12 de novembro de 2013

Para pensar ...

O PORQUÊ DE OS CHEFES MILITARES SE UFANAREM DA VIDA POLITICA?

Joao Batista Bitencourt Filho
Amigos!
Depois de muito refletir e buscar razões para entender o comportamento dos chefes militares brasileiros, ao longo desses mais de vinte e cinco anos em que milito no meio político e tento abrir a cabeça dos colegas – praças e oficiais – para a necessidade da participação ativa do militar na vida política nacional, inclusive se candidatando e formando bancadas nas casas legislativas, acho que cheguei à resposta mais plausível e próxima da realidade para tamanha aversão ao assunto, inclusive com prisões, perseguições e proibições veladas ou explicitas àqueles que pensam e agem no mundo da política, dentro ou fora da caserna, o que os leva a terem aversão e repulsa, com calafrios e arrepios quanto o assunto é política no meio militar: O MEDO!
Alguns fatos e fragmentos, juntados da memória, ao longo desse mais de vinte cinco anos de luta, trabalho, prisão e perseguição - esta até hoje mesmo depois de deixar a FAB -, me levaram a queimar neurônios para encontrar uma única e principal razão para toda essa afronta e desserviço que prestam à família militar, como um todo, pois, enquanto nos cerceiam, impedem, proíbem, perseguem e criam obstáculos, ficamos à margem da sociedade que é civil, muito antes de ser militar.
Elenco vários deles, reais e concretos, que mostrarão aos colegas e, seguramente, os ajudarão a pensar e refletir para ver se encontrei ou não a razão, uma vez que alguns já podem ter presenciado ou vivenciado estes comportamentos dos chefes militares, que os leva a ter medo de que a vida política entrando na caserna e alguns ou vários militares da reserva ou mesmo da ativa, se candidatem ou venham a conquistar espaço no cenário político nacional, podendo, com isso, virem a ser os reais e interlocutores junto às autoridades e não mais eles que, aliás, de há muito já não o são, haja vista que perderam os cargos de ministros, deixando à mesa de reuniões do planalto, ficando com os reles cargos de Comandantes, não mais apitando e tendo que ser boy ou estafeta de luxo de um paisano que de FFAA nada entende, ficando, nas reuniões ministeriais, como lacaios, sentados logo atrás do titular da pasta para, se for o caso, a ele passarem “bizus”, nos assuntos discutidos com o chefe de estado brasileiro. Há inda, nesse caso, a ideia dos PeTralhas, que ainda não foi avante, mas existe, de até os cargos de Comando passarem para um civil que responderá direto ao ministro. Não é “estória”, isso é real e só ainda não colou!
Pois bem, lembro que, quando fui preso em 86, levantando em manifesto escrito, melhores salários, e outros direitos como 13º, voto de Cabos, Soldados e Taifeitos, ouvido pelo brigadeiro comandante, à época, este me indagou se eu não estava querendo, com aquilo, liderar a classe e subverter a ordem, inclusive duvidando que eu tivesse escrito o manifesto.
Lembro também que depois de cumprir a prisão, um oficial da Turma do meu irmão mais velho, me indagou sobre minhas intenções e o que estaria por trás, dizendo que se eu me elegesse deputado federal eles teriam que “bater continência” para mim, ao que respondi dizendo que aquilo era um pensamento pequeno, usando o indicador e o polegar, afastados, para mostrar quão pequeno e mesquinho era aquele pensamento.
Tempos depois, já pré-candidato às eleições de 1986 - constituinte -, dois deles foram, fardados, na Convenção do Partido e disseram: “tira o sargento senão vai dar merda! Soube disso dois meses depois, por pessoas do Partido, as quais me explicaram a razão de meu nome ter sumido da nominata que iria para o TRE. 
Este fato ocorrido comigo, serviu de alerta para os chefes militares e começaram a agir com os serviços reservados das três FFAA, distribuindo e espalhando informações mentirosas quanto à minha pessoa, o fato e minha vida profissional e particular, nas unidades militares do EB, MA e ERA., com o fito de intimidar aqueles que, doravante, tentassem fazer ou pensar em fazer, o que eu havia feito, me rotulando de comunista, persona non grata no meio, que usava subordinados para arrecadar dinheiro à minha campanha e, por fim, que haviam me expulsado, omitindo que eu pedira baixa, compelido, para ver cessar a perseguição interna, a qual continuou e continua, aqui fora. Mentiram, omitindo a verdade, para amedrontar e inibir novos “insurgentes”, no meio militar! MEDO!
Desse fato, para demonstrar, na Unidade, a força do tacão, vieram transferências de colegas que nada tinham ou tiveram como a minha ideia e ação, dez comigo, um para canto do país, com a simplória explicação, quando indagados: “ vocês conversavam com ele”. INTIMIDAÇÃO!
Poderia ficar aqui escrevendo um livro ou roteiro de cinema para explicar e mostrar aos colegas de farda a razão pela qual, não se vê nenhum incentivo, ajuda ou apoio aqueles que querem se candidatar e que, para isso, buscam os votos da família militar, um contingente no país, usando ativa, reserva, pensionistas e fazendo mais cinco votantes na família, temos um contingente eleitoral aproximado de algo em torno de 5 milhões de eleitores, o que nos dá, por estado, a hipótese de elegermos ao menos um federal em cada unidade federativa, ou seja, de 20 a 30 parlamentares que, no Congresso, nos dá uma bancada respeitável e capaz de defender nossos direitos e necessidades enquanto FFAA e família militar. UM GIGANTE ADORMECIDO!
Lembro também, por derradeiro, que o medo de perderem a primazia na “defesa” dos interesses da família militar e da caserna, os arrepia de há muito, tanto que, ainda durante o Regime, todos os Clubes Militares, principalmente os dos graduados – esse o maior contingente nas FFAA -, foram obrigados a colocar nos Estatutos, um artigo ou parágrafo proibindo que em seus âmbitos fossem tratados assuntos referentes à política, ou dentro neles fossem permitidas campanhas ou acesso de candidatos, e até mesmo proibindo que, as diretorias nisso se imiscuíssem.
Finalizando, pois como disse não é um livro e nem roteiro, aponto outro caso acontecido comigo – não me contaram -, em 2010, quando candidato à Câmara Federal, fui levado por alguns oficiais amigos de fé, ao Clube da Aeronáutica, na Barra da Tijuca ou Recreio, para apresentar minha candidatura e minha história, tendo sido muito bem recebido por oficiais das turmas dos meus cicerones, mas ao ser apresentado ao Presidente, um Brigadeiro, que, diga-se, também, foi cordial e me ouviu, só que pediu que não falasse com outros ali presentes, exceto aqueles com os quais já havia estado, porque, segundo ele: “os presidentes dos três clubes tinham se reunido e decidiram não permitir esse tipo de conversa no âmbito daquelas associações.” Nem eu, nem ninguém! Depois apurei que isso não procedia!
Para mim, tudo isso demonstra o porquê e acho que encontrei a razão de os chefes militares não permitirem, desestimularem, coibirem e não aceitarem, a formação de representações militares nas casas legislativas do país, mormente no Congresso, fato este que se tornado realidade, poderá tirar deles a interlocução da classe junto às autoridades constituídas, uma vez que, afastados como estão das decisões inerentes às FFAA, como já demonstrado acima, com uma bancada, perderiam de vez, a voz, mesmo que tímida hoje, para uma representação política construída e tirada do seio militar, no Congresso, sem qualquer tipo de hierarquia, subordinação ou subserviência a eles, o que seria o FIM. É O MEDO!
Pensem nisso!
*Advogado e ex-Sargento da FAB.

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