Hamilton Bonat
“Diga ao seu comandante que, na hora que eu quiser, posso saber onde se encontra cada um dos generais do seu exército. Consigo identificar, até, quantas estrelas eles portam nos ombros”. Essa declaração, aparentemente atual, é de 1991. Poderia ter sido pronunciada em Washington/DC, mas eu, na época tenente-coronel, estava ouvindo-a em Moscou. E quem falava não era alguém da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) americana, mas o general russo encarregado do comércio exterior de material de defesa, que ainda acrescentaria: “Estamos oferecendo este serviço ao Brasil”.
O velho general foi prudente, a ponto de não ter revelado que eles acompanhavam, com muito mais razão, os passos de Itamar Franco, nosso presidente, e dos seus ministros.
Claro que a proposta me surpreendeu, pois me encontrava em sua sala apenas para trocar ideias sobre a visita que fizera a fim de avaliar um míssil que nos interessava e que sabíamos ter sido resultado de uma bem-sucedida operação de espionagem conduzida pelo serviço secreto soviético.
Russos e americanos haviam investido maciçamente na corrida espacial, a face limpa da suja guerra fria, que tantas mortes havia causado em países periféricos. Foi graças a ela que passaram a dominar o mundo. Desde aquele ano, e mesmo antes, eles nos bisbilhotam, pois o Brasil é o principal país da América Latina. Não só eles, mas outros também. Manter-se bem informado faz parte do eterno compromisso dos governantes para com sua nação. Para isso, cada qual utiliza os meios que sua tecnologia é capaz de inventar e produzir.
Permitam-me citar um exemplo recente: embora a imprensa e o Itamaraty, não sei por que, tenham se calado, o fato é que Evo Morales mandou invadir o avião do nosso ministro da defesa que estava taxiado no aeroporto de La Paz. Agentes bolivianos usaram cães farejadores (um avanço tecnológico para eles), o que sugere desconfiarem que nosso ministro estaria traficando drogas, o que, convenhamos, é ridículo, principalmente partindo de quem partiu.
Foi uma agressão à nossa soberania. O Brasil deveria ter reagido com a altivez de um leão, a mesma que agora, corretamente, demonstra em relação à arapongagem digital americana. Mas não o fez. Parece que ao senhor Evo tudo é permitido.
Obviamente, pouco adianta rugir como leão se leão não formos. Para virarmos leão de verdade, só existe um caminho: investir em nossos cientistas, em suas pesquisas e, claro, em educação de qualidade para as nossas crianças.
Caso contrário, continuaremos a ser o grande bobo da América Latina, submissos às vontades de Evo, das FARC e de outros fornecedores da droga que está destruindo o futuro da nossa juventude. A eles não interessa a evolução dos nossos jovens. Ao invés da evolução, acenam com a revolução, onde o prefixo “re” tem o sentido de recuo, de retorno a um passado retrógrado, o mesmo que levou, depois de setenta anos, a desgraça ao sofrido povo russo, a quem tinha sido prometido o céu.
Entretanto, o éden por ele sonhado seria um lugar reservado apenas para alguns poucos chefões do onipresente e dominador partido único, mesmo depois de o sonho ter acabado. Entre eles, estava o velho general que fez aquela surpreendente proposta, que acabei incluindo no meu relatório, mesmo sabendo que não seria levada em conta.
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