ANÁLISE
Favela da Rocinha, RJ (Rommel Pinto/Futura Press/Folhapress.) |
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
Nenhum outro resultado sintetiza melhor o quadro revelado pelo Datafolha sobre a cidade do Rio de Janeiro do que os 72% dos cariocas que aceitam a ideia de mudar da cidade em razão da violência.
A segurança pública é apenas um dos vetores da grave crise no Estado, mas a retroalimenta como poucos, já que seu catalizador é democrático e universal: o medo se mostra majoritário em todos os estratos da população.
Mesmo sentindo-se um pouco mais seguros em seus bairros durante o dia, estratos de maior renda e escolaridade não revelam a mesma sensação à noite e se equiparam à média quando têm que sair pelas ruas da cidade em qualquer período ou horário. A sensação de insegurança, que, nesse caso, alcança 90% da população, projeta-se em percentuais elevados tanto nas críticas à gestão do setor quanto na defesa por intervenções externas.
Com exceção da imagem do Bope, a desconfiança e a percepção de baixa eficiência das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e da Polícia Militar acabam se traduzindo em apoio maciço, de 83% dos entrevistados, às ações do Exército na cidade –entre os menos escolarizados, esse índice chega a 92%; ele cai para 74% entre os que têm nível superior.
VITIMIZAÇÃO
É claro que a percepção da violência é muito superior às taxas de vitimização, mas as ocorrências recentes, dos últimos 15 dias, tanto de testemunho do uso de armas de fogo quanto de abordagem direta dos entrevistados (5%) superam padrões médios em períodos bem mais longos.
Em Pesquisa Nacional de Vitimização feita pelo Datafolha para o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em 2012, 3% dos habitantes das capitais brasileiras revelavam ameaças com faca ou arma de fogo nos 12 meses que antecederam as entrevistas.
Também é interessante notar que, apesar dos percentuais serem mais baixos, diferente do medo generalizado, tendências de contraste são identificadas nas taxas de vitimização direta. A experiência pessoal de ser ameaçado com uma arma de fogo é mais frequente entre pardos e negros do que entre brancos. Ela também aumenta à medida que cai a renda familiar. E a responsabilidade do cenário, segundo os entrevistados, se divide pelas diferentes esferas do Poder Executivo, com destaque para o governo do Estado e Presidência da República. Não à toa, o governador Pezão consegue ser aprovado por apenas 3% dos moradores da capital e só perder para seu padrinho político, Sergio Cabral, o posto de pior governador da história na opinião dos cariocas.
O prefeito Marcelo Crivella também frustra. A grande maioria dos eleitores enxerga um desempenho abaixo da expectativa, não só na cidade como um todo, como também em seus bairros. A maior parte identifica pioras especialmente nos sistemas municipais de saúde, na educação, transporte público e trânsito.
IMPOPULARIDADE
A impopularidade do prefeito Crivella só não é maior por conta da devoção dos evangélicos. Sua taxa de reprovação, que chega a 40% no total da amostra, cai, aproximadamente, pela metade entre os pentecostais e para apenas 6% entre os neopentecostais. Juntos, no Rio, os segmentos totalizam um terço da população.
Dentre os 16% que o consideram um prefeito ótimo ou bom, pelo menos 10 pontos percentuais vêm dos diferentes ramos de sua religião. Sem o apoio dos evangélicos, a aprovação a Crivella não chegaria nos dois dígitos.
Envolta em denúncias de corrupção pesada, marcada pelo desleixo com seu legado e descumprimento de promessas, a escolha da cidade para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 deixa agora na maioria dos cariocas a sensação de prejuízos proporcionais ao tamanho e importância do evento, que tinha tudo para reforçar a cidade como o lugar de onde ninguém gostaria de se mudar.
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com