1 de abril de 2011

EXÉRCITO CALA O GENERAL HELENO E TRATA DE APAGAR O 31 DE MARÇO DE SUA HISTÓRIA

Palestra com o tema ‘A contrarrevolução que salvou o Brasil’ é cancelada por ordem do Comando do Exército

Roberto Maltchik 
O Comando do Exército abortou na última hora uma palestra com potencial explosivo do diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), general Augusto Heleno, cujo tema seria “A contrarrevolução que salvou o Brasil”, em referência ao 31 de março de 1964, data que marca o início da ditadura militar. A apresentação do general estava confirmada até as 17 h de quarta-feira, quando chegou a ordem do comandante do Exército, Enzo Peri, determinando o cancelamento do evento. A apresentação ocorreria no mesmo dia em que Heleno, liderança expressiva na caserna, foi para a reserva.
Primeiro comandante brasileiro no Haiti, o general Heleno preferiu silenciar sobre o conteúdo da palestra e também sobre os motivos pelos quais o evento foi cancelado. Disse apenas que cumpriu ordem superior:
- Recebi ordem. Sou militar, recebo ordem. Hierarquia e disciplina. Recebi a ordem ontem (quarta-feira), no final da tarde. Tem uma frase famosa: nada a declarar - afirmou Heleno.
O general Heleno se limitou a dizer que a abordagem seria exclusivamente “31 de março de 1964”, mas não quis entrar em detalhes sobre o contexto histórico que seria levado aos colegas de farda. Nas redes sociais, militares se preparavam para o “desabafo de Heleno”. Um oficial ouvido pelo GLOBO disse que o depoimento era aguardado com “grande expectativa”.

Jobim já havia determinado que não houvesse atos
Nesta semana, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, determinou aos comandantes das três Forças que não houvesse qualquer ato que exaltasse a data que deu início ao regime militar. Entretanto, como Heleno é general de quatro estrelas com grande destaque na tropa, coube ao comandante Enzo Peri a tarefa de impedir sua manifestação, às vésperas de sua aposentadoria. Quanto às comemorações nos clubes militares, o ministério avalia que não tem como evitar ou tentar coibir manifestações de oficiais da reserva que estavam na ativa naquele período.
O silêncio do quartel no dia da “contrarrevolução” - referência dos militares ao combate à “revolução comunista” que estaria em curso nos anos 1960 - foi imposto para evitar o acirramento dos ânimos, em pleno debate público sobre a criação da Comissão da Verdade, projeto que está tramitando no Congresso.
Como O GLOBO revelou, o Comando do Exército chegou a elaborar um documento em que condenava a criação da comissão, idealizada para encontrar informações sobre os desaparecidos políticos durante o regime militar.
O mês da “contrarrevolução” foi excluído do site do Exército. As “comemorações” se limitaram a um ato no último dia 25 de março, no Clube Militar do Rio de Janeiro.
Segundo o próprio general Heleno, a programação da palestra não tem “absolutamente” nenhuma relação com sua exoneração, publicada no Diário Oficial da União em 29 de março. Heleno explicou que sai da ativa compulsoriamente, após 12 anos na mais alta patente do Exército. Mesmo na reserva, ele continuará à frente da Diretoria de Ciência e Tecnologia até 14 de maio, quando será substituído pelo general Sinclair James Mayer, atual diretor de Material do Exército.

Heleno criticou política indigenista de Lula
Em 2008, o general Augusto Heleno causou polêmica, depois de ter criticado a política indigenista do governo Lula, classificada por ele de lamentável e caótica, e afirmou que estava preocupado com a soberania brasileira diante da presença de organizações internacionais na área.

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