22 de dezembro de 2013

Opção brasileira pelo Gripen abala fornecedores da Boeing

Recusa pelos caças F-18 e perda de contrato com Coreia do Sul ameaçam ainda linhas de produção em cidade que emprega funcionários da Boeing nos EUA
Caça Gripen, da sueca SAAB
Caça Gripen, da sueca SAAB (Johan Nilsson/AFP)
A opção do governo brasileiro pelos caças suecos Gripen causou surpresa ao ser anunciada na última quarta-feira. Como as atuais aeronaves usadas pela Força Aérea Brasileira (FAB), os Mirage 2000, da francesa Dassault, já ultrapassaram todos os limites da recauchutagem e serão aposentadas em 31 de dezembro, o governo se viu obrigado a revelar sua escolha após um processo que passou por diversos adiamentos nos últimos anos e remonta a 1991. Ao optar pelo Gripen, o Brasil descartou a Dassault e a americana Boeing – favorita da presidente Dilma Rousseff até a revelação da extensão do programa de espionagem dos Estados Unidos. Confiante que o negócio seria fechado, a cidade rural de Alton, no Missouri, foi atingida em cheio pela notícia. E teme agora pelo futuro.
Ao ser preteria pela sueca Saab, a Boeing deixou de assinar um contrato de 4,5 bilhões de dólares com o Ministério da Defesa. As aeronaves Gripen NG ainda estão no papel, o que as deixa atrás das concorrentes do contrato, Dassault (com o Rafale) e Boeing (com o Super Hornet F18), no quesito horas de voo. Mas o governo brasileiro insistiu que se tratava do melhor custo-benefício para o país, tendo em vista que o Gripen custará menos e sua manutenção é mais barata. Após o anúncio da decisão, a companhia francesa e a americana demonstraram frustração, em notas enviadas à imprensa.
Agora, a recusa brasileira do Super Hornet e a perda de um grande contrato de F-15s com a Coreia do Sul no mês passado ameaçam as linhas de produção na área de St. Louis que emprega funcionários da Boeing, os fornecedores e a qualidade do crédito do município. Nos níveis de produção atuais, o Super Hornet sairia de linha em 2016, e os F-15 dois anos depois. A Boeing e seus fornecedores vinham contando com acordos militares no exterior para ampliar a vida dos dois aviões, mas as pressões orçamentárias estão atrasando os fechamentos de contrato em alguns mercados cruciais, além de reduzir compras nos Estados Unidos.
"Certamente estamos preocupados com o desfecho disso", declarou Chet Sisco, gerente-geral da Central Ozark Machine Inc., que emprega 25 pessoas e obtém cerca de 85% de seu trabalho fabricando peças de alumínio e titânio para Super Hornets e F-15s. O Super Hornet, cujo maior cliente é a Marinha dos EUA, sustenta cerca de um terço dos 15.000 empregados da Boieng no Missouri. O avião e outros negócios da empresa fornecem cerca de 1 bilhão de dólares em encomendas anuais para quase 700 fornecedores no Missouri.
O tema dos caças foi preterido ao longo do governo Dilma. Nas poucas discussões consistentes sobre o tema, a favorita da presidente era Boeing. Não só a proposta de transferência de tecnologia da gigante americana havia agradado à FAB, como a vinda da empresa ao Brasil havia suscitado uma série de possibilidades de parcerias com a indústria que iam além dos F18. Segundo documentos sigilosos divulgados pelo Wikileaks, o brigadeiro Juniti Saito também havia explicitado, em 2009, a superioridade técnica da aeronave americana. Contudo, a saia-justa causada pelas denúncias do ex-técnico da CIA e da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, Edward Snowden, que revelaram práticas de espionagem do órgão a diversos governos — inclusive o brasileiro — colocaram a Boeing no fim da fila e colocaram no páreo apenas franceses e suecos.
Em entrevista ao site de VEJA, a presidente da Boeing no Brasil e ex-embaixadora, Donna Hrinak, afirmou que o F18 não só é tecnicamente superior, como também a proposta da empresa para o projeto foi aprimorada ao longo dos anos. Segundo Donna, o governo brasileiro tem toda a razão em condenar as ações da NSA, mas reafirmou que a força das relações comerciais entre Brasil e EUA vai muito além das denúncias. “É uma relação bilateral de muitos anos. Compartilhamos valores e interesses. E não podemos deixar que essa relação seja afetada por Edward Snowden”, afirmou. (Com agência Reuters)
Veja/montedo.com

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