As viúvas dos militares do Haiti vão à luta
Elio Gaspari
Elio Gaspari
Se o companheiro Obama fizer com as viúvas e os filhos dos soldados mortos nas suas guerras o que o governo de Nosso Guia está fazendo com as famílias dos 18 militares que morreram no terremoto do Haiti, sua carreira política estará encerrada.
Diante da catástrofe que matou 230 mil pessoas, os hierarcas de Brasília foram marqueteiramente impecáveis. Lula chorou durante a cerimônia da chegada dos primeiros esquifes, foi ao Haiti, percorreu ruínas e deu uma ajuda de US$ 15 milhões aos desabrigados. Além disso, anunciou que indenizaria com R$ 500 mil cada família de militar morto, mais um auxílio de R$ 510 mensais por filho em idade escolar. A iniciativa foi votada no Congresso e sancionada em junho.
Passaram-se sete meses da chegada dos mortos ao Brasil e dois da sanção. Cadê? Nenhuma viúva ou órfão recebeu um só centavo. Nem previsão há. Cada militar tinha direito a uma indenização de US$ 50 mil das Nações Unidas, sob cuja bandeira também serviam. Receberam no início de abril.
O Exército deu às viúvas o amparo devido e elas recebem pontualmente as pensões a que têm direito. Apesar disso, elas tinham mais a sofrer. Seus maridos pagaram regularmente por uma apólice de seguro de grupo vendida pelo Bradesco, por intermédio da Poupex, vinculada à Fundação Habitacional do Exército. Instituição privada, presidida por um general (da reserva), utiliza dependências militares para atender sua clientela. Confunde-se indevidamente com a instituição.
Na hora de receber o seguro, as viúvas foram informadas de que o contrato não previa pagamento em caso de terremoto. Por deferência do Bradesco, cada família receberia entre R$ 100 mil e R$ 250 mil, como se os maridos tivessem sofrido morte natural. Como um enfarte na praia. Elas sustentam que eles morreram num acidente, a serviço do país. Nesse caso, o valor do seguro dobra. “Meu marido morreu fardado”, diz uma senhora.
O Comando do Exército e o Bradesco (lucro de R$ 4,5 bilhões no primeiro semestre) estão diante de uma encrenca. Primeiro, porque surgiram quatro viúvas valentes que resolveram lutar pelos seus interesses. Até aí, jogo jogado, pois a seguradora sustenta que seu direito é melhor que o delas e, se não estão satisfeitas, recorram à Justiça. Elas informam que pretendem fazer exatamente isso, até porque o caso foi enriquecido por uma curiosidade: dois militares mortos tinham apólices individuais das seguradoras do Itaú e da Amil. Nenhuma das duas opera dentro de quartéis, nem associa seu nome ao Exército. Ambas entenderam que seus clientes tiveram morte acidental, pagaram o que julgaram devido e não há queixas em relação a elas.
No governo do companheiro Obama, nada disso aconteceria, porque nenhum presidente dos Estados Unidos é maluco a ponto de permitir que se vendam ilusões financeiras em quartéis. Uma das coisas que melhor funcionam na burocracia americana é o seu Departamento de Veteranos, que não se mete com seguradoras privadas.
Diante da catástrofe que matou 230 mil pessoas, os hierarcas de Brasília foram marqueteiramente impecáveis. Lula chorou durante a cerimônia da chegada dos primeiros esquifes, foi ao Haiti, percorreu ruínas e deu uma ajuda de US$ 15 milhões aos desabrigados. Além disso, anunciou que indenizaria com R$ 500 mil cada família de militar morto, mais um auxílio de R$ 510 mensais por filho em idade escolar. A iniciativa foi votada no Congresso e sancionada em junho.
Passaram-se sete meses da chegada dos mortos ao Brasil e dois da sanção. Cadê? Nenhuma viúva ou órfão recebeu um só centavo. Nem previsão há. Cada militar tinha direito a uma indenização de US$ 50 mil das Nações Unidas, sob cuja bandeira também serviam. Receberam no início de abril.
O Exército deu às viúvas o amparo devido e elas recebem pontualmente as pensões a que têm direito. Apesar disso, elas tinham mais a sofrer. Seus maridos pagaram regularmente por uma apólice de seguro de grupo vendida pelo Bradesco, por intermédio da Poupex, vinculada à Fundação Habitacional do Exército. Instituição privada, presidida por um general (da reserva), utiliza dependências militares para atender sua clientela. Confunde-se indevidamente com a instituição.
Na hora de receber o seguro, as viúvas foram informadas de que o contrato não previa pagamento em caso de terremoto. Por deferência do Bradesco, cada família receberia entre R$ 100 mil e R$ 250 mil, como se os maridos tivessem sofrido morte natural. Como um enfarte na praia. Elas sustentam que eles morreram num acidente, a serviço do país. Nesse caso, o valor do seguro dobra. “Meu marido morreu fardado”, diz uma senhora.
O Comando do Exército e o Bradesco (lucro de R$ 4,5 bilhões no primeiro semestre) estão diante de uma encrenca. Primeiro, porque surgiram quatro viúvas valentes que resolveram lutar pelos seus interesses. Até aí, jogo jogado, pois a seguradora sustenta que seu direito é melhor que o delas e, se não estão satisfeitas, recorram à Justiça. Elas informam que pretendem fazer exatamente isso, até porque o caso foi enriquecido por uma curiosidade: dois militares mortos tinham apólices individuais das seguradoras do Itaú e da Amil. Nenhuma das duas opera dentro de quartéis, nem associa seu nome ao Exército. Ambas entenderam que seus clientes tiveram morte acidental, pagaram o que julgaram devido e não há queixas em relação a elas.
No governo do companheiro Obama, nada disso aconteceria, porque nenhum presidente dos Estados Unidos é maluco a ponto de permitir que se vendam ilusões financeiras em quartéis. Uma das coisas que melhor funcionam na burocracia americana é o seu Departamento de Veteranos, que não se mete com seguradoras privadas.