Caixa-preta não registrou diálogos do voo (Imagem: FAB) |
Josias de Souza
O ministro da Defesa, Celso Amorim, recebeu há pouco um telefonema do deputado gaúcho Beto Albuquerque. Líder do PSB na Câmara, Beto pôs em dúvida a investigação da Força Aérea Brasileira. Falando em nome do partido, o deputado pediu explicações sobre a notícia de que o áudio disponível na caixa-preta do avião que transportava Eduardo Campos não corresponde ao voo que terminou tragicamente, matando sete pessoas.
“O ministro me disse que também ficou surpreso com a informação”, contou Beto ao blog. “Eu informei que telefonaria para o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito. Mas o ministro afirmou que ele mesmo ligaria, para pedir maiores explicações. Nós, do PSB, estamos achando tudo muito esquisito.”
O deputado conversou com o repórter pelo telefone. Ele almoçava num restaurante de São Paulo com correligionários do PSB. Dividiam a mesa com Beto: Márcio França e Júlio Delgado, deputados como ele; além de Lídice da Mata e Antonio Carlos Valadares, senadores. “Estamos todos muito desconfiados”, disse Beto, que acabara de tomar conhecimento da novidade sobre a caixa preta ao checar o noticiário do UOL. Eis o que disse o deputado, para explicar por que o partido olha de esguelha para a investigação da Aeronáutica:
“O avião era novo e moderno. Os pilotos, muito experientes. Tivemos a informação de que houve uma explosão na turbina. Isso não acontece do nada. Depois, ficou-se sabendo que havia aviões não tripulados da FAB, os drones, naquela região. Foi confirmado que havia, mas disseram que estavam longe. Agora, dizem que o áudio da caixa-preta não corresponde ao voo. Não me lembro de ter visto outro caso no mundo em que a caixa-preta não registra o que foi dito na cabine do avião nas últimas duas horas de um voo.
Beto Albuquerque acrescentou: “É muita coisa ocorrendo em torno de uma tragédia. Parece até despiste. A Aeronáutica, o brigadeiro Saito, deve ao Brasil, ao PSB e à família do Eduardo Campos uma explicação convincente. Nós exigimos isso.”
O partido está colocando em dúvida a isenção da FAB?, quis saber o repórter. E o líder do PSB: “Nós estamos muito desconfiados desse acidente. Não vou acusar a Aeronáutica, ainda. Mas há uma sequência de episódios que estimulam a desconfiança: a turbina, os drones… E agora, casualmente, justamente no horário do acidente, a caixa-preta do avião não tem nada registrado. Eu disse para o ministro Amorim: nós acreditamos no corpo técnico da Aeronáutica. Mas, quando começam a se somar tanta coisa, a gente começa a desconfiar.”
O líder do PSB afirmou que advogados contratados pela legenda irão “requerer judicialmente o acompanhamento da investigação, que é sigilosa”. Beto disse, de resto, que o governo de São Paulo pode tomar a mesma providência. “Solicitamos ao governador Geraldo Alckmin que o Estado também exerça o direito de acompanhar a apuração do acidente ocorrido em seu território. Na nossa frente, ele determinou ao secretário de Justiça que analisasse o assunto.”
Atualização feita às 17h51 desta sexta-feira (15)
O brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, telefonou para o deputado Beto Albuquerque. Forneceu-lhe uma série de explicações. “Ele me disse que a tese da explosão de turbina não existe. Uma turbina estava no local do choque, no solo. Outra, com o impacto, foi parar na sala de um apartamento. Afirmou que não havia drones em operação naquela área. Sobre a caixa-preta, confirmou que não tem a gravação daquele voo. Disse que isso não é normal e que foi aberta uma investigação para saber por que não gravou.” Suas suspeitas foram eliminadas? “O brigadeiro nos deu uma satisfação. Pediu que confiássemos nas investigações. Vão abrir uma série de consultas, inclusive junto aos fabricantes dos equipamentos da caixa-preta. E eu pedi que ele nos informasse, quando puder, por que não gravou.”
UOL/montedo.com