreveu: “A contribuição polonesa para a vitória Aliada na Segunda Guerra Mundial foi extraordinária, talvez até decisiva, mas por muitos anos foi miseravelmente diminuída, obscurecida pelas políticas da Guerra Fria”.
Ele ressalta que 1 em cada 12 pilotos na Batalha da Inglaterra era polonês, e cerca de 250.000 soldados poloneses serviram nas forças britânicas, enquanto um grande e esquecido papel foi protagonizado pela Resistência Polonesa.
O “Home Army”, como era chamado, chegou a cerca de 400.000 homens, e infligiu sérios danos às forças de ocupação alemãs por toda a guerra. A Resistência Francesa só chegou a esse número após o Dia-D, quando a situação ficou claramente favorável a eles. Mas enquanto os franceses puderam liderar a liberação de Paris, os poloneses e sua memória foram esmagados por seus novos ocupantes soviéticos, com aquiescência do ocidente.
Para contentar Stalin, os poloneses não foram convidados para a Parada da Vitória de 1946 em Londres.
Fonte: The Guardian, 6 de abril de 2011.