WILSON TOSTA - Agência Estado
O ex-comandante das operações militares da Missão das Nações Unidas no Haiti (Minustah) e general-de-brigada Floriano Peixoto Vieira Neto afirmou hoje considerar prematura a retirada do Brasil do país caribenho, onde as forças brasileiras comandam o contingente da ONU desde 2004. Embora ressaltando que a decisão no caso é do Itamaraty - os militares são "um mecanismo da política externa brasileira", ressaltou -, o oficial disse que há "uma expectativa muito grande de que todos os agentes, não só o Brasil, permaneçam".
O militar não quis opinar sobre a postura do novo governo - a ser chefiado pela presidente eleita Dilma Rousseff (PT), a partir de janeiro - no assunto. "Pela condição em que se encontra o país, o aspecto da estabilização é fundamental para que outros órgãos se sintam estimulados a colaborar, principalmente a comunidade internacional, de modo que o Haiti possa alcançar uma condição de autossustentabilidade", afirmou o general, após palestra no último dia da VII Conferência do Forte de Copacabana - Segurança Internacional, realizada no Rio de Janeiro.
Peixoto lembrou que o mandato para a missão de paz é renovado a cada ano - em 2010, isso ocorreu em 14 de outubro. "A cada período, (o mandato) é reavaliado, o Conselho de Segurança, o próprio país, o Haiti, os países amigos, enfim, aqueles atores principais se ajustam, se manifestam, e o Conselho de Segurança decide sobre a extensão ou não", explicou.
Segundo o general, o Brasil atualmente tem 2.200 oficiais e praças servindo em território haitiano, e mais de 10 mil militares brasileiros já passaram pelo país, desde o início da Minustah. "Para o aspecto pessoal, é muito interessante, porque funciona como uma prática, uma possibilidade para que nossos quadros, nossos oficiais, sargentos, cabos e soldados, possam praticar, possam treinar", afirmou.
Terremoto
O ex-comandante, que chefiava a missão quando um tremor de terra atingiu o Haiti no início de 2010, disse que, diferentemente do que se pensava, não houve descontrole da situação de segurança no país após o incidente. "O terremoto foi pontual, no dia 12 de janeiro, entretanto havia cinco anos as forças de estabilização já vinham trabalhando no Haiti", destacou. "Se tivesse ocorrido, por exemplo, em 2004, talvez o quadro tivesse sido diferente", acrescentou.
O general, que serviu duas vezes lá - a primeira por seis meses, em 2004, e a segunda como Force Commander, de abril de 2009 a abril de 2010 - afirmou que a missão está preparada para enfrentar desafios novos, como a recente epidemia de cólera. "No Haiti cada dia é possível ter uma surpresa nova", disse.