4 de outubro de 2009

ARAGUAIA: "ORDEM ERA SUMIR COM OS CORPOS DOS GUERRILHEIROS" - DIZ CORONEL

Depoimento do coronel aviador reformado Pedro Correa Cabral (67), a Ricardo Kotscho. Ambos integraram o grupo que retornou ao Araguaia essa semana para tentar encontrar os restos mortais dos guerrilheiros mortos durante os combates realizados na região, no início dos anos 1970.
O coronel Cabral foi um dos pilotos de helicóptero que transportou os corpos para serem queimados, na chamada "Operação Limpeza", no início de 1975. É autor do livro "Xambioá - a Guerrilha do Araguaia".

Confira:

“No último mes de combate, em dezembro de 1974, segundo os nossos controles, só restava um guerrilheiro vivo que não foi localizado e conseguiu fugir da área. Era o Angelo Arroyo (ele seria morto pouco tempo depois pelo DOI-CODI durante invasão feita na casa onde a direção do PCdoB estava reunida na Lapa, em São Paulo)”.

“Nós da FAB fomos chamados no início de janeiro para fazer a “Operação Limpeza” com a finalidade de não permitir, depois que os militares saíssem que a área fosse escarafunchada por jornalistas e familiares dos mortos, causando problemas ao governo e às Forças Armadas. A ordem eram sumir com os corpos dos guerrilheiros”.

“Um colega meu da FAB, o coronel Sergio Camargo, localizou um paredão de pedra ao norte da Serra das Andorinhas para fazermos este trabalho. Ele falou para o comando que já sabia para onde levar e queimar os corpos, mas foi transferido para Belém, e o serviço ficou para mim e outros pilotos. Só eu transportei uns 15 fardos com os corpos que foram cercados de pneus e queimados com gasolina. Cheguei a pousar lá quando os fardos levados por outro helicóptero ainda estavam queimando”.

“Isto foi feito entre 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 1975. Fui o último piloto a deixar a área. Conto tudo isso no meu livro “Xambioá _ A guerrilha do Araguaia”, lançado em 1993. Já voltei três vezes á Serra das Andorinhas, mas não consegui encontrar o local exato onde os corpos foram queimados. Na primeira vez, fui com o pessoal da revista Veja, logo que o livro foi lançado. Em 2001, acompanhei uma missão do então deputado Luis Eduardo Greenhalg, com o apoio da FAB, e voltei em 2004 com um grupo interministerial”.

“Espero que o grupo que agora está aqui convoque o coronel Sergio Camargo para vir para cá e colabore com as buscas porque foi ele que descobriu o paredão das Andorinhas e sabe voltar lá. É possível que a gente encontre lá pelo menos restos do aço que é empregado na fabricação de pneus para provar que os corpos foram mesmo queimados ali”.

Ao nos despedirmos, o coronel Cabral estava bastante emocionado com o que acabara de assistir e ouvir na reunião.
“Não esperava viver para ver isso que vi hoje, ver o comandante do Exército participando de uma reunião ao lado do Aldo Arantes, do PCdoB, com o mesmo objetivo de encontrar a verdade. É um outro Exército, um outro país, muito melhor, mais próximo da democracia”.

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