23 de dezembro de 2013

Enquanto o Gripen não chega, FAB fecha bases para economizar

Depois de Fortaleza e Santos, Afonsos e Florianópolis podem parar
Base Aérea dos Afonsos (Foto Genilson De Araujo - agência O Globo)
CHICO OTAVIO 
RIO - A compra dos caças suecos Gripen NG (nova geração) contrasta com a realidade da Força Aérea Brasileira (FAB). Por trás dos sorridentes militares que comemoraram o resultado do projeto, esconde-se uma situação crítica. Enquanto no ar os pilotos de caça não conseguem cumprir, em um ano, as 150 horas de voo obrigatórias para manter as condições de combate, na terra a Aeronáutica conduz discretamente um processo de desativação de bases aéreas para gastar menos. E a expectativa na tropa, com a encomenda de R$ 4,5 bilhões a Suécia, é que o comando aperte ainda mais os cintos.
A pretexto de redimensionar a frota, a Aeronáutica já esvaziou os hangares de duas bases aéreas. O único esquadrão que operava na Base de Fortaleza (CE), os Bandeirantes de instrução do 1º do 5º Grupo de Aviação, foi transferido para Natal. A capital potiguar também foi destino do esquadrão 1º do 11º, composto por helicópteros Esquilo, que deixou sem aeronaves a Base de Santos (SP).

Afonsos na mira dos cortes
Embora a Aeronáutica não confirme, a política de desativação deve atingir agora a base de Florianópolis (SC), sede do esquadrão Phoenix, formado por Bandeirantes Patrulha (2º do 7º), e a histórica Base Aérea do Campo dos Afonsos, na Zona Oeste do Rio, onde o silêncio já impera sobre o barulho das turbinas. Berço da aviação militar e primeira escola de formação de pilotos, Afonsos abriga um esquadrão de Hércules C 130 (1º do 2º GT), que deverá se transferido para o Galeão, e um esquadrão de helicópteros (3º do 8º), que iria para Santa Cruz (RJ).
Afonsos e seus Hércules de lançamento de tropas viveram durante décadas um processo de simbiose com a vizinha Brigada de Infantaria Paraquedista. Porém, com a intenção do Exército de transferir os paraquedistas para o Planalto Central, a base perderá o sentido operacional. Seu esvaziamento também deverá vitimar o Parque de Material Aeronáutico, local da unidade onde acontecem as grandes manutenções da Força, mas não se sabe o que vai acontecer com o Museu Aeroespacial, parte do complexo.
Uma base dotada de esquadrões mobiliza de 800 a mil militares, movimento que impulsiona economicamente o entorno da unidade. Sem aeronaves e servindo apenas de base de apoio, a necessidade despenca para cem homens. Para uma força que, hoje, é obrigada a cortar o expediente matinal por não ter alimentação a oferecer aos soldados, a economia é considerável.
— Uma economia de quatro anos, com a desativação das bases, paga essa conta (do contrato dos caças Gripen). Depois, nada impede que sejam reativadas — afirma o coronel aviador da reserva Franco Ferreira, consultor do site “Poder Aéreo”.
Porém, para a população civil local, a medida é desastrosa. No caso de Fortaleza, R$ 200 milhões deixarão de circular na cidade e movimentar a economia local. Este é o valor médio que será perdido em razão da redução da folha de pagamento, com a saída do esquadrão operacional. De imediato, mais de cem servidores civis devem perder seus empregos, pela natural redução do contingente, diminuição das atividades executadas e corte de verbas para a manutenção da infraestrutura. Por isso, a classe política cearense protesta contra o esvaziamento:
— Em 1999 houve um movimento igual a esse. Eles alegavam que havia instalações adequadas no Rio Grande do Norte. Na época, foi feito um estudo econômico e constatado um prejuízo muito grande — lamenta o deputado João Jaime (DEM), que se opôs à desativação.
Para as próprias famílias de militares, haverá transtornos. Mais de oito mil pessoas, entre militares da ativa e da reserva, dependentes e pensionistas, se consultam no hospital da base. Quando um esquadrão inteiro é transferido para outra cidade, essas mesmas famílias passam a engrossar as filas dos serviços de saúde local, sobrecarregando o atendimento:
— E assim, base após base, município após município, a FAB vai reduzindo sua presença nacional e consequentemente a função econômico-social que exerce dentro das comunidades às quais se integra — disse um piloto de testes, que prefere não se identificar.

Anápolis sem caças
Com a despedida dos caças Mirage 2000, que saem de operação até o fim do mês, a Base de Anápolis (GO) também sofrerá redução operacional. Mas não fechará: um grupo de seis pilotos permanecerá no local, para manter a administração da unidade, cumprir horas de voo no F-5 e participar de treinamento.
Procurado para esclarecer o processo de desativação das bases, o Centro de Comunicação Social do Comando da Aeronáutica não respondeu ao pedido do GLOBO. (R. A.)
O Globo/montedo.com

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